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A mostrar mensagens de 2011

Carta a Filomena II

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Lisboa, 4 de Dezembro de 2011 Querida Filomena, Como estás? Que tal a vida por Braga? As coisas por aqui estão difiíceis. Há muito tempo que me pergunto: "Porque é que as coisas mudaram?". Não consigo encontrar uma resposta. Tu consegues? A culpa é das pessoas? É minha? Honestamente não sei. Por favor, se souberes, diz-me tu! Tornei-me numa pessoa triste. Se soubesses há quanto tempo não me rio com vontade... Há quanto tempo que não estou sem preocupações... Essas são mesmo as minhas maiores inimigas. Também tens muitas? Aquilo que faço... Sem trabalho, só interesses,só consegues algo com favores e tens um bom cargo só com cunhas. Sem dinheiro. Os que têm valor não são recompensados... . Acho que isto não é para mim. Também não tenho bem a certeza disso. Já penso nestas coisas há demasiado tempo. Frequentemente, tento pensar nisso, mas a minha cabeça dói-me ainda mais do que o habitual. Sabes como vejo o que me acontece? Como se estivesse presa numa cadeira, com uma mord

Parar?

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Fechar os olhos. Descansar. Dormir profundamente. Acordar. Levantar. Trabalhar. Sorrir. Cansaço. Sorrir.  Deitar. Fechar os olhos. Descansar. Dormir profundamente. Há quanto tempo isso vos acontece? E há quanto tempo isso não me acontece? Pensando bem, faz já algum tempo. Já diziam os outros que o mais chato é quando estamos cansados e não conseguimos dormir. Que verdade... A sensação de chegar ao final do dia. Pousar a nossa cabeça na almoçada e nenhum pensamento, questão, dúvida ou incerteza pairar sobre nós... . Isso parece-me uma miragem. Mas é isso que faz com que estejamos melhor com os outros, com que o nosso sorriso seja verdadeiro, que queiramos estar presentes nas batalhas e sentirmos que somos capazes de ganhar a tudo e a todos. Que somos capazes de ir até ao fim do mundo sem nos cansarmos. Quando os obstáculos começam a aparecer continuamos a pensar que os vamos vencer, que ninguém nos pode parar. Nada está no nosso caminho. E a verdade é que até conseguimos s

Entrevista a um Hipotéctico Jornalista II

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A entrevista a Luis, Jornalista há 25 anos, continua, agora, sob um tema diferente. Sempre pensou que o Jornalismo poderia ser também publicidade? Isso é uma das grandes coisas que não nos ensinam na faculdade. Infelizmente, os meios misturam-se, as mensagens difundem-se com uma rapidez enorme, que nem sempre conseguimos decifrar se aquilo que fazemos é publicidade. Mas isso é uma coisa que se aprende com o tempo... Mas já cedeu alguma vez? Publicitou algo, mesmo de forma disfarçada? Sim. Infelizmente sim. Não me orgulho de o ter feito. Mas, por vezes, o medo de ficarmos sem o nosso trabalho é maior. Se nos recusamos a fazer um desses trabalhos, a probabilidade de ficarmos a um canto é grande. Ainda o faz? Não! Isso foi um erro de início de profissão. Agora não.. Nem pretendo deixar que isso passe facilmente. Já assumi uma outra posição dentro da redação. Isso é um estatuto que se ganha ao longo dos anos, o de poder recusar esse tipo de trabalhos. Acredita que se cedesse e continua

