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O Vírus do Futuro Incerto - 15 Dias de Estado de Emergência

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Para mim são quinze dias em que as coisas mudaram. É estranho tudo isto. Agora é em casa. Tem de se fazer tudo em casa. Tem de se arranjar maneira de trabalhar em casa. Temos de estar em casa. Temos de falar em casa. Temos que comer e beber em casa. É tudo em casa. Será terrível para aqueles que não têm casa ou para eles a sensação será a mesma? Não sei. Mas, estarão muito mais expostos do que qualquer um de nós, disso não haja dúvidas. Há, no entanto, algumas coisas que me têm passado pela cabeça quase todos os dias desde que estou a cumprir, quando não tenho de sair em reportagem, o dever do isolamento.  Os profissionais de saúde. Não só pela minha irmã, que é enfermeira e por estar em contacto direto com os doentes infectados pelo novo coronavírus. É claro que penso nela, todos os dias, com a certeza e a confiança na sua conduta, na sua vontade de fazer sempre as coisas bem e proteger-se ao mesmo tempo. O meu coração descansa um pouco por saber isso. Mas, p...

O Vírus do Futuro Incerto

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Primeiro dia em casa por obrigação e dever. Quem me conhece sabe que não sou uma pessoa de lamurias, de stress evidente, sempre com aquela missão, que faz parte do meu carácter: manter a calma.  No início de tudo isto do coronavírus fui como a maioria das pessoas: "isso não chega cá. Se chegar cá há-de ser uma coisa tipo gripe A" . Pensei que tinha mais do que tempo disponível para continuar a fazer a minha vida do costume. A minha rotina. E como eu estava a precisar de rotinas, de ocupar a cabeça. Uma viagem marcada, trabalhos agendados, saídas combinadas. Em poucos dias tudo mudou. Tudo ficou incerto. Tudo o que tinha como adquirido para os próximos meses foi, simplesmente, cancelado. As pessoas começaram a ficar em casa, as ruas vazias, os cafés quase sem clientes, o trânsito com muito menos tráfego.  "Lena, não andes de transportes públicos. Leva o carro da empresa" - disseram-me vezes sem conta e, realmente, pareceu-me uma boa medida preventiva. S...

O que poderá acontecer amanhã?

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- O que poderá acontecer amanhã? Sei lá eu o que poderá acontecer amanhã. Quem pode saber o que vai acontecer agora, amanhã ou depois? Ninguém sabe. - Só sei que quando sair daqui vou-me molhar. Respondo de forma directa, sem paciência para rodeios. Os meus óculos molhados quase que não me deixam vê-lo. Eu sei que ele apenas me quer dar alguma atenção, mas, a verdade, é que estou tão cansada. Limpo as lentes e volto a colocar os óculos. Pego no café e bebo-o, calmamente. A chuva continua a cair. O som dos pingos invade a pequena loja, que se encontra sempre em silêncio. Estranhamente, aquela espécie de boteco está sempre assim: em silêncio. Talvez seja por isso que eu não goste de aqui estar. Estar rodeada de silêncio faz-me pensar ainda mais. E se há coisa de que estou cansada é de pensar. - Mas não és capaz de prever o que vai acontecer amanhã? Fecho os olhos. Porra para estas perguntas. Porque raio quer ele tanto saber o que vai acontecer amanhã? Porque raio q...

O Cansaço de Estar Cansada

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O próprio cansaço é extenuante. Sei que é uma repetição, uma redundância, mas não será isso, também, o que é o cansaço? Aquela sensação do peso constante do mesmo? O peso constante da repetição da rotina. Não será o cansaço o mesmo que a redundância. Ele próprio é redundante. É algo que anda à volta de si mesmo. Não sai dali. É por isso que o cansaço cansa. Sim, o próprio cansaço cansa. Estou cansada deste cansaço. O cansaço é aborrecido e incómodo. E não desaparece. Parece que está sempre, ali, bem escondido na nossa mente, no nosso corpo. Ele está bem instalado em todo o meu ser. Tão bem instalado que não me consigo ver livre dele.  Pior. Não me consigo ver livre e pior, parece que ele cresce. Às vezes penso e sinto que já não há mais espaço para o cansaço. Ele já ocupa tudo em mim, mas, surpreendentemente ele consegue encontrar ainda mais um espaço para aí se instalar, como se fosse dono e senhor de mim. É exactamente isso que é o cansaço para mim: ele é o meu dono e o meu senho...

