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A Menina à Janela

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Tinha acabado de chover quando passei pela mesma rua que me faz recordar-te e pela qual ando tantas vezes. Num dos prédios cinzentos, no rés do chão estava uma menina, encostada ao parapeito da janela, que olhava em frente. Talvez estivesse a contemplar os montes de folhas caídas junto aos carros ou as inúmeras poças de água que se formaram naquela estrada de alcatrão esburacado. Não sei o que a menina estava a ver, mas, automaticamente, fiquei com a sua imagem na cabeça. Antes, quando via crianças não pensava em nada de especial, apenas que a sua ingenuidade era engraçada e que era preciso dar-lhes educação e conhecimento. Hoje, penso sempre "Deus queira que seja feliz". A felicidade é subjetiva, bem sei. O que a mim me pode fazer feliz não é o mesmo para o outro. No entanto, eu sei que há um sentimento que é capaz de ser transversal a todos no que toca à felicidade. O amor.  Quando eu era uma menina ouvia sempre em casa os mais velhos a dizerem uns aos outros: "o impor

Numa Outra Vida

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São muitas as vezes em que penso como seria maravilhoso se, realmente, tivéssemos vivido outras vidas noutros tempos. É um pouco apaziguador imaginar-se isso: como seria a nossa vida passada? Eu gosto de imaginar que numa das minhas vidas eu estive rodeada de arte. Talvez tenha crescido numa pequena vila onde as casas são coloridas, dividida por um rio, com monumentos antigos e com os quais aprendi a conviver. Sempre curiosa para saber a sua história, a sua origem, a razão de existirem. O ar é inundado de cheiros doces no inverno e frescos no verão como se a própria gastronomia se adaptasse à mudança do tempo. Concerteza que vivi uma época com conturbações sociais. Tenho a certeza disso assim como tenho a certeza de que fui capaz de defender aquilo em que acreditava: uma maior justiça no mundo, mais empatia, mais igualdade de oportunidades, mais solidariedade. Deus... Tenho mesmo a certeza que na minha outra vida fui capaz de defender a minha, a nossa, liberdade. Não sei bem de que for

Desabafo

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Dizem que a felicidade está nas pequenas coisas. Será? Não sei. A felicidade é uma propriedade de cada um e não se pode comparar nem universalizar. A propósito disto de "ser feliz", tenho-me recordado muito de uma situação que presenciei o ano passado.  Estávamos quase a entrar no verão, as noites começavam a estar agradáveis. Não me custava tanto, como agora, sair depois de jantar e dar uma volta para desenferrujar as pernas. Fui pelo meu circuito habitual. Desde a pandemia que criei um percurso só meu e que o faço regularmente, por vezes não muito seguro, admito, mas até agora tem me dado confiança para o continuar a realizar. Gosto de andar à noite porque é tudo mais silencioso e, dessa forma, tenho a certeza de que ninguém me vê. Quase sempre foi assim. Mas é mais confortável para mim dessa maneira.  Conforme vou andando, num ritmo preciso e a conseguir não pensar em nada (antes caminhar dava-me essa possibilidade de não pensar ao contrário de hoje) começo a ouvir uma voz

Volta

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Volta. Prometo que se voltares, Nada te direi. Perdida nestes tristes ares, Apenas de esperarei. Nestes tristes ares, Como as ruas escuras, Longe dos teus mares, Vazios das tuas loucuras. Volta. Prometo que não te questionarei, Mesmo que queira saber por onde andaste. Prometo que não te incomodarei, Mesmo que queira saber porque tanto te demoraste. Apenas te irei acomodar No meu abraço E a tua cabeça segurar No meu regaço. Volta. A saudade que teima em não me deixar Mostra-me que tu aqui continuas, Tal como uma pequena lufada de ar A desejar que me iludas. Engana-me como daquela vez, Onde me fizeste acreditar que tudo valia a pena Onde te vivi com avidez Onde eu vivi de forma plena. Volta. Sou egoísta, bem sei que melhor estás sem mim Vejo-te a voar, nunca sozinho E é bom olhar-te assim A andar firme no teu caminho. Mas, Acredita em mim, por favor! Não existe rancor. Amar-te-ei com o mesmo fervor Com que o meu peito hoje se enche de dor. -- Imagem: "Amor e Ódio" de Edvard Mu

