Entrevista a um hipotético jornalista

Há pouco tempo decidi entrevistar um jornalista. Chama-se Luís e já tem vinte e cinco anos de profissão.
Trabalhou em diversos jornais e conseguiu enveredar pelo jornalismo televisivo. Nunca se tinha visto a trabalhar atrás das câmaras, mas decidiu arriscar. Não é aquilo de que mais gosta de fazer e vive com o desejo de regressar aos tempos do jornais. Aos tempos em que existiam mais do que três jornais culturais e os suplementos sobre arte e música multiplicavam-se nos diários e semanários. 

- Nos anos 80 e início dos anos 90 foram prósperos em publicações jornalísticas. Sente falta desses tempos?
Desejo todos os dias que o tempo volte atrás. Regressar à época da imprensa escrita e poder escolher em qual jornal gostava de trabalhar era o que mais gostava de fazer agora. Estar em televisão faz-nos conhecer pessoas estranhas. Para além disso, adorava voltar ao jornalismo cultural, aquele que não estava entregue a uma elite.

- Mas acredita que actualmente o jornalismo cultural está entregue a uma elite?
Concerteza que sim. Se reparar a maioria daquilo que se escreve em termos musicais, de exposições ou literatura é feito por pessoas que adquiriam um estatuto, vai-se lá saber porquê, de grandes sábios dessa cultura. Mas o pior é que se esquecem que estão a escrever para as pessoas e muitas vezes ninguém entende o que eles querem dizer, só porque decidem ser"intelectualmente superiores".
- Então como acha que o dito jornalista cultural devia escrever?
Primeiro, importa esclarecer que em Portugal não há um verdadeiro jornalismo cultural. Existem apenas escritores e críticos de artes que escrevem para jornais, porque são pagos para fazer uma crónica de meia página, por exemplo. Mas o verdadeiro jornalista cultural, é aquele que dá a conhecer às pessoas aquilo que se passa pelo mundo das artes, com linguagem perceptível a todos e que mostre um pouco daquilo que o leitor do jornal pode encontrar na exposição que visitar ou na peça de teatro que for ver.

- Só assim se pode democratizar a cultura?
Claro. Só assim podemos chamar outros a fazer parte dela e a conhecê-la. Se se continuar a apostar em elites que insistem em escrever para eles e não para o público em geral, então eles permanecerão com o seu monopólio nas artes.

(continua....)


Nota: Esta é uma entrevista puramente ficcional.

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