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A mostrar mensagens de 2020

O Grito

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Grito por ti e por mim. O meu coração grita por nós. Mesmo que tu não o ouças ele está a gritar por ti, sim como ele grita e chora por ti a sós. O meu coração grita neste silêncio ensurdecedor onde tu o colocaste, onde nós o colocámos, no alto e merecedor de tudo o que sonhámos. Mas também ele amarrado na mentira e no despeito, na desgraça aterrado e perdido no sinuoso desajeito. O meu coração grita por nós, esquecido no parapeito ferido e sem voz despegado do teu peito. O meu coração grita por nós, desfeito no embaraço do leito, atroz No vazio do meu regaço. Ouve-o! Ouve como ele grita por ti e por mim, pelo que fomos  e já não somos! Ouve como o meu coração grita por nós! Por aquilo que não me deste, por tudo o que me quiseste! Ouves? Ouves como ele grita e chora por ti? Abraçado a si próprio Longe da razão Que não mais lhe dará a mão. Ouve o seu grito em agonia Afinal, sou eu quem clama cansada de toda esta triste sinfonia. Agarrada ao coração que grita Estou pela memória contorcida

A Minha Avozinha Rosinha

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Nos rigorosos dias do mês de Dezembro, aqueles mesmo próximos do Natal, o frio entrenha-se no ossos. No entanto, creio que nem esse frio húmido, nem o nevoeiro que cai, perto de anoitecer, faz parar qualquer criança. Também fui assim. Mais do que a lembrança de um nevoeiro cerrado, de um frio que tornava a minha cara vermelha e a ponta do nariz gelada, é a liberdade de andar pelos caminhos de que mais me lembro. E a aventura que era estar com a minha avozinha à procura de pinhas. Era, na maioria das vezes, uma procura que dava poucos frutos. Mas, ir com a minha avozinha andar e sempre a espiar a beira da estrada para ver se alguma pinha tinha caído ou irmos junto dos pinheiros à procura desse tesouro, alegrava o dia. E a minha avó sempre com o seu ar doce e o seu sorriso meigo lá ia, à procura também. Sempre muito atenta. A maior parte das vezes, a procura das pinhas servia para a lareira, para atiçar o lume. No entanto, lembro-me que houve uma vez em que vi pinhões e tive-os na minha

Inquietude Constante

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Gostava de te ver entrar por aquela porta. Não com o teu mesmo ar desconstraído, mas com a expressão de quem está preocupado.  Gostava de te ver entrar por aquela porta e de ficar surpreendida. Tão surpreendida que não teria quaisquer palavras que pudesse proferir. Que, finalmente, me fizesses sentir que eu valho alguma coisa... nem que fosse uma coisa mesmo pequenina. Bastar-me-ia. Gostava de te ver entrar por aquela porta e que me deixasses sem chão. Que me deixasses sem chão, como daquela vez.  Queria que me deixasses sem chão, que me deixasses suspensa sem saber o que fazer, perdida por te ver de novo à minha frente como tantas vezes imaginei. Queria que me deixasses sem chão, sentindo cada uma das tuas mãos na minha face, não me deixando cair, como se ficássemos os dois suspensos no ar, num qualquer estado etéreo onde a existência é mais do que fisíca. Queria que me deixasses sem chão para que com o teu simples gesto me mostrasses que se pode levitar, dançar e voar sem nunca assen

Ser ou Estar, Viver ou Sobreviver

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Dizem que o mundo é sempre feito de pares: vida e morte, amor e ódio, o bom e o mau, a alegria e a tristeza. Dizem mais: que o mundo é feito de pares e que cada um dos elementos desses pares só existe porque também existe o seu contraditório. Só há o bem, porque há o mal. Só há o ódio porque existe o amor. Só há a vida porque existe a morte. Só há alegria porque existe a tristeza. Agora entendo, claramente, que da mesma forma que a alegria pode ser um estado permanente, passando a ser ao invés do estar, a tristeza pode existir dessa mesma forma. Ou seja, uma coisa é estar alegre e outra coisa é ser alegre. Uma coisa é estar triste outra é ser triste. Como todos sabemos, uma coisa é ser outra coisa é estar. São dois verbos completamente diferentes, uma simples palavra que muda todo o sentido de uma frase ou de um ser humano. Há muita coisa que pode contribuir para isso de ser triste, da mesma maneira que também contribui para sermos alegres. É certo que ser alegre é muito melhor. Pelo m