A Fuga à Minha Sina

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Da pequena janela vejo aquilo que é a vida normal. Pessoas que chegam, pessoas que partem, pessoas que se abraçam, pessoas sozinhas que olham para o horizonte, como se isso lhes permitissem chegar mais rápido a onde é suposto.  Hoje tive saudades tuas. Ui. Sim, tive mesmo saudades tuas. Daquelas que nos apertam o coração e que nos fazem descer da nossa habitual pálida e gélida postura. Hoje tive mesmo saudades tuas. É avassalador dar-me conta disso. De sentir saudades tuas. Pela primeira vez, em tanto tempo, percebo como sinto falta daquilo que me davas: desse entusiasmo, por vezes assoberbado, mas que me dava a sensação de ter a vida nas minhas mãos. Também tenho saudades de me sentir assim, mas essas saudades já eu tinha descoberto há algum tempo.  Agora, estas saudades de ti... foi hoje. Sem nenhum motivo aparente, que me fizesse lembrar-te eu senti tanto a tua falta. Senti falta de ouvir a tua voz. A tua voz que me surpreendia sempre, nunca esperava que a fosse ouvir novamente. Pen

Fatalidade

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Vim dizer que te amo. Sim, admito. Eu amo-te. Demorei todo este tempo para aceitá-lo porque me pareceu tão impossível, sabes? Como é que te poderia amar? A ti, que me roubaste a vida e a levaste contigo, mesmo sem o saberes? É precisamente por me teres despojado do pouco que eu tinha em mim que eu sei... Agora, eu sei, que te amo. Não lerás estas linhas. Deus... Por onde andarás nessa tua vida da qual já não faço parte, ou melhor, da qual eu nunca fiz parte? Seguro do teu futuro, cheio de responsabilidades, mas a sorrir, não é? Imagino-te sempre a sorrir. Mesmo que as últimas palavras que tenhamos trocado tenham sido tão dolorosas, assim que fecho os olhos e te vejo estás sempre a sorrir. E é bom, é apaziguador. Aquele primeiro segundo na minha imaginação apazigua tudo. Tal como quando nos encontrámos. Foi tudo um bonito sonho, creio que até já o escrevi aqui. Estou a repetir-me. Mas, esse meu sonho foi tão bonito e tão estonteante que eu agarrei-me a ele com unhas e dentes, com a cren

Enganar o Tempo

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Penso se a vida não será obra do acaso. Ou melhor se a felicidade não será obra do acaso ou da sorte. Sim. Talvez seja da sorte. A felicidade é obra da sorte. É preciso alguma sorte para se ser feliz, não é assim? Como ficam aqueles que não têm sorte? A vida é um rio com curso certo, com perdas e com ganhos, sempre numa linha reta. Se alguma vez o rio transbordar isso é um acaso. Sem razão aparente e sem qualquer tipo de boa consequência. É apenas um acontecimento esporádico e que nada significa. Depois de transbordar, a vida volta ao seu caminho regular sempre e tristemente monocórdico. É claro que quando se dá conta desta vida sempre certeira, onde invariavelmente seguimos pelas paragens sempre certas, assoberbados para poder fazer alguma coisa ou ter alguma coisa, é como se nos dessem uma pancada na cabeça, que fica a ressoar e a ressoar. E esperamos que o tempo passe. Que o tempo passe e que nos ajude a amenizar e a aceitar o que é certo. Mas, a nossa relação com o tempo é sempre t

Tudo Foi Um Belo Sonho

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Foi tudo um belo sonho. Tal como quando o nosso inconsciente brinca com imagens díspares, sem sentido e, surpreendentemente, cria imagens e sequências que nos contam uma história. Com pessoas que conhecemos ou não. Com narrativas que fazem sentido ou não. Com coisas boas... Afinal, aprendi que os sonhos também acontecem na realidade. São acontecimentos que nos transportam para uma qualquer vida alternativa em que podemos ser quem queremos ser. Com quem queremos ser. A fazer o que queremos fazer. Sem barreiras nem pudor. Sempre gostei de sonhar, muito embora sempre tenha sonhado pouco. Falo do sonho do inconsciente. Sempre sonhei pouco, mas, quando sonhava, quase sempre acordava a sorrir. Fossem histórias estapafúrdias ou não, gostava que o meu inconsciente me levasse a viajar por outros caminhos, como se daquela forma, durante a noite, eu tivesse andado por um outro local qualquer. Eu também gostei de sonhar com a minha consciência bem alerta. Foi diferente. Foi tão diferente que, só a

Podias ter-me dito, sabes?