Minoritariamente Honestos

Tempos de crise, tempos de indecisão, tempos de muita confusão. As pessoas andam malucas. Desconfiadas de quem está ao seu lado, pressionadas pelas responsabilidades, fartas e cansadas do mundo onde vivem. É muito difícil não fazermos parte da maioria. Encontrar alguém que não se sinta dessa forma é raro. Se têm uma pessoa dessas ao vosso lado, não a deixam escapar. São pessoas assim, com a sua inconsciência e dose de loucura, que fazem com que continuemos mentalmente sãos. Celebrem o cómico, celebrem as piadas secas, celebrem os risos, celebrem a música, celebrem os irreverentes, celebrem tudo aquilo que foge à norma do vosso quotidiano.Celebrem tudo aquilo que é precisamente o contrário daquilo que vêem todos os dias: dos malfeitores, do chato do teu chefe, dos atrasos dos transporte públicos. Celebrem tudo aquilo que não vos chateia. É estranho olhar para trás e ver o quanto mudámos. Olhar a forma como nos adaptamos às situações adversas, por mais que isso nos custe. Sobreviv

Carta a Filomena

Lisboa, 14 de Junho de 1985 Querida Filomena, Como estás? Que tal a família? Estou com muitas saudades de ti e como não podia deixar de ser tinha de te contar tudo o que se anda a passar, por isso decidi escrever-te esta carta. Estes primeiros meses têm sido uma loucura, mas posso afirmar com toda a certeza de que esta está a ser a  melhor fase da minha vida.  Filomena, gostava que aqui estivesses para veres tudo aquilo que tenho presenciado! A vida aqui é uma confusão! Aquilo que nos ensinam no curso de letras pouco tem que ver com esta vida nas redacções. Tu não podes imaginar! Telefones a tocar por tudo quanto é lado, ouvidos agarrados aos gravadores, que às vezes são um problema por causa das cassetes, tudo a correr de um lado para o outro, nuvens de tabaco, gritarias...Uma coisa impressionante!  As tipografias a trabalhar a uma velocidade impressionante, novos jornais a aparecerem... Isto não podia ser melhor! E estar numa redacção no Bairro Alto é espectacular! Em noites de

"São Opções..."

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As escolhas são tramadas. Escolhe-se sempre algo em detrimento de outra coisa. Uma vantagem em vez de outra. Ou um ganho em vez de uma perda. Já nem sei bem o que escrevo. No final de contas, as escolhas têm de se fazer. Mesmo que não queiramos ou mesmo que não saibamos o que advém dessa escolha temos que fazer opções. Não me faz grande mossa ter de decidir o que escolher. Não é por isso que elas são tramadas. São tramadas quando mesmo depois de pensar o que será melhor ou ponderar os prós e os contras acabamos por optar pelo que nos pode fazer pior. Mesmo que na altura pareça o mais acertado... Isso é que me deixa frustrada. Saber que mesmo depois de as coisas correrem exactamente como nós imaginámos que ia ser, passado pouco tempo tudo muda. As melhores escolhas parecem as piores. O que era bom torna-se mau. Para quê fazer escolhas? Para quê perseguir um objectivo, se depois nos parece que aquilo que somos e aquilo que pensamos nada tem que ver com a meta que queremos atingir?

A história da rapariga sentada no Café

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Na mesa de um café, outros falam, ela finge que ouve. Só pensa: "Espero que acabe... Vou contar os meses, os dias, as horas. Quando terminas? Conhecer as pessoas torna a minha essência triste. Quero voltar a ser ignorante. Não conhecer aquilo que me rodeia, aqueles que estão ao meu lado. Tornei-me igual a eles. Sou fraca. É complicado ter consciência. Ser vazia e sorrir. Quero ser assim. Não pensar, não ponderar, não reflectir, nem sentir. Um autómato a sorrir. Sim! Quero ser isso. Estar programada para qualquer conversa e ser telecomandada. Não ter vontade própria e não conhecer os enganos, as jogadas maliciosas, o egoísmo. Mas também não quero saber o que são princípios, a ética, a honestidade, ideais. Quero ser um boneco. Sim... Um boneco manipulado por outros, mas que não sabe o que faz porque não tem cérebro. Não! Afinal é mesmo isso: não quero ter cérebro. Não quero ser consciente. Nem quero sonhar, nem imaginar. Quero ser vazia, sem sentimentos. Não conhecer