Acordei-te IV - Brincos

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 - Aquele momento confirmava. O melhor da vida é o que não há de vir. Ele fecha o livro, coloca-o em cima da mesinha e leva o cigarro à boca. Encosto a minha face no tecido verde do sofá, encolho as minhas pernas. Tenho o lençol enrolado no meu corpo, o que me dá alguma sensação de proteção. Isso... Ou estar aqui com ele. Às vezes prefiro não atribuir a este homem todos os meus momentos de paz e engano-me a mim própria. - O melhor que temos será sempre o que já foi? Ou o que está a ser? Nada digo e apenas o admiro. O seu corpo nu, tornou-se presença habitual junto de mim. Só quando ele assim ficou comigo pela primeira vez, percebi o que era sentir-me livre. Com os meus olhos percorro a sua face, deixando-os, por alguns segundos na sua orelha. Aquele pequeno brinco na sua orelha dá-lhe sempre aquele ar distinto, de quem é grande mas que continua a brincar. - O que achas? - Ele insiste antes de olhar para mim. - Hum... Não sei... No meu caso, nunca nada me foi melhor do que isto aqui. El

Poema da Tristeza Repetitiva

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Tenho em mim uma tristeza que me assola. Que me assola na minha quietude. Na minha quietude, onde tudo está em silêncio. Onde tudo está em silêncio, que revela a sua plenitude. Que revela a sua plenitude, tal como esta minha tristeza... Tal como esta minha tristeza que me consome. Que me consome como o lume a um fósforo, Como o lume a um fóforo que se some. A um fósforo que se some no ar, No ar que me tem presa a esta tristeza. A esta tristeza atroz, que me arranca tudo aquilo que sou. Tudo aquilo que sou, que se desvaneça! Que se desvaneça tudo aquilo que eu sou! Tudo aquilo que eu sou é igual a nada, como sempre assim fui. Sempre assim fui, escondida nas sombras. Escondida nas sombras, alguém que nada possui. Alguém que nada possui, salvo esta tristeza, Salvo esta tristeza que me pesa no coração. Que me pesa no coração, como uma pedra pontiaguda, Uma pedra pontiaguda que me perfura até à exaustão. Até à exaustão de não te ter, De não te ter e continuar a sobreviver, Continuar a sobre

Harmonia Desconcertante

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A tarde está calma. Finalmente, o calor apareceu, o que me faz acreditar que, de facto, é verão. Há momentos em que parece que o tempo pára. Pára simplesmente e ali fico junto da natureza, num ambiente tão distinto daquilo que é o dia a dia. Dizem que é isso que faz com que aqui se fique com a sensação de que o tempo pára. Porque este local é distinto de tudo o resto. Não sei se será assim... Porém, às vezes pergunto-me se não o deveria experimentar. Ou seja, tornar esta calmaria da natureza o quotidiano e a selva da urbe no distinto. Sei bem que por mais bonitos que sejam os lugares se aí estivermos sozinhos, talvez não consigamos experienciar esta beleza por completo. Por vezes, a harmonia que outros nos conseguem proporcionar, chega a ser desconcertante. Como se fossem um colo permanente onde aí me posso sentar e assim ficar. É verdade que, por vezes, também me passa pela cabeça que se deveria falar mais, sorrir mais, questionar mais. No fundo, fazer com que a partilha seja cada vez

O Preconceito Nunca Tem Graça

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Há uns dias vi um vídeo com "jovens" influencers , ou lá o que eram!, e eis que alguém fala da Amadora: "nem pensar que vou à Amadora", foi assim algo do género que o rapaz, que não devia ter mais de 19 anos, disse. Como percebi que aquilo era a sério não achei graça nenhuma. Não teve piada porque, o preconceito, nunca tem graça. Se falamos em piada declarada, tudo bem. Vejamos. Quantos de nós, amadorenses, não estivemos com outras pessoas que, quando descobrem que somos da Amadora, não usam o cliché "cuidado, não se metam com ela que é da Amadora" ? Como é uma piada, aceito, lido bem e acho graça. E, se querem que vos diga, ainda sinto mais orgulho em dizer que sou da Amadora. Aqui não se trata de preconceito. Trata-se de graça e aí tudo é possível. Aquilo que mais me deixou surpreendida, no video de que falo no início do texto, é que quem diz que não vai à Amadora, deixando nas entrelinhas que assim é porque aquilo é muito perigoso, é um miúdo. Sim. É um

