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Vulnerável VI

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Em Novembro não se encontra muita gente na praia. O Estoril apresenta-se estranhamente calmo, com poucas pessoas. O céu está cinzento, mas não parece que vá chover. O vento é capaz de gelar as orelhas, mesmo assim, arriscamo-nos a ir para a areia. Esta é uma das raras vezes em que ele usa uma roupa de civil.  Deixou-me surpresa quando me acordou a meio da manhã e disse que era bom sairmos de casa. Ainda mais surpreendida fiquei quando vi as horas, passava das onze da manhã e vi-o descontraído. Afinal, era verdade, pelo menos o telefone não tinha tocado, ele estava mesmo fora da unidade hoje. Ainda pensei que isso mudasse até sairmos de casa e o toque de telefone desse o sinal de que teríamos de adiar o que quer que fôssemos fazer. Mas, ao contrário de todas as expectativas, o telefone não tocou. O seu blusão castanho quase que o faz passar despercebido, no entanto, aos meus olhos, ele mantém uma feição inconfundível. Fixado no mar, o seu olhar está perdido e pergunto-me no que esta...

Vulnerável V

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A sua respiração junto ao meu corpo faz-me ganhar alguma consciência. Levo a minha mão ao seu cabelo e por aí passeio os meus dedos. O seus lábios junto à minha pele deixam alguns beijos, o que me acorda do meu torpor. - É melhor vestires-te. Não vá alguém entrar. Ele acena ao de leve. - Não devíamos ter feito isto aqui - a sua voz baixa desperta-me ainda mais os sentidos. Ele tem toda a razão. - Pois não... Ele ergue-se e veste as calças, procurando depois pelo seu casaco. Ganho forças para me sentar na mesa e descer à procura da minha roupa no chão. Vestimo-nos em silêncio. Enquanto me volto a sentar na beira da secretária, vejo-o a pegar nos papéis que tinha trazido. Ele coloca-os junto a mim. Olhamo-nos por um momento e abraço-o. Ele corresponde, deixando-me segura daquilo que tínhamos feito. - Apenas tive os pesadelos contigo. Nem quando estou sozinho, eu os tenho - fecho os meus olhos - isso deixou-me um bocado maluco e não soube... não sei bem lidar com isto. - Não os tens com o...

"Foi Tudo Mentira"

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 "Foi tudo Mentira". Às vezes ouvia a minha tia dizer estas palavras... Normalmente, era quando pensava que estava sozinha e eu chegava à cozinha. Quando era miúdo não compreendia bem o porquê de ela dizer isto. Saí-lhe sempre num tom baixo, como se estivesse a falar para si própria, a dar um recado a si mesma. Bem lhe perguntava o que ela estava a dizer, mas no seu doce sorriso ela nunca me respondia... Agora que penso nisso, percebo como ela mudava constantemente de assunto. Sempre adorei a minha tia. Sempre foi muito doce comigo e tinha uma bonita gargalhada. Sei que tomou conta de mim e incutiu-me esta vontade de não olhar só para aquilo que ou queria ou sentia, mas também para os outros. Talvez seja por isso que lhe fui percebendo o seu olhar triste. O olhar de quem perdeu algo. Por vezes, assomava-lhe uma tristeza que me deixava paralisado. Ela disfarçava sempre. Nunca a vi chorar sem ser num filme ou se tivesse lido algo bonito. Mas eu conseguia ver como a tristeza a a...

Catarse

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Gostava mesmo que fôssemos dois atores numa peça de teatro. Em cima do palco, não precisaríamos de qualquer público, nós os dois seriamos suficientes para este espetáculo. Virados um para o outro, com o olhar um no outro, tal como deve ser o confronto entre duas personagens. Há uma altura em que os protagonistas da história se confrontam, não é? Um confronto de palavras, de gestos, de posturas, de silêncios. Um confronto de silêncios... Consegues imaginar como gostaria de representar isso contigo? Claro que não. Agora, imaginas lá tu que eu sequer existo ou que ainda penso em ti. Nós os dois, na penumbra do palco, tu perto de mim, eu perto de ti, apenas a olhar-nos em silêncio. Primeiro, hirtos, depois, ao de leve, moveríamos a cabeça, o meu olhar triste falaria muito mais do que o teu olhar surpreso poderia aguentar. No tempo que considerássemos suficiente, o silêncio terminaria. E eu perguntar-te-ia: não tens qualquer apreço por mim, pois não? Ali, no palco, com apenas os deuses da ...

