Mensagens

A mostrar mensagens de 2022

Catarse

Imagem
Gostava mesmo que fôssemos dois atores numa peça de teatro. Em cima do palco, não precisaríamos de qualquer público, nós os dois seriamos suficientes para este espetáculo. Virados um para o outro, com o olhar um no outro, tal como deve ser o confronto entre duas personagens. Há uma altura em que os protagonistas da história se confrontam, não é? Um confronto de palavras, de gestos, de posturas, de silêncios. Um confronto de silêncios... Consegues imaginar como gostaria de representar isso contigo? Claro que não. Agora, imaginas lá tu que eu sequer existo ou que ainda penso em ti. Nós os dois, na penumbra do palco, tu perto de mim, eu perto de ti, apenas a olhar-nos em silêncio. Primeiro, hirtos, depois, ao de leve, moveríamos a cabeça, o meu olhar triste falaria muito mais do que o teu olhar surpreso poderia aguentar. No tempo que considerássemos suficiente, o silêncio terminaria. E eu perguntar-te-ia: não tens qualquer apreço por mim, pois não? Ali, no palco, com apenas os deuses da

Carta a Ti II

Imagem
Tenho pensado muito em ti. Ou, melhor, voltei a pensar muito em ti. É por isso que te escrevo. Tens estado comigo, nos meus pensamentos, mais do que é habitual. Espero que nada se tenha passado. Oh! Mas, o que poderia ter acontecido? Tu estás bem, na vida que escolheste, sem qualquer resquício do que fomos. Talvez se tivesses um qualquer grão de pó daquilo que nos aconteceu não estivesses tão bem. Como se nada se tivesse passado. É muito melhor assim. É assim que sempre foi, que sempre será. Não haverá uma qualquer surpresa de que voltes, de que me pegues na mão e me faças sentir-te como eu nunca senti. Eu sei que não... Escrevo isto como... É uma alternativa da minha imaginação àquilo que eu vivo. Àquilo que tu vives. Sabes, eu gosto muito de imaginar alternativas. Por vezes, enquanto construo uma outra vida com a minha imaginação é muito apaziguador. Com a minha imaginação eu consigo ver-me num outro local, a fazer outras coisas, com outras pessoas... contigo. Quando aparecias eu apa

Foges de Quê?

Imagem
Foges de quê? Gostava tanto de poder perguntar-to. Assim. De forma simples e direta. A olhar-te nos olhos, sem desviar a cabeça, centrada em todos, em cada mínimo detalhe da tua face. Foges de quê? Foi algo que te fizeram? Ou foi algo que tu fizeste? Não te conseguiste perdoar? Arrependeste-te? Ou não? Tens vergonha de o admitir? O que é que dizes a ti próprio todos os dias? Ou não dizes nada? Não sei bem se faço estas perguntas por ter esperança de que as tuas respostas me dessem alguma tranquilidade. Sim, talvez essas respostas me dessem algum entendimento daquele momento. Daquele milionésimo de segundo. Daquela conversa pensada. Daquelas tuas palavras, cada uma delas ensaiada. Mas, além disso, apercebo-me de que gostava que me dissesses do que é que foges, porque eu quero saber. Genuinamente, eu quero satisfazer a minha curiosidade. Quero mesmo saber quais as razões que explicam essa tua bipolaridade de ação. Não é possível um só ser humano conter tanta contradição: sedutor, manipul

