Quando me Visitas nos Meus Sonhos
Hoje vi-te nos meus sonhos.
Gosto de pensar que me vieste visitar nos meus sonhos. Será que também te visitei nos teus? Não sei. Às vezes, é apaziguador pensar que sim.
Eu via-te não nitidamente, sabes? Assim como se fosses real, conseguia mesmo decifrar todos os traços do teu rosto, sentir o teu cabelo nas minhas mãos, perder-me na profundeza do teu olhar.
Quando te vi nos meus sonhos foi tão natural... Foi como se fosse a coisa mais normal do mundo, ter-te ali, à minha frente, poder admirar a tua postura e seguir todas as tuas expressões na esperança de me embalares em mais um dos teus sorrisos.
Como foi bom que me tivesses vindo visitar. Normalmente, ninguém me visita nos meus sonhos. Normalmente, nem o meu inconsciente se digna a manifestar a sua presença. Não sonho. Ou, pelo menos, não me lembro do que sonho. Dizem que sonhamos sempre, mas que nem sempre nos lembramos.
Penso que... Dou por mim a pensar se... Será que me mesmo não me lembrando eu costumo sonhar contigo? Será que mesmo não tendo qualquer presença tua assim que acordo, isso não queira dizer que não me visitas nos meus sonhos? Se assim for, será extraordinário. Há esta hipótese de me visitares todos os dias na minha imaginação? Com amor? Sem lágrimas? Com sorrisos? Sem desespero?
Por um momento isso alegra-me. Equacionar que possas estar comigo todos os dias no meu inconsciente alegra-me, sabes porquê? Contigo, nos meus sonhos, existe esta certeza de que te vejo e que nada mais importa... Tal como foi daquela vez em que realmente nos vimos, neste mundo pleno de realidade, onde os pés sentem a terra e a chuva molha o cabelo. Sim, pensar que estás comigo todos os dias, nem que seja nos meus sonhos, é tão alegre.
Alegra-me da mesma maneira em que me alegrava a ideia de te poder voltar a ver. De poder voltar a sentir-te. Quando tinha essa esperança tudo era tão mais luminoso, sabias? Aliás, tudo estava tão claro, cheio de luz e de entusiasmo que eu pensei estar, de facto, a viver um desses meus sonhos que não passam disso mesmo: de imagens criadas e vividas por mim no meu inconsciente. E isso é vibrante. Poder ter essa esperança de viver é vibrante.
Sou tonta.
Estou para aqui a pensar coisas que não têm qualquer sentido. Posso não saber se me visitas todos os dias nos meus sonhos, mas de uma coisa a minha cabeça racional e sempre perspicaz e certa como um relógio tem a certeza: eu nunca mais terei essa oportunidade de te ver neste mundo real onde sentimos o vento na nossa face e onde arranhamos a mão numa rosa.
Sabes de que mais sinto falta? Desse entusiasmo vibrante que apenas o pensamento de te poder voltar a ver me provocava. Da boa ansiedade e das boas coisas que eu conseguia imaginar acordada, não a dormir. Agora, quando, acordada, imagino coisas boas elas não duram muito tempo. Logo a seguir lembro-me sempre que essas coisas boas comigo não acontecem e o sorriso desaparece-me da face e tenho vontade de chorar, porque, afinal, não me posso esquecer... Não me posso esquecer que essas coisas boas nunca aconteceram comigo e que não são para mim.
É por isso que quando acordo e me lembro de que sonhei contigo, de que me visitaste nos meus sonhos, fico tão descansada. Quando estás nos meus sonhos aproveito a tua presença e não aparece nenhum pensamento realista, como "isto não é para ti", tal como me acontece quando imagino acordada.
Quando me visitas nos meus sonhos, e eu me lembro disso, há apenas a tua imagem límpida e serena que para sempre me ficou gravada. Nada mais está ao nosso redor, e eu regresso àquele tempo em que a harmonia que sentia contigo era diferente de tudo o resto. Era viver.
Quando me visitas nos meus sonhos e eu me lembro é aí que eu vivo.
Pintura: Le Rêve (O Sonho) de Pablo Picasso
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