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"A Paixão Pode Aumentar Com o Tempo"

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A pergunta que tinha saído nas cartas era simples: já se apaixonou? Como foi? Era claro que o propósito era refletir sobre paixão. Um tema que considerei curioso, principalmente porque acompanhava uma sessão de trabalho com seniores. Estavam todos reunidos, em roda, a realizar esta dinâmica.  "A paixão pode aumentar com o tempo". Foi esta a resposta de um dos participantes, com mais de 70 anos, creio. Concerteza que esta foi uma das coisas mais bonitas que ouvi dizer nos últimos meses. No meio desta declaração alguns dos presentes mostraram surpresa no rosto e, pareceu-me, outros quiseram contrapor esta ideia. Mas, o dito senhor explicou. "Quanto mais velhos somos, vamos dando mais atenção a outras coisas e a paixão inicial pode aumentar". Fiquei embevecida a olhar para o senhor. Tive vontade de o puxar para o meu lado e de ficarmos ali os dois para que eu pudesse perceber como é que alguém vê a paixão desta forma tão pura e honesta. E, diria até, idílica.  É mais d...

Acordei-te? II - Não Esgotámos o Nosso Tempo

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Assim que acabo de lhe contar o que tinha guardado há tanto tempo vejo como o seu semblante muda. Tal como já tinha acontecido antes, num outro tempo, num outro espaço, com um outro alguém. Sentada de frente para ele, sinto que não me consigo mexer. Talvez por querer prolongar por mais um segundo aquela sua imagem. Aqueles seus olhos de que tanto gosto. As suas rugas que pintam a sua pele ao de leve, os seus lábios dos quais ouvi tantas vezes algumas das mais belas histórias, as suas mãos que pegaram em tantos livros, alguns dos mais bonitos que já tinha lido. -- O que é que ela acabou de me dizer?  É como se tivesse deixado de atribuir significado às palavras que da sua boca sairam. Não pode ser verdade. Qual a necessidade de partilhar uma coisa destas comigo? Mas... Ela espera que eu diga alguma coisa. Concerteza, que ela espera que eu diga alguma coisa. Mas o que poderei eu dizer? O seu ar é de dor. Sim, é de dor. Isso eu consigo identificar facilmente. O seu cenho ...

Acordei-te?

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Abro os olhos devagar. A primeira coisa que vejo são as suas coxas, que albergam em si aquele conjunto de folhas que o acompanha desde que aqui cheguei. Deitada de barriga para baixo, estou com alguma dificuldade em me mexer. Quero ficar ali para todo o sempre. Suspiro ao de leve e sinto o cansaço do meu corpo e fecho novamente os olhos. Não é um cansaço mau. É um cansaço bom. Até há pouco tempo pensava que todo o cansaço era mau. Mas ele mostrou-me que não. Deve ser ainda de tarde... O cheiro do cigarro que ele fuma está por todo o quarto. Quando ele lê, tem quase sempre que fumar um cigarro. Oiço-o murmurar.  Abro novamente os olhos e, devagar, ergo um pouco a minha cabeça da almofada amarrotada e vejo com ele mexe os seus lábios ao de leve, emitindo um som tão baixo, que nem eu sei como fui capaz de o ouvir. Por qualquer razão que desconheço, o meu cérebro entendeu que agora conseguia coordenar o meu corpo e acabo por me mover. Seguro no lençol, que apenas me ...

Lê-me Um Poema

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Lê-me um poema como se fosse o teu último e o meu primeiro escrito que me alerta os sentidos e me queima a pele. Lê-me um poema, assim, desprendido e inócuo sem sentido e comedido. Lê-me um poema com significado e encorpado, entusiasmante e brilhante. Lê-me um poema bonito que me encha de alegria tonta por te ter do meu lado livre e libertino. Lê-me um poema dessas tuas aventuras que não são as minhas, guardadas no meu peito e desenhadas pelo meu pensamento, mas nunca por mim vividas. Lê-me um poema floreado, que mascare tudo aquilo que de cinzento está à minha volta, à tua volta, à nossa volta. Lê-me um poema disso: da realidade que nos consome num diário apressado que se repete vezes sem conta, às vezes vagarosamente repentino. Lê-me um poema que me mostre aquilo que tens de mau, o que tens de pior esse pior que se confunde com aquilo que também eu sou. Aquilo que também eu sou.  Aquilo que tu és. Lê-me um poema daquilo...