Mataste-me

Imagem
Mataste-me com a tua bonita mão, Que pegou no meu coração  E levaste-o com um puxão. Enquanto com os teus dedos o apertavas, Ele na tua mão sangrava E com pena me olhavas. Afastaste-te e contigo o levaste. Hirta e vazia me deixaste, o que me trazia vida tu arrancaste. Fui cedendo. Primeiro uma perna, Depois outra. Acreditei que ainda virias, Que o meu coração restituirias. Manti-me de joelhos. À espera. O braço deu de si. Para que querias o meu coração? O outro braço também descaiu. Deixei-me cair no chão. Que faço eu agora sem o meu coração? Com o peito aberto, Com as vísceras a descoberto, Com uma dor sem comparação. Que faço eu agora com o vazio no meu peito? Com as veias decadentes, Não mais com fogo ardente, Sem amparar este despeito. Porque me mataste? Porque deixaram que ele me matasse? Deus… Como estou cansada. Roubaste-me o coração. Não tenho forças para o ir buscar. Jazo neste chão, Ainda à espera que me vás procurar. Desejo ver-te  Para que me digas onde o meu coração encont

A Riqueza da Ilusão

Imagem
Dizem que damos importância ao que temos quando o perdemos. É capaz de não estar longe da verdade. Ultimamente, tenho pensado muito na importância de andar iludida. A tomada de consciência do engano é que nos tira a ilusão. Ou não? Pensemos, a ilusão não significa que não saibamos a nossa verdade. Como diz o dicionário, a ilusão é uma "esperança irrealizável". É uma ideia que temos que não se vai concretizar. Ou seja, viver na ilusão não quer dizer que não se saiba o que é a nossa realidade. Sabe-se, mas conseguimos ter esta capacidade de imaginarmos algo de diferente, com uma esperança que sabemos que não se concretizará. Parece um paradoxo, mas creio que possa ser essa a melhor definição de ilusão. E isso é essencial quando não se quer viver a realidade, porque não há uma identificação ou nem sequer a queremos. É como se conseguíssemos viver com esperança no sonho que está na nossa cabeça. Isso é bom. Acreditem que é apaziguador. Viver-se iludido com alguma coisa é óptimo.

A Caminho de Casa

Imagem
Começo a andar rumo a casa e sinto o leve vento que me adorna a face e distrai, fazendo com que não desista do meu caminho. Subitamente, uma ideia vem-me à cabeça, não sei bem porquê. As pessoas estão cansadas. Noto isso todos os dias. As pessoas têm um ar cansado, farto, saturado. Pelo menos a maior parte das pessoas com quem cruzo deixam-me esta razão. Tal como eu, concerteza. Não sou diferente da maioria das pessoas. Também eu me sinto cansada e por mais tempo que tenha parece que o cansaço está no interior dos meus ossos. Eu vejo o cansaço na face das pessoas, nos seus olhos, nos seus cabelos. No vagar do seu andar. O meu pensamento é interrompido pelo barulho da porta de um carro a bater. Uma mulher sai lá de dentro, a cambalear, enquanto que o carro segue o seu caminho. As prostitutas deambulam por ali àquela hora de fim de tarde. Não sei se estão a regressar, como esta, ou se esperam alguém ou se é, para elas também, o fim de mais um dia. É frequente irem contra os respiradouros

"Nobre Vagabundo"

Imagem
Encher o pulmão. Cantar. "Quanto tempo tenho pra matar essa saudade Meu bem o ciúme é pura vaidade Se tu foges o tempo Logo traz ansiedade Respirar o amor  Aspirando Liberdade" Lembro-me bem que ouvi aquela canção vezes sem conta na casa da vizinha. O disco tocava e tocava na aparelhagem e isso parecia-me excecional. As tardes era muitas vezes passadas com a música a ecoar pelo quarto e com o cd nas mãos. Era espetacular perceber que aquele pequeno objeto tinha tantas canções. E era bom, era alegre, cantava-se, e de que maneira!, e dançava-se. Como se dançava... Primeiro, eu ficava apenas a ver, mas eram raras as vezes em que não dançava. Eu adorava. Naquelas tardes, os sonhos voavam e dava-se larga aos pensamentos, à brincadeira, aos sorrisos... Havia muitos sorrisos, lembro-me bem disso. E isso era bom, era esperançoso. Quando se é pequeno vê-se as coisas a essa dimensão: tudo é bom, quando é bom. Não há meios bons, nem segundos pensamentos. A nossa inocência faz com que s

