A Riqueza da Ilusão

Dizem que damos importância ao que temos quando o perdemos. É capaz de não estar longe da verdade. Ultimamente, tenho pensado muito na importância de andar iludida. A tomada de consciência do engano é que nos tira a ilusão. Ou não?

Pensemos, a ilusão não significa que não saibamos a nossa verdade. Como diz o dicionário, a ilusão é uma "esperança irrealizável". É uma ideia que temos que não se vai concretizar. Ou seja, viver na ilusão não quer dizer que não se saiba o que é a nossa realidade. Sabe-se, mas conseguimos ter esta capacidade de imaginarmos algo de diferente, com uma esperança que sabemos que não se concretizará. Parece um paradoxo, mas creio que possa ser essa a melhor definição de ilusão.

E isso é essencial quando não se quer viver a realidade, porque não há uma identificação ou nem sequer a queremos. É como se conseguíssemos viver com esperança no sonho que está na nossa cabeça. Isso é bom. Acreditem que é apaziguador. Viver-se iludido com alguma coisa é óptimo. É o nosso escape e não se tem de lidar sempre, todos os dias, a todas as horas, a todos os minutos com a certeza de que não estamos como queríamos estar.

Agora, percebo como é importante ter um pouco de ilusão. Era ela que me amparava em tanta coisa. Talvez, tenha amparado sempre. Nos últimos tempos dizia que eu tinha perdido alguma coisa. Sentia que deixara de ver as coisas como sempre as tinha visto, o meu posicionamento perante as situações era distinto, mais cru, ou o meu próprio comportamento era muito mais distante, sério e sem entusiasmo. Era como se tivesse perdido alguma espécie de capa com  a qual eu tinha encoberto tudo à minha volta e que me permitia andar um pouco mais tranquila e a sorrir mais. Durante algum tempo não conseguia atribuir um nome a essa "capa".

Para quem vive sem a esperança efetiva e verdadeira, existem sempre situações que nos podem retirar a mera ilusão. E isso é... É a obrigação de estarmos sempre a olhar para baixo para o chão cru que pisamos ou, quem sabe, se pisámos sempre.

Agora, penso que cheguei à sua definição. Eu tinha a capacidade de me iludir. É mesmo uma riqueza ter essa capacidade. E, hoje em dia, desejo muito que seja possível aos outros manterem essa capacidade pelo maior tempo possível. Vive-se com alguma harmonia e, até, com algum entusiasmo. Mesmo que os dias nos pareçam todos iguais ou não haja grandes mudanças à nossa volta a ilusão permite-nos viver com essa esperança disfarçada, mesmo que seja pequenina, de que algum dia, assim algum dia, algo possa mudar. Depois, a nossa vida mecânica e monocórdica ajuda a cimentar a nossa realidade, deixa-a sempre a descoberto, mostrando-a como ela é, sem qualquer capa. E é duro. É bastante duro ter de lidar com isso constantemente.

Mas, e como poderíamos não ter ilusão, mas, sim, a verdadeira esperança? É claro, os arautos dirão que temos de ser nós a criá-la. Hum... Em terra sem água não nasce fruto.

Imagem: Ilusão de Ótica de Martina Fensterseifer (2015)

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