Um Encontro Pouco Casual III - "I've Got You Under My Skin"

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L. está exausta. Têm sido meses demasiado difíceis. As coisas estão a andar, mas ela preferia poder estar numa ilha, a viver numa cabana à beira mar e a escrever livros. Sem grandes luxos, apenas paz de espírito. Depois de tudo o que se passou e o que não se passou, além da tequila, que L. agora bebia muito mais esporadicamente do que há uns meses, ela dedicou-se completamente ao trabalho, entendendo que lhe restava pouco mais do que isso. Tal como sempre acontecera. Era apenas a sua vida de sempre. Este regresso ao seu quotidiano de sempre, demorou algum tempo a concretizar-se. O pior foi dominar a ansiedade e os impulsos de voltar a contactar C. Mas, L. tem sobrevivido, com momentos melhores, outros piores... Ela sabe que está onde sempre esteve. Sem grandes ambições, com o propósito de estar atenta aos seus. Isso será sempre o mais importante: não dotar a sua existência mísera do único propósito de dar cabo da vida dos outros. Se a sua vida é vazia de impulsos, de emoç...

Um Encontro Pouco Casual

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A meia luz da sala dá a sensação de que está sozinha. Como em tantas outras situações isso não a preocupa. Afinal sempre foi assim. L. pega no copo que está meio vazio e leva a cerveja à boca. Há poucas coisas que conseguem saber-lhe tão bem quanto uma cerveja a meio da noite. L. quase que termina o copo quando decide que ainda quer ali estar mais um pouco a bebericar o resto da cerveja. Pelo menos até ele regressar à sala.  Ela só o quer ver como se fosse a última vez. Será, concerteza, a última vez. Depois, não valerá a pena prolongar seja o que for. Com um ar descontraído ele entra na sala. L. nota como ele traz aquele semblante despreocupado, como se nada se passasse. Na realidade, nada ainda se passou. Mas, L. sabe que tudo vai acontecer no escasso tempo que estiverem juntos. L. não pode perder esta oportunidade. Esta é a oportunidade de se sentir viva e se não for com C., não será com mais ninguém. Os seus olhares encontram-se mesmo com a pouca iluminação exi...

Toma-me

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Toma-me. Toma-me nos teus braços e tem-me, assim completa e irracionalmente, como se conseguíssemos ser apenas dois corpos com vontade de se terem. Sem amarras nem responsabilidade. Sem ânsias nem arrependimentos. Toma-me como se eu fosse o teu bem mais precioso, como se nada mais te importasse no mundo, pelo menos enquanto estivermos juntos naquilo que mais puro e físico conseguirmos. Toma-me de forma pura e crua, como se apenas quiséssemos viver aquilo que o nosso corpo nos pede, não a cabeça nem o coração. Toma-me da maneira que o meu corpo me pede que tu tomes, porque só tu me podes tomar dessa forma. Toma-me sem pudor, sem medo nem reservar, como se tivesses nascido para isso. Como se estivesses a cumprir um desígnio, como se estivesses a cumprir a missão para a qual nasceste. Toma-me sem vergonha do que quer que seja, com toda a tua sinceridade de gestos, de presença, de crença. Toma-me com honestidade. Assim, duramente, sem medo de te magoares, de me magoa...