Presentes do Presente

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Pensamos sempre que vamos ser capazes de não nos deixarmos afectar.  Que vamos ser superiores a isso porque, na verdade, o tempo não pára, as responsabilidades não deixam de existir, porque o futuro não se avizinha fácil.  Por estarmos sempre tão preocupados com o que aí vem, esquecemos o mais importante: o presente. Isso é o pior que podemos fazer. Se estivermos sempre a pensar no que será , não vivemos o que está a ser . Nós não podemos viver o futuro no nosso presente. Se assim é, porque raio temos de estar sempre a pensar no que está para além do tempo que vivemos? A vida não é feita dos planos que fazemos para o futuro.  A vida é feita dos momentos que vivemos diariamente, sejam eles bons ou maus.  A vida é feita daquilo que sentimos quando ouvimos a música de que mais gostamos, ou ao lermos um livro que nos está a surpreender.  A vida é feita das decisões que tomamos no presente. Naquilo que aceitamos ou não.  A vida é ...

Cicatriz no Sentir

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Existem alturas em que temos de aceitar o que temos. Há momentos no nosso percurso onde temos de aceitar aquilo que somos. Recordar aquilo que nos fez ser aquilo em que nos tornámos e pensar nisso vezes sem conta. Tantas vezes para que não nos esqueçamos do que somos e porque o somos. Na esperança de que este esforço nos permita chegar ao ponto de isso nos deixar de afectar ou revoltar. Na esperança de que o possamos aceitar definitivamente. A revolta deve ser sentida o mais possível. Repetidamente. Tal e qual como a dor, para que assim nunca dos esqueçamos dela e para que nunca nos esqueçamos de qual o nosso objectivo no tempo que por cá andamos. Não são só as coisas boas que nos mantêm vivos. Sem dúvida de que seria muito melhor se assim fosse. Mas na vida real isso não é assim. É talvez a dor que nos faz amadurecer. Uns mais cedo do que outros. E talvez seja também isso que nos permite estar revoltados. Dificilmente, conseguimos entender porque é que temos de sentir dor. Porque é qu...

Viver & Sobreviver

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É estranho o sentimento de estarmos no limbo. Somos como aqueles automobilistas que gostam de ir no meio das duas faixas sem saber se querem ir para a direita ou para a esquerda. Esta comparação pode parecer demasiado estúpida, mas é verdade.  Estamos sem reagir.  No fundo nós queremos reagir.  Mas não sabemos como. Parecemos completos zombies sem saber o que fazer daquilo que somos. Sem sabermos aquilo que realmente queremos. O medo, a incerteza, a falta de coragem, as nossas fraquezas deixam-nos para trás. Na nossa cabeça nós sabemos que não pode ser assim. Nós queremos reagir. evoluir, crescer, mas não somos capazes. Talvez seja o nosso coração que não está em sintonia com a nossa cabeça. Se a nossa cabeça nos diz para seguir em frente, nós temos a certeza disso, então porque é que não o conseguimos fazer? É como se uma força nos mantivesse presos no mesmo lugar. Será essa força o nosso coração? Como comandamos o nosso coração? Será apenas o tão aclamado ...

Cuidado... Leram-me a Sina!

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Num jardim, a meio de um trabalho oiço alguém chamar-me. É certo que não foi o meu nome que soou por ali, mas quando ouvi "você, você", não consegui deixar de olhar. E, a verdade, é que parecia mesmo ser para mim. O senhor que me chamava tinha já uma certa idade e estava rodeado de mulheres, que olhavam para ele com muita atenção. Apesar de não ser muito destas coisas, acedi a falar com ele. Inesperadamente apenas me diz: - Deixe-me ver a sua mão. Eu leio a sina! Esta era a última coisa que julgava ouvir naquele momento. Fiquei meia surpresa. Não acredito muito nestas coisas, porém, com a minha boa disposição, aceitei o seu pedido e disse-lhe para "ler a minha mão".  Muitas coisas disse de forma meio atabalhoada e algumas vezes repetitiva. No entanto, a primeira frase que saiu da sua boca, eu não me consigo esquecer. Podia falar sobre quantos anos de vida vou ter, se vou passar muitas dificuldades ou se vou ganhar o Euromilhões. Mas não. De forma bastante...

O Significado de Férias

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" Interrupção relativamente longa de trabalho, destinada ao descanso dos trabalhadores " Este é um dos significados que o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa ( http://www.priberam.pt/dlpo/ ) dá à palavra férias . Sim. Essa bela palavra que ganha ainda mais importância, quando já não estamos a usufruir desse descanso prolongado. Essa interrupção pode ser, por exemplo, de três semanas. Três semanas em que nos fechamos ao quotidiano, à rotina da nossa vivência e temos tempo para fazer aquilo que nos dá na real gana.  Como é bom! Não há horários, não vemos sistematicamente as mesmas pessoas, não comunicamos com quem não queremos e encerramos o nosso posto de hipocrisia, ao qual, frequentemente, somos obrigados a ir, principalmente no trabalho.  Como é bom!  Senti-mo-nos livres. Dizemos o que queremos, a quem queremos, do modo que queremos. Não falamos, quando não temos nada para dizer. Até podemos desligar o telemóvel e deixar de ir à Internet.  ...