Conversas com um hipotético Psicólogo

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Pensa um psicólogo, ou pelo menos um que se acha como tal: "O erro é complicado. Podem pensar que esta é uma frase simples, repetível por todos, que nada tem de original. Quem sou eu para dizer que ísso é mentira? Ninguém. Nem sei porque tenho de ser invetivo. De arranjar frases bonitas e poéticas para dizer aquilo que todos nós sabemos: o erro é complicado. Não quer dizer que com ele não venham coisas positivas. Posso dizer, outra vez, o que toda a gente sabe: a melhor consequência que o erro pode ter é o facto de para a próxima não o repetirmos e aí fazer o correcto. Desta vez, não quero pensar nisso. O erro pode trazer coisas positivas, como momentos de felicidade. Sim. É verdade. Dadas a certas decisões que tomamos e que na altura nos parecem mais acertadas, vivemos com elas e somos felizes. Agora que vejo a enormidade do meu erro, sinto que isso é verdade. Mesmo com a má decisão que tomei, fui feliz. Talvez tivesso mesmo que errar, para que nesse mesmo erro sentisse a

O que acontece quando os PunkSinatra vão ao Bairro Alto

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22h.  Combina-se um quarto de hora antes, mesmo tendo a certeza de que nada acontece no tempo em que está previsto, tenho esperança de que vai ser diferente. É claro que não foi.  Atraso e atraso, mas nada que não se resolva. "Estamos atrás de ti", é o que me dizem. Eu não vejo ninguém.  "Será que se enganaram?" Não. Eles é que me enganaram a mim. Afinal de contas eles é que já estavam mais à frente e no final apercebo-me que estávamos todos à espera uns dos outros.  Não há crise. Hoje não é noite para preocupações. Assim que chegamos ao local combinado, que não tínhamos bem a certeza onde era, já passava meia hora da hora marcada. Estava com esperança de que as coisas estivessem prestes a acontecer. Só depois me apercebo de que a noite não era para ser previsível, por isso, o início da música ainda demorava. Cumprimento o vocalista, mas ainda não tinham chegado todos. E se fôssemos dar uma voltinha pelo Bairro?  Lá fomos nós, como se nunca tivéssemos andado por

O Cair da Máscara

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Tento escrever, não consigo. Máscara... Onde andas tu? Preciso de ti desesperadamente para continuar a sobreviver. Para não falar com ninguém, para mentir, omitir, esquecer. Como te queria esquecer. Fechar os olhos e adormecer... num todo eterno. Não ter de tomar decisões, rir-me sempre. Ai! Como tenho saudades de me rir. De me juntar convosco. De parvoices. Como sinto falta das futilidades. De não pensar... Só quero isso: acordar e nada me lembrar. Sem tretas. Desconhecer preocupações, acreditar em ilusões. Não criar expectativas, sem nada programar. Voltar a ser criança. Ver os desenhos animados a manhã inteira, fazer um ditado e correr no recreio. Ir a casa da amiga, fazer os trabalhos de casa e brincar... brincar... brincar. Sem futuro e sem esperança. De que é que sou feita? De raiva daqueles que se autoproclamam. Dos que prometem e nada dão. Daqueles que comem da mão de quem trabalha todos os dias. Dos tristes que pedem, dos que nada fazem, dos mentirosos e dos

