O Lúcido Tresloucado

- Às vezes gostava de ter a habilidade de falar sem palavras, sabes? De dizer tudo aquilo que sinto, assim, livremente e sem ter medo de nada e de ninguém. - Medo? Medo de quê? Medo de quem? Com ar de quem tenta dizer algo com sentido, ele confessa. - Medo deles. Deles e de toda a gente que me rodeia. Às vezes sinto-me a sufocar. Sinto que não cresci o suficiente para lidar com a vida. Estou cansado de lidar com a vida. Cansado de lutar por viver... Sabes o que isso é? Franzo o sobrolho. Não faço ideia do que seja isso. - Não entendo. Ela suspira. - Não sou homem suficiente para ser ultrapassado e não me importar com isso. - Se és ultrapassado tens de fazer alguma coisa para não o seres. - Eu faço de tudo para não o ser. Mas os outros não se importam. Esses tais de que tenho medo. Eles não se importam. Acham que eu sou um lixo. Nada do que faço interessa. Nada do que faço é bom o suficiente para eles. Sou sempre posto de lado, como um caroço de uma maçã que já não pr...