Carta a Filomena II

Lisboa, 4 de Dezembro de 2011

Querida Filomena,

Como estás?
Que tal a vida por Braga?

As coisas por aqui estão difiíceis. Há muito tempo que me pergunto: "Porque é que as coisas mudaram?". Não consigo encontrar uma resposta. Tu consegues? A culpa é das pessoas? É minha? Honestamente não sei. Por favor, se souberes, diz-me tu!

Tornei-me numa pessoa triste. Se soubesses há quanto tempo não me rio com vontade... Há quanto tempo que não estou sem preocupações... Essas são mesmo as minhas maiores inimigas. Também tens muitas? Aquilo que faço... Sem trabalho, só interesses,só consegues algo com favores e tens um bom cargo só com cunhas. Sem dinheiro. Os que têm valor não são recompensados... . Acho que isto não é para mim. Também não tenho bem a certeza disso. Já penso nestas coisas há demasiado tempo. Frequentemente, tento pensar nisso, mas a minha cabeça dói-me ainda mais do que o habitual.

Sabes como vejo o que me acontece? Como se estivesse presa numa cadeira, com uma mordaça na boca e sem me conseguir mexer. Mesmo que queira, o cérebro não comanda o meu corpo. O meu corpo parado dá ordens para que o meu cérebro também o esteja. E assim estou eu. Parada.

Os sonhos que tinha desvaneceram-se no tempo, tal como quando uma borracha apaga um desenho mal feito. Achas que vale a pena ter sonhos? Eu nem sonhos, nem objectivos. Fiquei sem metas para cumprir. Sabes o que é ter essa sensação? Espero que não. Ao menos és mais feliz. Sabes que às vezes recordo-me daquilo que dizia há uns anos. Lembraste? Daquilo que éramos e daquilo que sonhávamos? Eu tenho muitas saudades desses tempos. De ser inocente. Tu não tens? Também tenho saudades de ser mais paciente. Arranjava menos chatices com as pessoas.

Por aqui também chegou a solidão... Graças a Deus que não recebeste esta visita. Sabes, outro dia encontrei o Miguel. Já não o via há anos. Ele está tão bem. Deixá-lo foi o melhor que lhe podia ter feito. A Maria é uma pessoa espectacular e se os visses juntos percebias como são felizes. Só de o ter visto senti-me bem. Senti-me feliz. É bom vermos que as pessoas que amamos são felizes, não é? Chega a uma altura em que temos de parar de ser egoístas.

Desculpa. Sei que hoje faço muitas perguntas. Às vezes acho que estou a perder a cabeça. Não sei se aquilo que escrevo faz muito sentido, mas é assim que estou. Parada num ponto e com os braços caídos. Consecutivamente a levar algumas pancadas. Queres saber uma outra coisa? Acho que já nem as sinto. É como se me tivesse habituado a elas.

Estou realmente muito cansada. Durmo pouco. Não me estou a queixar da falta de sono. As marionetas também não se quixam disso. Não lamentar por estarem sempre a ser levadas para o palco e a obedecer aos movimentos de quem as comanda. Eu também não me posso aborrecer com isso. Afinal de contas sou uma marioneta.

Agora que te escrevo isto percebo que as únicas diferenças entre mim e as marionetas são duas: penso e sinto. Se isso não acontecesse concerteza que seria uma pessoa menos triste. Mas seria uma pessoas corrompida. Mais vale ser triste e não acreditar em ninguém do que ser corrupta como todos os outros que estão no topo, não achas?

Sabes o que é que eu faria, agora, neste preciso momento? Ia para uma casa, ao pé da praia, sem telemóvel e apenas com algumas roupas e algum dinheiro. Uma semana sem ninguém. Talvez conseguisse deixar de ser uma simples marioneta... Não sei.

Conta-me, como está o Carlos? Já está a fazer voluntariado? Isso era uma grande vitória.
E tu? Já estás a dar aulas na outra universidade? E a investigação?

Acho que agora vou dormir um pouco.
Amiga, qualquer coisa que precises diz, sim?

Um grande beijinho,

Helena Durães

P.S.: Desculpa-me por todas as questões. Responde às que quiseres e quando quiseres, é claro.
Saudades.

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