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Podias ter-me dito, sabes? Seria tão mais fácil se mo tivesses dito. Se me tivesses explicado o porquê de me arrancares de ti, assim, sem dó nem piedade. Pensaste que eu não o poderia compreender? Como?! Como podias pensar isso? Julguei que te tinha demonstrado de todas as vezes que me acolheste que, também eu, te acolhia no meu abraço e no meu corpo.  Fui eu, apenas e só eu, que sentiu isso? Só eu é que senti essa partilha sincera e sem refúgios, não foi? Era uma partilha pura onde eu tinha a certeza de que iria compreender tudo aquilo que me quisesses dizer. Até com o teu silêncio... Até com o teu silêncio eu conseguia ouvir-te, sabias? Mesmo quando nada me dizias, por dias, semanas, meses, eu conseguia compreender o que me estavas a dizer, como se uma qualquer força sobrenatural me tivesse dado um qualquer poder para compreender todos os teus sinais, mínimos e microscópicos sinais. Chegados aqui, parece que afinal este super poder nunca existiu, não é assim? Se tivesse existido eu s

Vil Esperança

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Amar o impossível é inútil? Talvez seja inútil porque daí não se retira nada. Não há uma qualquer consequência desse sentimento unilateral, sentido por apenas uma pessoa, sem retorno, sem realidade. No fundo, é como amar na nossa imaginação. Não há forma de nada se tornar palpável. Às vezes, penso se te amo. Até hoje, não o consigo saber. Amar-te-ei de forma contínua, inteira e abnegada? Custa-me a acreditar que sim, mas... Talvez sim. Talvez te ame, pregada nesta cama que anseia por ti. Como estiveste daquela vez, lembras-te? Daquela única vez, mesmo antes de me esqueceres. Agora que escrevo isto, vêm-me sempre à mente as imagens que eu tento sempre apagar, renegar, pisar. Coloco-as lá no fundo, empurro-as ainda mais para baixo, com os dois pés, para que elas possam ficar escondidas no meu inconsciente e não saltem cá para fora e eu continue a vê-las. Não! É tão mais doloroso quando assim é. Quando te recordo antes da inevitável despedida, começa por ser bom, mas depois a certeza de q

Quando me Visitas nos Meus Sonhos

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Hoje vi-te nos meus sonhos. Gosto de pensar que me vieste visitar nos meus sonhos. Será que também te visitei nos teus? Não sei. Às vezes, é apaziguador pensar que sim.  Eu via-te não nitidamente, sabes? Assim como se fosses real, conseguia mesmo decifrar todos os traços do teu rosto, sentir o teu cabelo nas minhas mãos, perder-me na profundeza do teu olhar. Quando te vi nos meus sonhos foi tão natural... Foi como se fosse a coisa mais normal do mundo, ter-te ali, à minha frente, poder admirar a tua postura e seguir todas as tuas expressões na esperança de me embalares em mais um dos teus sorrisos. Como foi bom que me tivesses vindo visitar. Normalmente, ninguém me visita nos meus sonhos. Normalmente, nem o meu inconsciente se digna a manifestar a sua presença. Não sonho. Ou, pelo menos, não me lembro do que sonho. Dizem que sonhamos sempre, mas que nem sempre nos lembramos. Penso que... Dou por mim a pensar se... Será que me mesmo não me lembrando eu costumo sonhar contigo? Será que m