Amo-te

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Amo-te. Amo-te profundamente, plenamente, incessantemente, inequivocamente... Tanto como se te conseguisse ver na minha frente. Tanto como se conseguisse sentir a tua mão quente na minha face, os teus dedos a acariciar a minha pele. Amo esse teu sorriso leve e sincero. Amo essa tua sensibilidade. A certeza de que a tua cabeça virará ao encontro daquele som que te desperta algo de diferente. A forma única como colocas o teu corpo quando estás a fazer aquilo de que mais gostas. Amo quando cantas baixinho ou quando bates com os dedos na mesa ao ritmo daquela canção que tanto adoras. Amo a maneira como confias em mim e me deixas estar contigo. Nu. Sem nada a esconder. Amo quando me deixas entrar nesse teu mundo desnudo e aí ficar a admirar-te. Amo que me faças sentir que sou parte de ti, em todos os gestos, em todas as palavras. Amo os teus pensamentos mais recônditos, os teus sentimentos mais escondidos. Amo os teus traumas, aquilo que te fez ser o que és. Amo que sej...

A Mínima Função de Viver

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Sentada no canto da sala, ela pensava que ali se podia proteger. Proteger-se de tudo aquilo que estava à sua volta, da sua realidade, das pessoas, mas, acima de tudo, proteger-se de si própria. Ela não tinha pedido nada daquilo. Ela não tinha pedido envolver-se em nada daquilo.  Ela não tinha feito nada para que isso acontecesse... Ela não se tinha forçado a ouvir aquela voz. Simplesmente, aconteceu, sem nenhuma causa ou plano prévio. Porém, agora, ali estava ela, sentada no chão, a rezar para não ceder. Para não ceder ao impulso de lhe falar novamente. Para não ceder ao impulso que a levasse a ouvir aquela voz. Essa luta contra os seus impulsos tinha-se tornado na sua batalha diária. Ela sabia que eram mais as vezes que perdia do que ganhava... Mas ela gostava tanto de ouvir a tal voz... Aquela voz forte, descontraída e confiante. Aquela voz que a fazia acreditar que estava numa outra vida, que era possível almejar uma outra vida. Quando cedia a esses impulsos,...

Posso Dizer-te Uma Coisa?

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Posso dizer-te que gosto de ti? Posso dizer-to? Assim de forma simples e sem rodeios: gosto de ti. Gosto tanto de ti. Gosto tanto de te ver, de te admirar, de descobrir em ti novos traços. Sim, existem sempre novos traços na tua face, os quais te tornam único.  Gosto tanto de ficar a olhar para ti, a memorizar todas as tuas expressões. Gosto de ficar a olhar para ti a tentar adivinhar o que pensas, o que vês, o que sentes. Gosto tanto de quando me olhas com incerteza, como se não percebesses o que digo. Mas assim que me explico melhor, gosto tanto de ver como suavizas o teu olhar e a tua expressão. Gosto tanto de te ouvir falar, sabias? De aprender contigo, de pensar contigo. Gosto tanto quando partilhamos aquilo que pensamos... Quando tu me contas as tuas histórias, mas também quando deixas espaço para a tua imaginação. Gosto tanto de quando começas a inventar histórias, acontecimentos hipotéticos, confabulações acerca de tudo e de nada. Gosto tanto de imaginar contig...

Perderam-se Um no Outro

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Os seus dedos passam de novo por ela, percorrendo a forma do seu corpo, como que a recordar, novamente, o caminho que as suas mãos fizeram há algumas horas atrás. Tanto um como o outro não se querem perder daquele lugar. Daquele lugar só deles, que acabaram de construir. Lá fora a chuva cai sem parar, porém, ali naquele quarto, é como se estivesse o dia com o sol mais bonito, onde o tempo não passa e a música de fundo apenas dá vontade de fechar os olhos e de a cantarolar baixinho, bebendo naquela melodia única que nos diz que a perfeição neste mundo pode existir. Ela suspira contra o seu peito e acaba por imitá-lo, passando a palma da sua mão pelo seu tronco, sentido e percorrendo as marcas do seu corpo... O relevo da sua pele. Ela sorri. Simplesmente, sorri, como se mais nada quisesse do mundo. Nada mais era necessário para que ela descobrisse onde pertenceria. Ela já o sabia. Ela pertencia, ali, àquele lugar, àqueles braços. Ele tem os olhos fechados, sabendo que apenas...