Entrevista a um Hipotéctico Jornalista II

A entrevista a Luis, Jornalista há 25 anos, continua, agora, sob um tema diferente.

Sempre pensou que o Jornalismo poderia ser também publicidade?
Isso é uma das grandes coisas que não nos ensinam na faculdade. Infelizmente, os meios misturam-se, as mensagens difundem-se com uma rapidez enorme, que nem sempre conseguimos decifrar se aquilo que fazemos é publicidade. Mas isso é uma coisa que se aprende com o tempo...

Mas já cedeu alguma vez? Publicitou algo, mesmo de forma disfarçada?
Sim. Infelizmente sim. Não me orgulho de o ter feito. Mas, por vezes, o medo de ficarmos sem o nosso trabalho é maior. Se nos recusamos a fazer um desses trabalhos, a probabilidade de ficarmos a um canto é grande.

Ainda o faz?
Não! Isso foi um erro de início de profissão. Agora não.. Nem pretendo deixar que isso passe facilmente. Já assumi uma outra posição dentro da redação. Isso é um estatuto que se ganha ao longo dos anos, o de poder recusar esse tipo de trabalhos.

Acredita que se cedesse e continuasse a fazer publicidade "mascarada", podia chegar a outros cargos e também a outros trabalhos?
Sim. Tenho plena consciência disso. Neste país aqueles que conseguem alguma coisa é sempre através de esquemas, de submissões, de cumplicidades e favores. É a dita corrupção.

O que poderia ser feito para que as redacções fossem mais fortes?
A principal fonte de rendimento dos jornais ou da televisão é a publicidade. Disso não haja qualquer dúvida. Acredito que fosse possível que cada meio sobrevivesse tal como estamos, mas se quem dita as regras, administradores e também empresários, fosse diferente. Se as pessoas conseguissem distinguir as diferentes esferas da comunicação era tudo mais fácil.

Isso é uma proposta idílica...
Sim. Infelizmente isso é uma coisa que nunca vai acontecer. Mas se a publicidade funcionasse de forma declarada, com um espaço inteiramente dedicado a uma marca ou produto, por exemplo, esta apareceria da mesma forma nos meios de comunicação. É óbvio que são necessárias pessoas para escrever sobre este tipo de assuntos... Pode ser alguém da própria empresa a fazê-lo, mas não o jornalista.

Mas sabe que há muitos jornalistas, com carteira profissional, que são contratados por empresas para fazerem esse tipo de publicações.
É verdade. Esses não são jornalistas. Pode chamar-lhes de tudo menos de jornalistas. Pelo menos não nesse trabalho. Se querem continuar a fazê-lo têm todo o direito, mas não se podem auto intitular de jornalistas, só porque têm carteira profissional. Essas pessoas têm formação em jornalismo, mas nessa situação não estão a exercer a profissão.  Essas pessoas são como professores, mas que agora trabalham numa biblioteca, por não terem trabalho na área. É bom que fique claro, que há muitas pessoas que são jornalistas de profissão e que não têm carteira profissional.

Então o que falha aqui? A Comissão de Carteira?
Na minha opinião, o que falha aqui é a supervisão da Comissão de Carteira. Cada vez mais se parece com um simples orgão, que apenas tem a resposabilidade de ceder carteira de jornalista e nada mais. E isso já é feito com muitos entraves, o que, a meu ver, é errado. Obter a carteira profissional de jornalista não deveriaia ser complicado. Agora, supervisionar o que cada um faz com ela é que deveria merecer toda a atenção por parte da Comissão de Carteira.

Nota: Esta é uma entrevista puramente ficcional.

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