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A mostrar mensagens de 2018

Ultrapassar o Limite

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Pensamos sempre que há um limite que não vamos ultrapassar... Que nunca iremos fazer aquilo... Que nunca iremos por aquele caminho. Acreditamos sempre que não admitiremos que ninguém nos obrigue a passar por cima de determinadas linhas. Não. "Há certas coisas que nunca permitirei". "O respeito por mim acima de tudo". Eventualmente, a vida vai mostrar-nos o contrário. Eventualmente, vamos "bater de frente" com a realidade e perceber que as nossas escolhas têm consequências. Que valores mais altos se levantam (e podem ser bons valores) e que é por eles que nos devemos seguir. A injustiça não é sinónimo de vergonha. Ou seja, não é por nos sentirmos injustiçados que devemos ter vergonha disso. Não. Não temos de ter vergonha se actos de terceiros nos infligem essa injustiça. Devemos ter, sim, vergonha de não a poder denunciar. Quão grande poderá ser essa vergonha? A vergonha de saber que erraram connosco e de não podermos falar sobre esse erro. D

Quando Somos Menos Um

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São demasiadas as vezes em que nos cresce o ego. Por pensarmos que não valemos nada, caímos no erro de pensar que somos melhor do que os outros... Como se a certeza de que somos uma nulidade nos desse automaticamente a certeza de que somos melhores do que os outros, tendo comportamentos diferentes e distintos. Mas não é assim. Podemos ser um zero, mas não nos podemos esquecer que nos podemos tornar num menos um. É claro que o que também nos define é a forma como lidamos com o facto de tomarmos uma atitude de menos um. Ficamos a pensar nisso? Esquecemo-nos? Não lhe damos importância? Se tomarmos uma atitude de menos um e não pararmos para refletir, algo está mal. Se, por outro lado, sentimos remorsos, não conseguimos esquecer e nem sequer nos sentirmos dignos das boas coisas que nos acontecem... Então talvez não estejamos perdidos. É aquele confronto com a realidade de que naquele momento ou naquela hora nos tornámos iguais àqueles que na nossa cabeça são os porcos, feios e maus, que no

A Mulher que Não Sonhava

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- Porque é que estás sempre com ele? - pergunto, olhando para o fio que ele traz no seu pescoço. Sem deixar de olhar para mim, ele sorri. - Porque é que queres saber? Encolho o ombro de forma quase imperceptível. - Gostava de saber tudo de ti. O azul dos seus olhos parece tão claro, quase como se conseguisse ver o meu reflexo. - Achas que não sabes? Fecho os olhos e sorrio levemente. Ele e a sua mania de me responder de forma tão vaga. Sinto um arrepio e estremeço. Viro a minha cabeça para o outro lado e abro os olhos. Olho para o chão e ali está ela. Ali está ela, à beira da cama, deixada ao acaso, como se ali estivesse porque o seu propósito estava já traçado desde o início. Deitada na cama, estico o meu braço e pego na camisa de flanela. Antes de a vestir, cheiro-a. Tem o cheiro dele, o mesmo que está impregnado na minha pele. Roço os meus lábios naquele tecido quente, ao mesmo tempo que sinto a barba dele no meu ombro, deixando os seus lábios viajar ao de l

No Fim

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Sinto que as forças me fogem. Sinto que elas me deixam aqui a morrer sozinha. Até as minhas forças me deixam sozinha, caída no soalho da casa. Olho para o tecto branco que, agora, será a minha última visão antes que o meu coração deixe de bater. Melhor, antes que deixe de ter forças para respirar. Na verdade, há muito que o meu coração já não bate. Para onde vão elas? Para onde vão as minhas forças? Vão entregar-se, assim, a alguém? Como se esse alguém fosse mais valioso do que eu? Eu sei bem que nada valho. Sim. Eu não valho nada. Nada. Nem o ar que respiro ou a terra que piso. Eu não valho nada. O tempo para eu valer algo já passou. E esse sacana do tempo não volta atrás. Não. Ele passa e não volta. Nada há quem me demonstre que eu tenho valor.  Terá sido por isso que elas se foram? Que as minhas forças me deixaram assim, devagar. Não foi de rompante. Não. Estas coisas nunca acontecem do dia para a noite. Elas vão acontecendo. Devagarinho, devagarinho, até que todas e

Simplesmente Dispensáveis?

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A ansiedade é tramada. Ainda noutro dia falava disso com uma pessoa amiga. Talvez esse seja até um dos maiores problemas emocionais e psicológicos deste século. É a vida sempre a correr, o stress, a vontade em chegar sempre primeiro, a vontade de fazer tudo bem, a esperança de conseguir algo... O pior é que a ansiedade pode estar em qualquer aspecto da nossa vida, ou em qualquer situação. Ligada à ansiedade, encontramos, então, a expectativa e a obsessão. Às vezes é essa obsessão que nos faz ser bons naquilo com que nos comprometemos. Esperamos atingir objectivos, obter uma recompensa ou simplesmente somos empenhados para nossa satisfação pessoal.  É estranho quando com o nosso esforço não conseguimos nada disto. Nem recompensas, nem satisfação pessoal, nem reconhecimento, nem nada.  Mesmo não tendo nada continuamos a sentir essa ansiedade. Essa ansiedade que nos tira o sono, mesmo que, conscientemente, pensemos que nada nos afecta. A mente humana é realmente uma surpres