Carta a Ti II

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Tenho pensado muito em ti. Ou, melhor, voltei a pensar muito em ti. É por isso que te escrevo. Tens estado comigo, nos meus pensamentos, mais do que é habitual. Espero que nada se tenha passado. Oh! Mas, o que poderia ter acontecido? Tu estás bem, na vida que escolheste, sem qualquer resquício do que fomos. Talvez se tivesses um qualquer grão de pó daquilo que nos aconteceu não estivesses tão bem. Como se nada se tivesse passado. É muito melhor assim. É assim que sempre foi, que sempre será. Não haverá uma qualquer surpresa de que voltes, de que me pegues na mão e me faças sentir-te como eu nunca senti. Eu sei que não... Escrevo isto como... É uma alternativa da minha imaginação àquilo que eu vivo. Àquilo que tu vives. Sabes, eu gosto muito de imaginar alternativas. Por vezes, enquanto construo uma outra vida com a minha imaginação é muito apaziguador. Com a minha imaginação eu consigo ver-me num outro local, a fazer outras coisas, com outras pessoas... contigo. Quando aparecias eu apa...

Foges de Quê?

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Foges de quê? Gostava tanto de poder perguntar-to. Assim. De forma simples e direta. A olhar-te nos olhos, sem desviar a cabeça, centrada em todos, em cada mínimo detalhe da tua face. Foges de quê? Foi algo que te fizeram? Ou foi algo que tu fizeste? Não te conseguiste perdoar? Arrependeste-te? Ou não? Tens vergonha de o admitir? O que é que dizes a ti próprio todos os dias? Ou não dizes nada? Não sei bem se faço estas perguntas por ter esperança de que as tuas respostas me dessem alguma tranquilidade. Sim, talvez essas respostas me dessem algum entendimento daquele momento. Daquele milionésimo de segundo. Daquela conversa pensada. Daquelas tuas palavras, cada uma delas ensaiada. Mas, além disso, apercebo-me de que gostava que me dissesses do que é que foges, porque eu quero saber. Genuinamente, eu quero satisfazer a minha curiosidade. Quero mesmo saber quais as razões que explicam essa tua bipolaridade de ação. Não é possível um só ser humano conter tanta contradição: sedutor, manipul...

Mataste-me

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Mataste-me com a tua bonita mão, Que pegou no meu coração  E levaste-o com um puxão. Enquanto com os teus dedos o apertavas, Ele na tua mão sangrava E com pena me olhavas. Afastaste-te e contigo o levaste. Hirta e vazia me deixaste, o que me trazia vida tu arrancaste. Fui cedendo. Primeiro uma perna, Depois outra. Acreditei que ainda virias, Que o meu coração restituirias. Manti-me de joelhos. À espera. O braço deu de si. Para que querias o meu coração? O outro braço também descaiu. Deixei-me cair no chão. Que faço eu agora sem o meu coração? Com o peito aberto, Com as vísceras a descoberto, Com uma dor sem comparação. Que faço eu agora com o vazio no meu peito? Com as veias decadentes, Não mais com fogo ardente, Sem amparar este despeito. Porque me mataste? Porque deixaram que ele me matasse? Deus… Como estou cansada. Roubaste-me o coração. Não tenho forças para o ir buscar. Jazo neste chão, Ainda à espera que me vás procurar. Desejo ver-te  Para que me digas onde o meu coraç...

