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Vil Esperança

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Amar o impossível é inútil? Talvez seja inútil porque daí não se retira nada. Não há uma qualquer consequência desse sentimento unilateral, sentido por apenas uma pessoa, sem retorno, sem realidade. No fundo, é como amar na nossa imaginação. Não há forma de nada se tornar palpável. Às vezes, penso se te amo. Até hoje, não o consigo saber. Amar-te-ei de forma contínua, inteira e abnegada? Custa-me a acreditar que sim, mas... Talvez sim. Talvez te ame, pregada nesta cama que anseia por ti. Como estiveste daquela vez, lembras-te? Daquela única vez, mesmo antes de me esqueceres. Agora que escrevo isto, vêm-me sempre à mente as imagens que eu tento sempre apagar, renegar, pisar. Coloco-as lá no fundo, empurro-as ainda mais para baixo, com os dois pés, para que elas possam ficar escondidas no meu inconsciente e não saltem cá para fora e eu continue a vê-las. Não! É tão mais doloroso quando assim é. Quando te recordo antes da inevitável despedida, começa por ser bom, mas depois a certeza de q...

O Vírus do Futuro Incerto - 15 Dias de Estado de Emergência

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Para mim são quinze dias em que as coisas mudaram. É estranho tudo isto. Agora é em casa. Tem de se fazer tudo em casa. Tem de se arranjar maneira de trabalhar em casa. Temos de estar em casa. Temos de falar em casa. Temos que comer e beber em casa. É tudo em casa. Será terrível para aqueles que não têm casa ou para eles a sensação será a mesma? Não sei. Mas, estarão muito mais expostos do que qualquer um de nós, disso não haja dúvidas. Há, no entanto, algumas coisas que me têm passado pela cabeça quase todos os dias desde que estou a cumprir, quando não tenho de sair em reportagem, o dever do isolamento.  Os profissionais de saúde. Não só pela minha irmã, que é enfermeira e por estar em contacto direto com os doentes infectados pelo novo coronavírus. É claro que penso nela, todos os dias, com a certeza e a confiança na sua conduta, na sua vontade de fazer sempre as coisas bem e proteger-se ao mesmo tempo. O meu coração descansa um pouco por saber isso. Mas, p...

A Solidez ou a Fraqueza Dos Alicerces do Homem

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A vida pode nunca ser aquilo que vamos esperando dela. Até que desistimos de esperar e apenas andamos ao sabor da maré. Sem nada esperar ou a esperar pelo fim. A impressão que tenho é que quando chegamos a esse fim há a tentação de olhar para trás e ver o que fizemos, mas também aquilo que foi feito connosco. Não sei dizer se no final temos aquilo que merecemos. Vejo pessoas a sofrer até ao fim, sem terem feito nada de mal. Vejo pessoas que não conhecem esse sofrimento entranhado na pele, mas que ao longo do seu percurso se revelaram pessoas mesquinhas, más e sem escrúpulos. Afinal, teremos mesmo aquilo para o qual trabalhamos? Para mim será sempre um desafio olhar por quem sempre tentou e fez o bem... E se o desafio for maior e tenha que cuidar a quem nem sempre foi bom? Esta é uma questão que, por vezes, não me sai da cabeça. A bondade não é relativa. Ou se é verdadeiramente bom ou não se é. O mesmo se aplica ao que é mau: ou se é ou não é. Contudo, quem é mau não pode t...

O Natal dos Sós

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O Natal é uma época em que todos ouvimos o mesmo: “Desejo muita paz e saúde!” “Tudo de bom para a família” “Divirtam-se” E muito mais. Depois existem os anúncios publicitários, o consumismo, a maluquice das pessoas e a falta de respeito, os acidentes na estrada... E ainda é aquela época em que tudo serve como pretexto para estar com as pessoas, mesmo aquelas que nunca vemos durante o ano, nem fazemos o mínimo esforço para tal acontecer. Amor, ódio, solidariedade, egoísmo, bondade, maldade, a generosidade, o aproveitamento, a alegria e a tristeza. De tudo isto e muito mais se faz o Natal. De aspectos positivos e negativos, como em tudo na vida. Mas, o Natal também é feito de solidão. Não apenas aqueles que não têm ninguém, mas também aqueles que, mesmo com pessoas ao seu redor, se sentem sozinhas... Daqueles que não sabem o que é sentir o calor humano, por vontade própria ou por vontade alheia... O meu pensamento está, também com eles, neste pequeno texto. Quanta mágoa será preciso sent...

Um Doce Retirado da Mão

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Tal e qual como quando se dá um doce a uma criança e, depois de o pequeno lhe dar duas lambidelas, é lhe arrancado da mão. É precisamente com essa sensação em que me encontro.  Quando menos esperamos é-nos dada uma esperança de que tudo vai ficar melhor. Que vamos ficar livres daquele empecilho que nos dificulta o caminho, vamos ficar sem a pedra no sapato (que tanto nos incomoda), que vamos ficar livres daqueles chatos que nos consomem a sanidade mental. Acreditamos que é possível, ficamos com um sorriso na cara e parece que tudo corre melhor. Passamos a ser verdadeiros e não somos cínicos, porque sabemos que a paz vai regressar. Até que começamos a ver alguns sinais preocupantes. A pedra teima em ficar no sapato, não nos conseguimos livrar do empecilho e os chatos estão cada vez mais presentes. O nosso cérebro diz "Está atenta. Não faças já a festa".  Mas, o nosso coração tolo e cheio de crenças diz que vamos conseguir. Que agora tudo vai mudar. E de repe...

Seremos o Espelho dos Outros?

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Hoje dei por mim a pensar o que é que as pessoas querem dizer com a frase: "somos o espelho dos outros". Isso significa realmente o quê? Só encontro uma resposta e admito que é a mais óbvia: somos semelhantes, no nosso comportamento, àqueles que estão ao nosso lado. Sinceramente, morro de medo de pensar que isto possa ser uma verdade absoluta. Grande parte da minha vida foi sendo feita junto a pessoas das quais vale a pena seguir o exemplo: pessoas honestas, sinceras, que sabem o verdadeiro sentido da amizade e que lutam para conseguirem aquilo que querem, sempre com base em princípios e valores. Mas o que é que pode acontecer quando deixamos de estar rodeadas dessas pessoas? Quando passamos todos os dias junto daqueles que nos ensinam "a sobreviver neste mundo", como dizem? Tenho saudades da paz de espírito com que encaramos a juventude. De rir por tudo e por nada, de não ter preocupações (como tenho saudades disto!), de não ter de julgar todos os meus pas...

A Simples Brisa Que Destrói o Castelo de Cartas

O dia estava bonito. Já fazia algum tempo em que o sol não aparecia. Com tanta chuva era difícil trabalhar no campo. Mas hoje não. Este era o dia ideal e afinal de contas o trabalho é para se fazer... Não se pode estar muito tempo à espera. Teresa saiu de casa e foi tratar das batatas: enchada na mão, costas dobradas, força nos braços. Há muito que já se tinha habituado, mas custava sempre voltar, principalmente quando não é esta a ambição de uma vida. Principalmente quando se sente presa numa vida que não escolheu. Sabia que o seu lugar não era ali, mas sim numa outra profissão. Longe do dia-a-dia monótono e das pessoas que via todos os dias, na pequena aldeia. Distraída com os pensamentos e com os movimentos mecânicos do trabalho, desde cedo aprendido, uma dor súbita atacou-lhe o peito. Uma dor forte que a fez largar tudo o que tinha na mão. Raramente as pessoas prestam atenção, e não as podemos julgar por o fazerem, ao cabelo. Até é ...