Carta ao Final da Noite

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De todo o meu coração que gostava de te ver. Acredita que é verdade. Gostava tanto de te ver. Eu poderia ficar escondida, atrás de um cortina qualquer, numa sala qualquer, em qualquer sítio do mundo. E ficar-te-ia a ver, assim, ao de longe, escondida. Como sempre estive: escondida. Creio que a única vez em que não estive escondida foi quando me viste. Está descansado, eu agora sei que não me viste por descortinares em mim algo de peculiar, que te despertou a atenção ou atraiu. Eu sei que não, está descansado. Bem sei que me olhaste como se tivesses olhado uma outra mulher qualquer. Eu sei que não tenho nada de único que faça alguém olhar. De qualquer das formas, e mesmo para ti não sendo nada de especial, e sabendo que me olhaste como se estivesses a ver uma qualquer outra coisa útil, de que precisavas naquele momento, ainda assim, quando me viste foi a única vez em que deixei de estar escondida. E, depois... Tudo o resto. Esses foram os únicos momentos em que não me escondi. Tudo o qu

Carta ao Final do Dia

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Hoje queria dizer-te que fiz uma coisa boa. Ajudei alguém e sei que ele está melhor agora. Está feliz. É boa esta sensação com que se fica depois de ajudarmos alguém, não é? Gostava muito de poder partilhá-la contigo e contar-te esta história. Tenho a certeza de que irias sorrir e irias dizer qualquer coisa do género: "só tu" . Eu ficaria ainda mais contante por poder partilhar contigo o resultado do meu gesto e sentiria que não podia estar mais centrada no meu presente. Sabes, hoje queria dizer-te que também me irritei. Irritei-me com a mentira, com o encobrimento da verdade, com a falsidade. Apesar da minha irritação, fui capaz de dizer a verdade, de a mostrar, de a mandar cá para fora. Fui capaz de a escarrapachar, sem medos. Apenas e só porque é aquilo que devo fazer, independentemente das suas consequências. Sei que ficarias preocupado e, talvez, a tua primeira reação fosse tentar fazer com que eu parasse de querer dizer a verdade. "Não vale a pena colocares-te em p

Invisibilidade

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Um outro dia lembrei-me de uma conversa que tive, há alguns anos, com uma pessoa em que falámos do que é ser invisível. Eu era uma miúda e de uma maneira meio acriançada, com um sorriso demasiado aberto, disse-lhe: "eu gostava de ser invisível, assim ninguém dava conta da minha presença". Sabiamente, essa pessoa respondeu-me "Não... Ser invisível não é bom. Ninguém repara em nós". Eu deixei de sorrir tanto e por alguns segundos pensei bem no que ela me estava a dizer. Estranhamente, não tive vontade de contrapor esta sua afirmação com aquilo que julgava certo. Às vezes os adolescentes são chatos com essa vontade de fazer valer a sua opinião. Creio, até hoje, que  não tive essa vontade porque aquilo que ela me dizia até me fez sentido. O certo é que nunca mais me esqueci das suas palavras. Chegada aqui, sei que ela tinha toda a razão. Ser invisível é duro. É estar no meio de uma multidão e não termos nada que nos diferencie de tudo o resto. Algo que leve alguém a nut

Uma Luz que se Apagou

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(Marta entra em palco. Olha em frente, para a cama, com as mãos entrelaçadas, atenta a tudo o que vê. Depois, olha para o seu lado direito, onde está uma estante. Caminha até ela e passa os seus dedos, levemente, pelas prateleiras, verificando se tudo está no mesmo lugar. Rodopia e caminha até à mesinha de cabeceira. Coloca a mão no candeeiro, ajeitando-o. Vira para a frente uma moldura sem fotografia e acena. Marta continua a andar até ao toucador, do lado oposto à estante. Marta pára em frente ao espelho e inclina-se. Fixa os olhos no seu reflexo. Ela pega na sua trança comprida e admira-a, por um breve momento). Marta: Está, exactamente, como antes. Exactamente, com o mesmo comprimento. (Marta passa as mãos pela sua trança). Exactamente, igual aquando da… (ela cala-se e pega na ponta da trança) Aquando da sua chegada. (Marta olha para a plateia). Como tenho saudades… Como ainda sonho… Ainda sonho que o vou encontrar. Eu sonho que o vou voltar a ver e ele estará igual. Exactamente ig

Jornalismo, Dar ou não Espaço ao Errado? Eis a questão.