Tenho Saudades Tuas

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Tenho saudades tuas. Das tuas palavras cruas. Das tuas mãos nuas. Tenho saudades de te ouvir. De te cobrir. De te sorrir. Tenho saudades de te falar. De te fazer suspirar. De me fazeres levitar. Tenho saudades da tua voz. Da tua teimosia atroz. Da tua paixão feroz. Tenho saudades de te tocar. Da tua face acariciar. Do teu cheiro me impregnar. Tenho saudades da tua doçura. Da tua frescura. Da tua loucura. Tenho saudades de te fazer rir. De te descobrir. Da tua luz me cobrir. Tenho saudades de te sentir. De me iludir. De me confundir. Tenho saudades da tua leveza. Da tua fraqueza. Da tua ímpar subtileza.  Tenho saudades de te amparar. De na tua mão agarrar. De a ti me dar. Pintura: "Missing Her Beloved" de Abbey Altson

Falta de Ti

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Tenho uma falta de ti que me corrompe  e no meu coração irrompe. Tenho uma falta de ti, Não a consigo descrever Não encontro as palavras para a escrever. Tenho uma falta de ti, uma tristeza profunda o meu corpo inunda. Tenho uma falta de ti Que não consigo compreender Muito menos esquecer. Sinto uma falta de ti Que não consigo conceber Nem encobrir ou esconder. Sinto uma falta de ti que me abalroa, destrói e na cabeça ecoa. Sinto uma falta de ti, de cabeça atordoada de alma magoada. Sinto uma falta de ti Aos outros inexplicável para mim inimaginável. Sinto uma falta de ti que ao meu ser afaga e que devagar me esmaga. a dor de não te ter e a mágoa de não te ver ressoam no meu ser no meu canto o corpo a encolher como se do mundo me quisesse proteger perdida, a descer por um muro que não me deixa vencer, cansada de tanto fazer para a falta de ti deixar de ter. -- Imagem:  "La Scapigliata" de Leonardo da Vinci

Carta a Ti

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Tenho pensado muito em ti. Não te consigo dizer porquê, mas a tua imagem tem estado muito presente. Não é que não o esteja noutras alturas. Mas, ultimamente, é como se teimasses em aparecer sistematicamente. Às vezes é inesperado outras vezes nem tanto. Principalmente, quando, por mero acaso, toca aquela canção... Ou quando te fazem referência sem eu perguntar, sabes?  Oh, como poderás sabes, tu já nem sabes que eu existo. E ainda bem. Convivo bem com isso. Tenho muita pena de mim mesma por não me conseguir despegar assim de ti, para mim foi sempre mais profundo, mesmo sem eu própria me dar conta disso. Também estás na minha imaginação, sabes? Para mim, a imaginação sempre foi o meu refúgio. É tão bom poder fechar os olhos e criar a nossa realidade, onde se é feliz. É mesmo bom, sabias? Mesmo que seja por um pouquinho de tempo, por vezes, é um descanso... Diria mesmo que é um alívio. Se pudesse vivia a imaginar. É uma tolice, mas a minha imaginação é tão mais bela e cheia de vida d...

A Menina à Janela

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Tinha acabado de chover quando passei pela mesma rua que me faz recordar-te e pela qual ando tantas vezes. Num dos prédios cinzentos, no rés do chão estava uma menina, encostada ao parapeito da janela, que olhava em frente. Talvez estivesse a contemplar os montes de folhas caídas junto aos carros ou as inúmeras poças de água que se formaram naquela estrada de alcatrão esburacado. Não sei o que a menina estava a ver, mas, automaticamente, fiquei com a sua imagem na cabeça. Antes, quando via crianças não pensava em nada de especial, apenas que a sua ingenuidade era engraçada e que era preciso dar-lhes educação e conhecimento. Hoje, penso sempre "Deus queira que seja feliz". A felicidade é subjetiva, bem sei. O que a mim me pode fazer feliz não é o mesmo para o outro. No entanto, eu sei que há um sentimento que é capaz de ser transversal a todos no que toca à felicidade. O amor.  Quando eu era uma menina ouvia sempre em casa os mais velhos a dizerem uns aos outros: "o impor...

Volta

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Volta. Prometo que se voltares, Nada te direi. Perdida nestes tristes ares, Apenas de esperarei. Nestes tristes ares, Como as ruas escuras, Longe dos teus mares, Vazios das tuas loucuras. Volta. Prometo que não te questionarei, Mesmo que queira saber por onde andaste. Prometo que não te incomodarei, Mesmo que queira saber porque tanto te demoraste. Apenas te irei acomodar No meu abraço E a tua cabeça segurar No meu regaço. Volta. A saudade que teima em não me deixar Mostra-me que tu aqui continuas, Tal como uma pequena lufada de ar A desejar que me iludas. Engana-me como daquela vez, Onde me fizeste acreditar que tudo valia a pena Onde te vivi com avidez Onde eu vivi de forma plena. Volta. Sou egoísta, bem sei que melhor estás sem mim Vejo-te a voar, nunca sozinho E é bom olhar-te assim A andar firme no teu caminho. Mas, Acredita em mim, por favor! Não existe rancor. Amar-te-ei com o mesmo fervor Com que o meu peito hoje se enche de dor. -- Imagem: "Amor e Ódio" de Edvard Mu...

