Podias ter-me dito, sabes?

Podias ter-me dito, sabes?

Seria tão mais fácil se mo tivesses dito. Se me tivesses explicado o porquê de me arrancares de ti, assim, sem dó nem piedade.

Pensaste que eu não o poderia compreender?

Como?! Como podias pensar isso? Julguei que te tinha demonstrado de todas as vezes que me acolheste que, também eu, te acolhia no meu abraço e no meu corpo. 

Fui eu, apenas e só eu, que sentiu isso?

Só eu é que senti essa partilha sincera e sem refúgios, não foi? Era uma partilha pura onde eu tinha a certeza de que iria compreender tudo aquilo que me quisesses dizer. Até com o teu silêncio...

Até com o teu silêncio eu conseguia ouvir-te, sabias?

Mesmo quando nada me dizias, por dias, semanas, meses, eu conseguia compreender o que me estavas a dizer, como se uma qualquer força sobrenatural me tivesse dado um qualquer poder para compreender todos os teus sinais, mínimos e microscópicos sinais.

Chegados aqui, parece que afinal este super poder nunca existiu, não é assim? Se tivesse existido eu saberia compreender as tuas frias palavras de desprendimento as quais se tornaram em desprezo. E ter-te-ia confrontado. E como tu detestas ser confrontado! Mas, talvez, fosse isso o que era preciso naquele momento. Calei-me. Não te consegui compreender. Pela primeira vez, não consegui compreender o teu desprezo.

Porém, agora, consigo compreender esse desprezo, já que demonstras que nunca conseguiste alcançar o que te quis transmitir desde início. Eu também não o quis repetir em palavras, iludida, pensava que me podias compreender nesta ligação que eu acreditei ser transcendente e recíproca.

Que parvoíce!

O que é isso de uma ligação transcendente e recíproca? Descubro agora que não o sei. Que nunca o soube. Tudo não passou de uma ilusão. E é essa ilusão que torna esse teu desprezo tão fácil de conseguir.

Porque nunca mo disseste? Porque nunca me disseste que era tudo uma ilusão? Eu teria sabido compreender e tanto seria evitado, sabes?

Nunca foste a figura criada pela minha escrita. Apesar de acreditar que te encontro nos textos que

escrevi antes de conhecer. Mas, como poderá isso ser possível? De que maneira te poderia amparar enquanto choras, sentado no chão, no teu estado puro e humano como eu imaginei? Como me poderia juntar a ti, encostar a minha face no teu ombro enquanto me contavas aquilo que mais te atormenta? De maneira nenhuma.

Faz-me acreditar de uma vez por todas que não foste tu que eu criei com os meus dedos, com a minha cabeça e com o meu coração!

Podias ter-me dito, sabes? Ao invés de te esconderes na tua dura e triste mentira que eu não consigo esquecer. Não pela dor que deixaste em mim, mas, sim, porque dessa forma nunca soube a tua verdade. Eu saberia cuidar dessa tua verdade, amparando-te, caído no chão.

Podias ter-me dito, sabes? Podias ter-me dito a tua verdadeira razão. Eu saberia compreender.

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