Por Breves Instantes

Por breves instantes damos um abraço, um beijo, uma lágrima, um aperto. Enquanto se bebe um copo, uma criança morre, uma criança nasce, um homem melhora e um homem piora. Por pequenos instantes somos felizes, e somos também infelizes. Sorrimos por pouco, choramos por muito. Queremos seguir em frente, fartos da nossa rotina. Mas também sentimos saudades, nostalgia dos bons momentos que vivemos nela. Por breves momentos sofremos, traímos, rejubilamos. O ser humano rege-se por planos. Planeamos o futuro com uma agenda, cada coisa em cada hora. Em breves segundos alteramos encontros, desmarcamos trabalho. Sabemos o que está certo ou depressa descobrimos que afinal errámos. Em breves instantes o que conhecemos, o que planeamos, o que sonhamos deixa de fazer sentido. Arrepende-mo-nos das nossas decisões, desejando voltar atrás no tempo. Por breves minutos conhecemos alguém, mas deixamos de conhecer aqueles que já conhecíamos. Por breves instantes temos, mas também deixamos de

Entrevista a um hipotético jornalista

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Há pouco tempo decidi entrevistar um jornalista. Chama-se Luís e já tem vinte e cinco anos de profissão. Trabalhou em diversos jornais e conseguiu enveredar pelo jornalismo televisivo. Nunca se tinha visto a trabalhar atrás das câmaras, mas decidiu arriscar. Não é aquilo de que mais gosta de fazer e vive com o desejo de regressar aos tempos do jornais. Aos tempos em que existiam mais do que três jornais culturais e os suplementos sobre arte e música multiplicavam-se nos diários e semanários.  - Nos anos 80 e início dos anos 90 foram prósperos em publicações jornalísticas. Sente falta desses tempos? Desejo todos os dias que o tempo volte atrás. Regressar à época da imprensa escrita e poder escolher em qual jornal gostava de trabalhar era o que mais gostava de fazer agora. Estar em televisão faz-nos conhecer pessoas estranhas. Para além disso, adorava voltar ao jornalismo cultural, aquele que não estava entregue a uma elite. - Mas acredita que actualmente o jornalismo cultural está ent

A ignorância é sagrada

Os cínicos, os hipócritas e os mentirosos enchem este mundo. Sai daqui, sarna nojenta que não me largas o pé. Esse teu nojo cobre-me dos pés à cabeça e eu não consigo afastar a minha repulsa daqueles que me comem os princípios. Aqueles que deitam a baixo aquela coisa à qual damos o nome de moral . Tenho nojo de todos vocês! Vomito. Inundo o chão daquilo que sou. São como lama que se agarra à minha roupa. Sinto o vosso odor na minha pele. Esse cheiro fétido que me preenche e do qual não me consigo livrar. A culpa é tua e só tua. Por tudo aquilo em que me fizeste acreditar. Por me teres manipulado tão subitamente, tão suavemente, tão carinhosamente. A ilusão e a mentira. Quero-as de volta. A ignorância é sagrada. É aquilo que nos faz sorrir. Desprezo. Tristeza. Horror. Medo. Saiam! Saiam daqui, seus porcos imundos que me perseguem! O que querem de mim? Que seja como vós... um animal amestrado. Uma máquina. Uma simples escrava dos vossos desejos. Não sinto nada. O que é o a

Conversas com um hipotético Jornalista

"A redacção está cheia. Há papéis a voar sobre as cabeças de quem trabalha. Phones nos ouvidos de quem tenta descortinar uma palavra dita por um político numa grande entrevista. Olhos especados num computador, a caneta na mão escreve informações importantes sobre o desemprego em Portugal. Um grupo de três pessoas está descontraidamente a trocar dois dedos de conversa e a saborear um café a meio da tarde. O editor está ocupado a explicar aos estagiários como deve ser feito o trabalho. E mesmo no centro da sala, na sua secretária, ali está ele. Tira os óculos. Pousa-os na sua mesa, esfrega os olhos. Mantêm-os fechados durante segundos. Para ele pareceu-lhe uma eternidade. Sem pensar em nada. Volta a abri-los. Novamente a pergunta: "mas que título ponho eu a isto?!". A voz do editor chama-o à realidade. Um novo trabalho espera por ele. Sai de apressadamente, enfia-se no carro e vai até ao local da conferência. Ouve com atenção. Tenta ler o que está por detrás do qu