Vil Esperança
Amar o impossível é inútil?
Talvez seja inútil porque daí não se retira nada. Não há uma qualquer consequência desse sentimento unilateral, sentido por apenas uma pessoa, sem retorno, sem realidade. No fundo, é como amar na nossa imaginação. Não há forma de nada se tornar palpável.
Às vezes, penso se te amo. Até hoje, não o consigo saber. Amar-te-ei de forma contínua, inteira e abnegada? Custa-me a acreditar que sim, mas... Talvez sim. Talvez te ame, pregada nesta cama que anseia por ti. Como estiveste daquela vez, lembras-te? Daquela única vez, mesmo antes de me esqueceres.
Agora que escrevo isto, vêm-me sempre à mente as imagens que eu tento sempre apagar, renegar, pisar. Coloco-as lá no fundo, empurro-as ainda mais para baixo, com os dois pés, para que elas possam ficar escondidas no meu inconsciente e não saltem cá para fora e eu continue a vê-las. Não! É tão mais doloroso quando assim é. Quando te recordo antes da inevitável despedida, começa por ser bom, mas depois a certeza de que já não estás é mais avassaladora. A tua ausência é mais avassaladora do que as memórias que me deixaste. E, agora? Diz-me como é que agora posso viver com isto.
Diz-me, anda! Fala, porra! Aparece! Aparece de uma vez por todas e responde-me! Responde-me: como raio posso eu agora viver com tudo isto? Como?
Choro.
Choro sempre. Dizem que não se pode chorar muito. Dizem que é mau sinal.
Será?
Sabes porque choro? É a única forma de tornar em algo concreto aquilo que sinto. É a única forma de tornar em matéria tudo aquilo que me fazes viver... Toda esta dor profunda com que me deixaste e a qual não consigo largar.
Sabes porquê? Sabes porque é que não a consigo largar? Porque não quero perder esta esperança infame que tenho de ainda te ver. Não quero perder esta vil esperança que me mantém enganada. Não quero perder esta triste esperança de que um dia me procurarás e me darás alguma espécie de sentido a tudo. Que me restituirás esse sentido das coisas que me roubaste.
Sim.
Tu roubaste-me. Tu levaste-me. Não sei para onde. Eu não sei onde estou. Eu não sou eu. Eu não me sinto eu desde que desapareceste. Levaste-me contigo, mesmo sem o saberes. Sem o saberes tens-me contigo durante todos estes anos.
Eu sei que estou contigo. Inexplicavelmente, eu sei que estou contigo num qualquer sentido etéro e louco. Sinto-te. Ainda te sinto. Deus!, como te sinto e como tenho esperança de te voltar a sentir.
A esperança... Cá está ela, outra vez. Como é que se mata? Como é que se mata a esperança, sabes?
Preciso de matar a minha.
Lutar todos os dias contra ela é tão cansativo. E eu... Estou exausta de lutar todos os dias contra a esperança. De cada vez que ela aparece, assim que penso em ti, logo, muito depressa!, eu escondo-a com a minha racionalidade e consciência da minha realidade. Faço isso todos os dias, e isso é tão cansativo.
É uma luta constante, é por isso que eu tenho de a vencer. A minha fria, crua e previsivel racionalidade tem de a matar.
Este combate tem de terminar!
Talvez aí conseguisse descansar.
Fechar os olhos e sonhar.
Sim.
Aí, descansaria.
Não teria mais nenhuma luta.
E também eu morreria.
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