A Chave do Meu Baú

Imagem
Primeiro, as peças estavam espalhadas. Eu não as conhecia a todas, por isso pensava até que não se encaixavam em mim. Eram muito diferentes do esquema que tinha no meu coração. E, no fim de contas, algumas das tuas peças estavam escondidas. Por ti. Quando quiseste ver se as tuas peças combinavam com o meu esquema, que também eu tinha guardado, bem guardado, eu não te parei. Estava tudo bem. Eu tinha a certeza de que nada iria combinar. Talvez, as tuas peças fossem muito grandes para o meu esquema ou então as suas formas nunca poderiam encaixar, sendo elas quadradas, por exemplo.  Então, abri um pouco o baú que tinha o meu esquema bem guardadinho. Mas, foi mesmo só um bocadinho. Eu tinha a certeza de que tudo aquilo seria inútil. E até achava graça a toda aquela situação inusitada. Que interesse podias ter em querer ver o meu esquema? Nenhum! As nossas diferenças estavam todas bem vincadas. O que eu não contava era considerar-te tão cativante por quereres olhar um pouco para o meu desen

Imaginemos a Mudança

Imagem
Imaginemos se um raio de mudança caísse sobre as nossas cabeças. A realidade da qual nos apropriámos e à qual estejamos já comodamente habituados mudava. Assim, de repente. De um dia para o outro. É certo que todos sabemos o que é a nossa realidade mudar do dia para a noite e, infelizmente, para pior. No entanto, imaginemos que a nossa vida mudava para melhor? Assim, de forma estonteante e sem nos deixar respirar? Ou melhor, a deixar-nos sem fôlego.  Por algum momento pensaram nesta possibilidade? Talvez, se estiverem bem centrados isso não vos passe pela cabeça. Se nos sentirmos bem com aquilo que temos não temos qualquer necessidade de mudança, queremos, sim, manter o que temos, o que por si só pode também ser um grande desafio. Mas... No outro dia, esse pensamento de mudança de vida para melhor passou-me pela cabeça. Foi repentino e chegou sem avisar e, por algum tempo, instalou-se em mim. Meu Deus, como seria se... Se, finalmente, tudo mudasse e para melhor? Como seria se amanhã eu

Boa Sorte, Menina

Imagem
O cansaço das pernas fazia-me andar mais devagar do que devia. Mas, naquela altura do percurso fico sempre cansada e as pernas pesam-me, o que me faz não querer saber se levo mais dez minutos a chegar a casa.  Vejo, no meio da rua, um homem que cambaleia. Bem sei o que é. É fim de tarde, por aquelas ruas há alguns cafés e é mais do que comum que alguns comecem a cambalear pela rua inebriados pelo álcool. Alguns falam alto, outros não dizem nada. Hoje, a rua só o tinha a ele. Parece-me velho, o cabelo é branco, magro e veste um fato, já com a gravata meio solta. Este tipo de coisa já não me surpreende ou amedronta. Assim que me aproximo oiço-o a fazer um barulho estranho, como se estivesse a chamar alguém, mas não era bem um nome, parecia um autêntico grunho. Não liguei nenhuma. Assim que passo por este homem oiço "Boa Sorte, Menina" e outra vez aquele grunho. Nem sequer virei a cara na sua direção. É verdade. Poderia ter-lhe agradecido ou ter feito um simples gesto com a mão

