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A mostrar mensagens de julho, 2012

O Diário Escondido

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Há momentos em que as coisas nos vêm ter às mãos sem estarmos à espera. Ouvimos histórias que nos fazem rir, outras chorar, mas as que mais me prendem a atenção são aquelas que nos fazem pensar. O que escrevo a seguir pode ser ficção ou realidade. Isso deixo ao vosso critério, mas pensei que devia partilhar. "O móvel do quarto dos meus pais tem de ser novamente arrumado. Eles já não estão cá e é a altura mais do que exacta para esvaziá-lo. Vasculho alguns vestígios da minha família que possam ficar guardados, na tentativa de proteger e de imortalizar alguns objectos que permaneçam como algo que faça parte da minha família. Ou seja, algum legado para mim e para aqueles que estão para vir. Continuo a procurar e numa caixa velha encontro um pequeno caderno, com uma capa de pele castanha, cheio de pó e com as folhas amarelas. Um diário? Parece que sim. Abro e rapidamente percebo que são vários escritos da minha mãe. Pelas datas depreendo que foram escritos na sua juventude. Há um

Momentos que Não se Perdem

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É raro o quarto que não está desarrumado. Tudo fora do sítio: as roupas espalhadas, a mala no chão, papéis amontoados... Mas existem certas coisas que permanecem no mesmo local, desde a primeira vez que aí foram colocadas. Certos objectos pelos quais passamos todos os dias e para os quais nem olhamos. O engraçado é que continuamos a saber que eles estão lá e sempre que quisermos vê-los, eles estão no mesmo sítio. Todos os dias, passo por esses mesmos objectos. Como exemplo, a moldura pendurada na parede do meu quarto. Levo meses sem lhe prestar qualquer atenção. Os dias passam; os acontecimentos, uns importantes outros nem por isso, são muitos; as nossas atitudes mantêm-se, outras mudam; uns amigos permanecem, outros partem. O tempo passa. Tão depressa que nem damos conta. Por isso a metáfora da "areia que escorre pelos dedos" é tão correcta: o tempo é mesmo isso. Passa pelas nossas mãos, sem nos apercebermos da sua real importância e da quantidade de coisas boas que nos

O Engano Provocado - Tentativa de Continuação

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Era sábado e, finalmente, tinha chegado o fim de semana para estar com a filha. Como ele gostava de estar com ela. Mesmo assim,  acabou por chegar atrasado. Tinha perdido a noção do tempo. Ao menos ser director de um teatro, encenador e actor permitiu-lhe esquecer. Esquecer o que fez e a rapidez com que se pode destruir aquilo que dava como garantido. Era preciso voltar a aprender a viver. E ele estava a começar a fazê-lo.  Acabou por chegar a casa de Maria, quando começava a anoitecer. A porta do prédio estava aberta e, quase a correr, subiu as escadas até ao terceiro andar. Tocou à campainha e, em si, estava um misto de sentimentos: medo, excitação, expectativa e aflição. Ficava sempre assim cada vez que ia buscar a pequena filha de cinco anos. Durante o ano que passara, estas eram as únicas oportunidades que tinha para ver Maria, exceptuando nos trabalhos que fizera. Voltou a tocar à campainha. Encostou-se à ombreira da porta. Passou a mão pelo seu cabelo castanho-escuro, meio

A Nobreza do Acaso

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A vida é feita de pequenos acasos. É uma frase que todos nós já nos cansámos de ouvir. Mas essa é a verdade. E, por vezes, são esses simples acasos que nos fazem seguir em frente, na esperança de que esses momentos continuem a ser uma realidade. Porque só assim tudo nos parece fazer sentido.  Aquele momento inesperado, que nos faz sair da normalidade, por mais curto que ele seja, é ele que nos dá alento para olharmos em frente e encararmos tudo de modo diferente, nem que seja por uma hora. Até pode ser simples, mas remete-nos para sensações e experiências nunca antes provadas. Por mais escassos e passageiros que sejam esses momentos, rapidamente ficamos com um sorriso na cara, com a cabeça mais leve e tudo parece que vai ficar melhor. O mesmo acontece com encontros inesperados. Aqueles que nos fazem parar na rua e falar com uma pessoa por tempo indeterminado. É como "expulsar os demónios que nos consomem a mente e o espírito" e meia hora fosse suficiente para os de

O Engano Provocado

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"-Tu sempre fizeste de tudo para não estares aqui! Agora sai! Sai de vez e que o Diabo te acompanhe!". Alexandre acordou sobressaltado. A imagem era tão real. Tal e qual como quando falou pela última vez com Maria. Era como se ela estivesse estado ali, na sua sala, à sua frente. Mais uma vez, Alexandre adormeceu no sofá. Estava tudo completamente às escuras. Um copo de whisky vazio, em cima do braço do sofá. Por sorte, não tinha caído ao chão. Estava com a boca completamente seca. O álcool tinha o precioso efeito de o deixar atordoado. Tão inconsciente que, por momentos, se esquecia de tudo. Agora restava apenas uma dor de cabeça. Um som agudo, ainda piorou a dor. Era a campainha. "Maldita!", pensou. Tinha perdido a noção do tempo. Não sabia se era de manhã, de tarde ou de noite. Insistiam. Esforçou-se para levantar-se do sofá, mas as suas pernas estavam demasiado pesadas. Agora já não era a campainha. Agora batiam com força na porta. As pancadas pareciam qu