Acordei-te III - T-Shirt Preta

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- De que te lembras de quando nos conhecemos? Esboço um leve sorriso. Sempre que tenho a minha face encostada ao seu peito, sinto que estou na minha casa. - Que pergunta é essa? - A sonolência que toma conta do meu corpo, faz com que a minha voz saia num tom muito mais baixo. - Sim... - o riso que ele solta percorre todo o meu cérebro - É uma pergunta como outra qualquer - ele completa antes de levar o cigarro à boca. Ajeito a minha cabeça, levando o meu ouvido ao seu peito. Não há nada que me dê mais harmonia do que ouvir a cadência do seu coração. - Hum... Da tua t-shirt preta. - Porquê? Vejo como ele volta a colocar o cigarro no cinzeiro. - Não sei... Estavas tão...Tão simples. Não sei. Não sei porque me lembro disto, sei que é um pormenor, mas ambos sabemos que a memória é selectiva. - Não tenho só aquela t-shirt preta... Tenho mais algumas. Afinal, não te lembras de nada que eu tenha de único.  Mexo-me um pouco, de modo a que possa levantar a minha cabeça e olhar para a sua face.

Falta-me Vontade de Escrever

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Falta-me vontade de escrever. Sabes o que é isso? Falta-me vontade de escolher as melhores palavras e juntá-as num raciocínio lógico e com clareza.  Sabes o que é isso? Falta-me vontade de escrever um texto longo, explicativo, filosófico e pensante. Falta-me vontade de ser clara. Não consigo ordenar o que quer que seja. Para mim bastava-me escrever a dor latenta que me tem presa à cabeça, num pensamento confuso e dissonante. Falta-me vontade de racionalizar aquilo que sinto. Falta-me vontade. E falta-me força. Ela falta-me, como se tivesse desaparecido desde ontem à tarde. Foi como se tivesse partido sem me dizer adeus. Sem eu me poder despedir dela. Talvez se me tivesse tentado despedir da minha força, tivesse feito de tudo para não a deixar ir. Mas ela foi. Foi por caminhos que desconheço. Não sei onde a ir procurar. Foi como se me tivesse abandonado e me tivesse deixado com esta imensa tristeza. Estou cansada de ter apenas como companhia esta imensa tristeza. Estou exausta. A triste

Gostava Tanto de Te Ver...

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Às vezes queria ver-te... Assim, ao de longe. Noutras ocasiões, só o meu mero pensamento de te poder ver, agonia-me. Encho-me de medo da cabeça aos pés. Mas, hoje não. Hoje é um dos dias em que gostava de te ver, assim... ao de longe... quase em segredo, como se eu fosse invisível. Deus sabe como eu gostaria de ser invisível! Agora, poderia estar no mesmo sítio que tu e estaria a admirar-te. Concerteza, que te estaria a admirar, tu no teu mundo e na tua vida, os quais só a ti te dizem respeito. Poderia ver a tua expressão concentrada, ou o teu ar mais descontraído a ouvir os teus a falar. E a sorrir. Sim, hoje gostava de poder ver o teu sorriso. Será que se mantém igual ao último que eu vi? Sim, manter-se-á. Sempre to pedi. É verdade que a memória é poderosa. Mas, a nossa vontade também. Por isso, sei bem que já nem te lembras de mim. Por consequência, não te lembrarás também desse meu pedido: que nunca te esqueças do que é sorrir e de como é belo o teu sorriso. Basta-me acreditar

O Peso das Máscaras Sobrepostas

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Acordei-te? II - Não Esgotámos o Nosso Tempo