Tenho Saudades Tuas

Imagem
Tenho saudades tuas. Das tuas palavras cruas. Das tuas mãos nuas. Tenho saudades de te ouvir. De te cobrir. De te sorrir. Tenho saudades de te falar. De te fazer suspirar. De me fazeres levitar. Tenho saudades da tua voz. Da tua teimosia atroz. Da tua paixão feroz. Tenho saudades de te tocar. Da tua face acariciar. Do teu cheiro me impregnar. Tenho saudades da tua doçura. Da tua frescura. Da tua loucura. Tenho saudades de te fazer rir. De te descobrir. Da tua luz me cobrir. Tenho saudades de te sentir. De me iludir. De me confundir. Tenho saudades da tua leveza. Da tua fraqueza. Da tua ímpar subtileza.  Tenho saudades de te amparar. De na tua mão agarrar. De a ti me dar. Pintura: "Missing Her Beloved" de Abbey Altson

"A Paixão Pode Aumentar Com o Tempo"

Imagem
A pergunta que tinha saído nas cartas era simples: já se apaixonou? Como foi? Era claro que o propósito era refletir sobre paixão. Um tema que considerei curioso, principalmente porque acompanhava uma sessão de trabalho com seniores. Estavam todos reunidos, em roda, a realizar esta dinâmica.  "A paixão pode aumentar com o tempo". Foi esta a resposta de um dos participantes, com mais de 70 anos, creio. Concerteza que esta foi uma das coisas mais bonitas que ouvi dizer nos últimos meses. No meio desta declaração alguns dos presentes mostraram surpresa no rosto e, pareceu-me, outros quiseram contrapor esta ideia. Mas, o dito senhor explicou. "Quanto mais velhos somos, vamos dando mais atenção a outras coisas e a paixão inicial pode aumentar". Fiquei embevecida a olhar para o senhor. Tive vontade de o puxar para o meu lado e de ficarmos ali os dois para que eu pudesse perceber como é que alguém vê a paixão desta forma tão pura e honesta. E, diria até, idílica.  É mais d

Falta de Ti

Imagem
Tenho uma falta de ti que me corrompe  e no meu coração irrompe. Tenho uma falta de ti, Não a consigo descrever Não encontro as palavras para a escrever. Tenho uma falta de ti, uma tristeza profunda o meu corpo inunda. Tenho uma falta de ti Que não consigo compreender Muito menos esquecer. Sinto uma falta de ti Que não consigo conceber Nem encobrir ou esconder. Sinto uma falta de ti que me abalroa, destrói e na cabeça ecoa. Sinto uma falta de ti, de cabeça atordoada de alma magoada. Sinto uma falta de ti Aos outros inexplicável para mim inimaginável. Sinto uma falta de ti que ao meu ser afaga e que devagar me esmaga. a dor de não te ter e a mágoa de não te ver ressoam no meu ser no meu canto o corpo a encolher como se do mundo me quisesse proteger perdida, a descer por um muro que não me deixa vencer, cansada de tanto fazer para a falta de ti deixar de ter. -- Imagem:  "La Scapigliata" de Leonardo da Vinci

Carta a Ti

Imagem
Tenho pensado muito em ti. Não te consigo dizer porquê, mas a tua imagem tem estado muito presente. Não é que não o esteja noutras alturas. Mas, ultimamente, é como se teimasses em aparecer sistematicamente. Às vezes é inesperado outras vezes nem tanto. Principalmente, quando, por mero acaso, toca aquela canção... Ou quando te fazem referência sem eu perguntar, sabes?  Oh, como poderás sabes, tu já nem sabes que eu existo. E ainda bem. Convivo bem com isso. Tenho muita pena de mim mesma por não me conseguir despegar assim de ti, para mim foi sempre mais profundo, mesmo sem eu própria me dar conta disso. Também estás na minha imaginação, sabes? Para mim, a imaginação sempre foi o meu refúgio. É tão bom poder fechar os olhos e criar a nossa realidade, onde se é feliz. É mesmo bom, sabias? Mesmo que seja por um pouquinho de tempo, por vezes, é um descanso... Diria mesmo que é um alívio. Se pudesse vivia a imaginar. É uma tolice, mas a minha imaginação é tão mais bela e cheia de vida do qu