A Fuga à Minha Sina

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Da pequena janela vejo aquilo que é a vida normal. Pessoas que chegam, pessoas que partem, pessoas que se abraçam, pessoas sozinhas que olham para o horizonte, como se isso lhes permitissem chegar mais rápido a onde é suposto.  Hoje tive saudades tuas. Ui. Sim, tive mesmo saudades tuas. Daquelas que nos apertam o coração e que nos fazem descer da nossa habitual pálida e gélida postura. Hoje tive mesmo saudades tuas. É avassalador dar-me conta disso. De sentir saudades tuas. Pela primeira vez, em tanto tempo, percebo como sinto falta daquilo que me davas: desse entusiasmo, por vezes assoberbado, mas que me dava a sensação de ter a vida nas minhas mãos. Também tenho saudades de me sentir assim, mas essas saudades já eu tinha descoberto há algum tempo.  Agora, estas saudades de ti... foi hoje. Sem nenhum motivo aparente, que me fizesse lembrar-te eu senti tanto a tua falta. Senti falta de ouvir a tua voz. A tua voz que me surpreendia sempre, nunca esperava que a fosse ouvir novam...

Fatalidade

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Vim dizer que te amo. Sim, admito. Eu amo-te. Demorei todo este tempo para aceitá-lo porque me pareceu tão impossível, sabes? Como é que te poderia amar? A ti, que me roubaste a vida e a levaste contigo, mesmo sem o saberes? É precisamente por me teres despojado do pouco que eu tinha em mim que eu sei... Agora, eu sei, que te amo. Não lerás estas linhas. Deus... Por onde andarás nessa tua vida da qual já não faço parte, ou melhor, da qual eu nunca fiz parte? Seguro do teu futuro, cheio de responsabilidades, mas a sorrir, não é? Imagino-te sempre a sorrir. Mesmo que as últimas palavras que tenhamos trocado tenham sido tão dolorosas, assim que fecho os olhos e te vejo estás sempre a sorrir. E é bom, é apaziguador. Aquele primeiro segundo na minha imaginação apazigua tudo. Tal como quando nos encontrámos. Foi tudo um bonito sonho, creio que até já o escrevi aqui. Estou a repetir-me. Mas, esse meu sonho foi tão bonito e tão estonteante que eu agarrei-me a ele com unhas e dentes, com a cren...

Podias ter-me dito, sabes?

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Podias ter-me dito, sabes? Seria tão mais fácil se mo tivesses dito. Se me tivesses explicado o porquê de me arrancares de ti, assim, sem dó nem piedade. Pensaste que eu não o poderia compreender? Como?! Como podias pensar isso? Julguei que te tinha demonstrado de todas as vezes que me acolheste que, também eu, te acolhia no meu abraço e no meu corpo.  Fui eu, apenas e só eu, que sentiu isso? Só eu é que senti essa partilha sincera e sem refúgios, não foi? Era uma partilha pura onde eu tinha a certeza de que iria compreender tudo aquilo que me quisesses dizer. Até com o teu silêncio... Até com o teu silêncio eu conseguia ouvir-te, sabias? Mesmo quando nada me dizias, por dias, semanas, meses, eu conseguia compreender o que me estavas a dizer, como se uma qualquer força sobrenatural me tivesse dado um qualquer poder para compreender todos os teus sinais, mínimos e microscópicos sinais. Chegados aqui, parece que afinal este super poder nunca existiu, não é assim? Se tivesse existido ...