Leva-me Daqui

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Admiro-te ao longe. Quem por ti passa, nem tem a audácia de perceber como és distinto. O teu olhar meio confuso, de criança desconfiada, como se estivesse perdido no mundo, faz com que qualquer um que passe por ti nem se dá conta de como és belo. É esse semblante de quem não sabe o que está a fazer que te torna tão especial. E único. Estás com as mãos no bolsos, camisa meio desbotada, olhando de um lado para o outro. Sorrio. Poderia ficar a olhar-te nesse teu desconforto por estares à espera, como eu sei que detestas estar à espera, todo o dia. Assim que, finalmente, dou o primeiro passo até ti, tu encontras-me. Finalmente sorris, deixando de lado o sobrolho franzido. Parece que ganhas anos de vida, deixando de mostrar aquela expressão de preocupação. Sinto um pouco de culpa por estares assim. Não deverias estar assim, muito menos por mim. De repente, aquele medo irracional que sempre me paralisa está de volta. Aquele medo de um dia me tornar um peso. Um peso demasia

Confissões

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- Às vezes pensamos que somos tudo, mas não somos nada. Sentada do seu lado, dou-lhe a minha mão. Não gosto de ver a minha tia assim. Nunca gostei. Na realidade nunca percebi o porquê daquele assombro nos seus olhos, que me faz crer que ela nunca foi verdadeiramente feliz. - Porque dizes isso? Ela sorri. Aquele sorriso condescendente, nostálgico, de quem chora por dentro, mas que sorri por fora. - Hum… Sabes uma coisa? Quando eu era mais nova, durante muito tempo pensei que tinha tudo de bom. Coloquei-me no alto. Como se fosse a mais correta, a sensata de todo o mundo… pensei que por ter valores e os ter como guias na minha vida que isso me fazia uma óptima pessoa. Uma pessoa que os outros quereriam amar e assim tudo ficaria bem. Eu seria feliz. Muitas vezes pensei que o homem que ficasse comigo seria abençoado. Não poderia existir melhor do que eu. O que poderia ser mais atraente para um homem do que uma mulher com a cabeça e o coração nos sítios certos? Ela

A Imaginação Interrompida pela Realidade

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Caminho sob o sol quente, que me trespassa a pele. Penso que nunca mais chego ao meu destino. Tudo é tão triste e tão cansativo que eu sei que já desisti de ser alguma coisa. Apenas pretendo sobreviver o mais confortavelmente que conseguir. Já não tenho vontade de acelerar o passo, seja para o que for. Nada é assim tão importante que me faça correr - por isso, caminho ao meu ritmo, com a certeza de que vou chegar a horas. Se não chegar qual é o problema? E, de repente, oiço aquela melodia. Aqueles acordes inconfundíveis... Daquela canção. Abrando o passo e tento concentrar-me para ouvir ainda melhor. Sim, é aquela canção. Tenho a tentação de parar e neste mesmo sítio ficar a ouvir aquela canção. Como eu gosto de saborear aqueles acordes que me fazem recordar de como era bom ser feliz. Finalmente, percebo que a música vem de um café. Aproximo-me e finjo que estou a ler as sugestões no quadro exposto cá fora. Apenas quero ficar ali a ouvir aquela voz. Quando a música termina, volto

O Lúcido Tresloucado

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- Às vezes gostava de ter a habilidade de falar sem palavras, sabes? De dizer tudo aquilo que sinto, assim, livremente e sem ter medo de nada e de ninguém. - Medo? Medo de quê? Medo de quem? Com ar de quem tenta dizer algo com sentido, ele confessa. - Medo deles. Deles e de toda a gente que me rodeia. Às vezes sinto-me a sufocar. Sinto que não cresci o suficiente para lidar com a vida. Estou cansado de lidar com a vida. Cansado de lutar por viver... Sabes o que isso é? Franzo o sobrolho. Não faço ideia do que seja isso. - Não entendo. Ela suspira. - Não sou homem suficiente para ser ultrapassado e não me importar com isso. - Se és ultrapassado tens de fazer alguma coisa para não o seres. - Eu faço de tudo para não o ser. Mas os outros não se importam. Esses tais de que tenho medo. Eles não se importam. Acham que eu sou um lixo. Nada do que faço interessa. Nada do que faço é bom o suficiente para eles. Sou sempre posto de lado, como um caroço de uma maçã que já não pr

Porto de Abrigo

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Andamos constantemente à procura daquilo que não temos. Se não nos entusiasmamos, buscamos incessantemente algo que nos devolva esse entusiasmo. Se nos sentimos sozinhos, procuramos algo ou alguém que torne essa solidão suportável. Se nos sentimos mal, tentamos encontrar qualquer pretexto para que nos sintamos bem. Se estamos descontentes com o que temos, corremos atrás daquilo que pensamos que nos falta. Simplesmente, não conseguimos parar. É quase como um ciclo vicioso em que nos habituamos a um ritmo alucinante da procura. Muitas vezes, apenas temos essa ilusão de que nos falta algo, por aquilo que nos impõem, pelas realidades distorcidas que outros impregnam em nós, pelas exigências estúpidas que nos fazem e que, depois, fazemos a nós próprios. Sempre com aquela ideia de que temos de ter ser, de ter, de viver... Ser. Ter. Viver. Porque não podemos, apenas, parar perante aquilo que temos e apreciá-lo? Apreciar os bons momentos que vivemos, as pessoas que nos fazem felizes, a criação