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Dizem que o jornalismo é liberdade. Dizem que o jornalismo, o bom, é um dos garantes da democracia. Dizem que o jornalismo tem de ser independente para informar o cidadão. O jornalismo deve informar. O certo e o errado. Ultimamente, tenho tido muita vontade de não dar voz àquilo que considero errado. Errado para o mundo, para o país, para a cidade. Errado para qualquer sociedade. Não lhes quero dar palco. É verdade, admito, há muito que quero restringir o espaço a quem defende as restrições da liberdade.  Eu posso querer fazê-lo, mas, ontem, fui obrigada a fazer o que é suposto, ditado pelas regras. E foram apenas alguns parágrafos, nada de muito extenso. Porém, sei que vai chegar o tempo em que terei de dar mais do que alguns parágrafos a esses, que para mim são um erro das sociedades modernas, e eu tenho de engolir esse sapo. Já engoli muitos ao longo de dez anos, este será apenas mais um. Porém, confesso, a perspectiva de ter de engolir este, que para mim é um "sapão", afl

Tempo, para Longe, Leva-me!

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Sinto que tudo é uma prisão, Quando vivo a tua ausência, Na minha solidão, Na tua inexistência. Recordo-te todos os dias, Na tua postura desprendida, Nas palavras que me devias, No teus braços protegida. Não serei eu o que tu querias? Por certo, estou longe do que pensarias. Por Outra esperarias, Onde, no seu colo, tu morrerias! Ainda te sinto do meu lado Como se o tempo não tivesse passado No meu choro imaculado No meu amor desinteressado. Clamo aos Céus por mim e por ti Para que de uma vez alguém Me perdoe pelo crime que cometi De te amar como ninguém... Dói-me o peito carregado de angústia, Por não mais te vislumbrar. Cabe-me esta pura modéstia De ao longe te amar. Mas, pergunto como tanto me tiveste enganada, Iludida pelos teus belos ditos, Com os teus gestos fascinada, Perdida nos teus olhos eruditos! Olhos que tanto me acalentaram, Como se a mim me quisessem, Que tanto me disseram Como se de mim dependessem. Guardo em mim esta dor De não poder compreender Este sentimento avassala

Transcendente - Acordei-te V

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- Porque é que me estás a olhar assim? Pergunta-me ele com o seu melhor ar de desajeitado. Meio ruborizado e com aquele sorriso nervoso que ele tenta sempre disfarçar. Meu Deus. Eu amo-o. Eu amo este homem de uma forma inigualável, única e distinta. É um sentimento maior do que eu e, talvez seja por isso, que não consigo dizer-lho. Dizer-lhe... Ainda não consigo dizer-lhe que o amo. Não sei se algum dia vou ser capaz... Com o medo de que assim que essas palavras, Eu amo-te, saiam da minha boca também este sentimento se desvaneça e tudo acabe. - Ei... O que foi? Agora ele está a rir-se, sentido-se já pouco confortável por eu não lhe responder e apenas o admirar. Sim. Como eu gosto de admirá-lo. Admirar todas as pequenas marcas que tem no pescoço, o pequeno sinal atrás da orelha, as leves rugas que se formam perto dos seus olhos, ou a sua barba indisciplinada. Penso que... Não, tenho a certeza! Tenho a certeza de que foi numa dessas vezes em que o admirei que percebi como o amava. - Nada

Estou à Espera

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Estamos sempre à espera. Estamos sempre à espera que algo de diferente aconteça nesta merda em que vivemos. Eu, pelo menos, espero isso. Não. Eu não espero isso. Eu anseio por isso. É muito diferente. Ou não será? Quer dizer o mesmo, mas o peso é diferente. Por isso, não tem o mesmo significado. Ou melhor, tem. Mas tem um outro sentido. Sim, tem um outro sentido. Assim é que é. Estou sempre à espera. Estou sempre à espera de que algo de bom aconteça. Já não quero nada de estonteante. Já só quero alguma coisa boa. Alguma coisa que me engane e me iluda para que possa continuar a viver. Para que possa continuar a viver esta vida mísera, Sem qualquer significado... Nem sentido. Como se vive uma vida sem significado e sem sentido? Não sei. Mas, estou à espera. Ai, como eu estou à espera de deixar de sentir, de deixar de querer, de deixar de pensar. Como anseio por esse antídoto que me vai fazer deixar de te sentir. Para que eu possa, finalmente, descansar. Imaginam sequer a falta que me faz