Quando me Visitas nos Meus Sonhos

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Hoje vi-te nos meus sonhos. Gosto de pensar que me vieste visitar nos meus sonhos. Será que também te visitei nos teus? Não sei. Às vezes, é apaziguador pensar que sim.  Eu via-te não nitidamente, sabes? Assim como se fosses real, conseguia mesmo decifrar todos os traços do teu rosto, sentir o teu cabelo nas minhas mãos, perder-me na profundeza do teu olhar. Quando te vi nos meus sonhos foi tão natural... Foi como se fosse a coisa mais normal do mundo, ter-te ali, à minha frente, poder admirar a tua postura e seguir todas as tuas expressões na esperança de me embalares em mais um dos teus sorrisos. Como foi bom que me tivesses vindo visitar. Normalmente, ninguém me visita nos meus sonhos. Normalmente, nem o meu inconsciente se digna a manifestar a sua presença. Não sonho. Ou, pelo menos, não me lembro do que sonho. Dizem que sonhamos sempre, mas que nem sempre nos lembramos. Penso que... Dou por mim a pensar se... Será que me mesmo não me lembrando eu costumo sonhar contigo? Será q...

Carta ao Final da Noite

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De todo o meu coração que gostava de te ver. Acredita que é verdade. Gostava tanto de te ver. Eu poderia ficar escondida, atrás de um cortina qualquer, numa sala qualquer, em qualquer sítio do mundo. E ficar-te-ia a ver, assim, ao de longe, escondida. Como sempre estive: escondida. Creio que a única vez em que não estive escondida foi quando me viste. Está descansado, eu agora sei que não me viste por descortinares em mim algo de peculiar, que te despertou a atenção ou atraiu. Eu sei que não, está descansado. Bem sei que me olhaste como se tivesses olhado uma outra mulher qualquer. Eu sei que não tenho nada de único que faça alguém olhar. De qualquer das formas, e mesmo para ti não sendo nada de especial, e sabendo que me olhaste como se estivesses a ver uma qualquer outra coisa útil, de que precisavas naquele momento, ainda assim, quando me viste foi a única vez em que deixei de estar escondida. E, depois... Tudo o resto. Esses foram os únicos momentos em que não me escondi. Tudo o qu...

Carta ao Final do Dia

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Hoje queria dizer-te que fiz uma coisa boa. Ajudei alguém e sei que ele está melhor agora. Está feliz. É boa esta sensação com que se fica depois de ajudarmos alguém, não é? Gostava muito de poder partilhá-la contigo e contar-te esta história. Tenho a certeza de que irias sorrir e irias dizer qualquer coisa do género: "só tu" . Eu ficaria ainda mais contante por poder partilhar contigo o resultado do meu gesto e sentiria que não podia estar mais centrada no meu presente. Sabes, hoje queria dizer-te que também me irritei. Irritei-me com a mentira, com o encobrimento da verdade, com a falsidade. Apesar da minha irritação, fui capaz de dizer a verdade, de a mostrar, de a mandar cá para fora. Fui capaz de a escarrapachar, sem medos. Apenas e só porque é aquilo que devo fazer, independentemente das suas consequências. Sei que ficarias preocupado e, talvez, a tua primeira reação fosse tentar fazer com que eu parasse de querer dizer a verdade. "Não vale a pena colocares-te em p...

Uma Luz que se Apagou

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(Marta entra em palco. Olha em frente, para a cama, com as mãos entrelaçadas, atenta a tudo o que vê. Depois, olha para o seu lado direito, onde está uma estante. Caminha até ela e passa os seus dedos, levemente, pelas prateleiras, verificando se tudo está no mesmo lugar. Rodopia e caminha até à mesinha de cabeceira. Coloca a mão no candeeiro, ajeitando-o. Vira para a frente uma moldura sem fotografia e acena. Marta continua a andar até ao toucador, do lado oposto à estante. Marta pára em frente ao espelho e inclina-se. Fixa os olhos no seu reflexo. Ela pega na sua trança comprida e admira-a, por um breve momento). Marta: Está, exactamente, como antes. Exactamente, com o mesmo comprimento. (Marta passa as mãos pela sua trança). Exactamente, igual aquando da… (ela cala-se e pega na ponta da trança) Aquando da sua chegada. (Marta olha para a plateia). Como tenho saudades… Como ainda sonho… Ainda sonho que o vou encontrar. Eu sonho que o vou voltar a ver e ele estará igual. Exactamente ig...