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Assim que acabo de lhe contar o que tinha guardado há tanto tempo vejo como o seu semblante muda. Tal como já tinha acontecido antes, num outro tempo, num outro espaço, com um outro alguém. Sentada de frente para ele, sinto que não me consigo mexer. Talvez por querer prolongar por mais um segundo aquela sua imagem. Aqueles seus olhos de que tanto gosto. As suas rugas que pintam a sua pele ao de leve, os seus lábios dos quais ouvi tantas vezes algumas das mais belas histórias, as suas mãos que pegaram em tantos livros, alguns dos mais bonitos que já tinha lido. -- O que é que ela acabou de me dizer?  É como se tivesse deixado de atribuir significado às palavras que da sua boca sairam. Não pode ser verdade. Qual a necessidade de partilhar uma coisa destas comigo? Mas... Ela espera que eu diga alguma coisa. Concerteza, que ela espera que eu diga alguma coisa. Mas o que poderei eu dizer? O seu ar é de dor. Sim, é de dor. Isso eu consigo identificar facilmente. O seu cenho fran

Acordei-te?

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Abro os olhos devagar. A primeira coisa que vejo são as suas coxas, que albergam em si aquele conjunto de folhas que o acompanha desde que aqui cheguei. Deitada de barriga para baixo, estou com alguma dificuldade em me mexer. Quero ficar ali para todo o sempre. Suspiro ao de leve e sinto o cansaço do meu corpo e fecho novamente os olhos. Não é um cansaço mau. É um cansaço bom. Até há pouco tempo pensava que todo o cansaço era mau. Mas ele mostrou-me que não. Deve ser ainda de tarde... O cheiro do cigarro que ele fuma está por todo o quarto. Quando ele lê, tem quase sempre que fumar um cigarro. Oiço-o murmurar.  Abro novamente os olhos e, devagar, ergo um pouco a minha cabeça da almofada amarrotada e vejo com ele mexe os seus lábios ao de leve, emitindo um som tão baixo, que nem eu sei como fui capaz de o ouvir. Por qualquer razão que desconheço, o meu cérebro entendeu que agora conseguia coordenar o meu corpo e acabo por me mover. Seguro no lençol, que apenas me cobr

Lê-me Um Poema

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Lê-me um poema como se fosse o teu último e o meu primeiro escrito que me alerta os sentidos e me queima a pele. Lê-me um poema, assim, desprendido e inócuo sem sentido e comedido. Lê-me um poema com significado e encorpado, entusiasmante e brilhante. Lê-me um poema bonito que me encha de alegria tonta por te ter do meu lado livre e libertino. Lê-me um poema dessas tuas aventuras que não são as minhas, guardadas no meu peito e desenhadas pelo meu pensamento, mas nunca por mim vividas. Lê-me um poema floreado, que mascare tudo aquilo que de cinzento está à minha volta, à tua volta, à nossa volta. Lê-me um poema disso: da realidade que nos consome num diário apressado que se repete vezes sem conta, às vezes vagarosamente repentino. Lê-me um poema que me mostre aquilo que tens de mau, o que tens de pior esse pior que se confunde com aquilo que também eu sou. Aquilo que também eu sou.  Aquilo que tu és. Lê-me um poema daquilo que

Parar a Tempo II - Brincar com as Palavras

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- Nunca soubeste lidar com essa carência afetiva... - Tu também não. - Pois não. - Mas a tua carência afetiva implica contigo e com os outros. - E tu sofres tudo sozinha. Sorrio. Ele tem sempre a mania de que me conhece. - Sim, sofro tudo sozinha. Nunca quis causar problemas a ninguém. Se há coisa que eu nunca quis foi ser um problema fosse para quem fosse. - Por isso é que te escondes na tua sombra. - Claro. Sempre andando despercebida e com cuidado para que continue a ser... a ser quase invisível. Amparando o que me vai caindo nos braços... Daí que tenhamos feito bem em parar fosse o que fosse. Ele pega no cigarro. - É curioso como é que te tirei dessa sombra. Encosto-me na cadeira. Tenho uma leve dor de cabeça que me acompanha desde a manhã. Agora, já ao entardecer, a moinha torna-se mais evidente. - Curioso? - Sim... Até hoje não sei bem como o fui capaz de o fazer... - Isso é fácil. Sentias-te sozinho e levaste tudo na brincadeira. - Da maneira que falas até pa