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O Vínculo da Transparência

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É quase como um jogo de pingue-pongue. De um lado, uma pergunta. Do outro, uma resposta. E, assim, vice-versa. Por vezes, o silêncio também se instala. E quando assim é, nada parece estranho ou pouco confortável. Não. Muito pelo contrário. Ela sabe que ele a olha, ela sabe que ele está atento ao que ela está a fazer. Por isso, basta uma pequena palavra, uma constatação de um facto, para que ele a oiça. E ele responde, diz algo sobre aquele assunto. E a conversa continua animada. Mas, são os olhares, as expressões faciais, o acenar da cabeça, a forma como o seu corpo se coaduna com o lugar onde está. A sua postura corporal, descontraída e completamente à vontade. Sim. Continuam a ser os pequenos gestos que ficam na memória, que mais a fascinam.  Ela tenta chegar a um papel, ao mesmo tempo que ele. E, subitamente, as mãos tocam-se. E não há nada de desconfortável, nem de vergonha. Não. Há apenas uma leveza de espírito que se instala entre os dois... Uma leve...

A Fuga de Treze

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Treze tinha uma vida normal: andava pelas ruas quando não tinha aulas, brincava com os seus amigos na escola, a mãe e o pai cuidavam sempre dele, fazendo com que se tornasse num miúdo carinhoso, educado e a sorrir para a vida.  Porém, as coisas mudam e a vida de Treze não foi excepção. Para um miúdo foi tudo repentino. As malas à porta, depois das contínuas discussões entre os pais, eram sinais que ele não poderia ignorar. Ele iria embora? O pai iria sair porta fora? Não. Afinal, não. Era ela. Aquela pessoa que ele sempre pensara que amara toda aquela vida conjunta abandonava o barco. A mãe saía de casa com a promessa de que iria buscá-lo para ficar com ela. Treze não percebia muito bem o que é que estava a acontecer. Ele nunca tinha visto o pai chorar. Agora, parecia que era assim todos os dias. Quando um dia de manhã, Treze bateu na porta do quarto do pai e viu-o deitado, com uma garrafa na mão, ele sabia que o pai também estava a mudar. O medo crescia dentro de...

Tudo o que Ela Precisava

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É com algum cansaço com que Ana fecha a porta de casa. É já noite e ela não se consegue concentrar em nenhum dos seus gestos já mecânicos, marcados pela rotina diária. Fui um dia e tanto. Diferente de tudo aquilo que ela podia imaginar. Diferente de tudo aquilo que ela sentia habitualmente. Diferente da monotonia que era a sua vida. Tinha sido tudo tão espontâneo, tão sincero e tão livre que ela só podia sorrir. Como tinha sido bom. Como tinha sido saboroso. Como tinha sido intenso. No fundo, como tudo tinha sido tão cheio de vida. Já no seu quarto, Ana senta-se na cama. Mergulhada naquilo que tinha vivido durante a sua tarde, ela começa a descalçar-se. Na sua cabeça, ela consegue vê-lo. Ele ali está com a sua vivacidade, com o seu sorriso, com o seu olhar carinhoso. Ela lembra-se perfeitamente de como se sentiu bem junto dele. De como sentiu que pertencia ali. Ali àquele espaço, a ele. De como ela se sentiu confortável com ele. Em apenas umas horas, Ana estav...

O Conforto da Empatia

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É estranho sentir-mo-nos confortáveis junto de quem não conhecemos. Mas é um estranho bom, se é que isso se possa dizer. Talvez por não ser usual que isso aconteça, quando estamos nessa situação, primeiro pensamos que não é normal e até podemos ficar na defensiva. Mas, depois, assim que nos deixamos isso, essas reservas desaparecem. Simplesmente, porque nos sentimos tão à vontade, que já não estamos a pensar se isso é estranho ou não. É aí que podemos falar de empatia. E, agora, pensando bem, a empatia é engraçada. É engraçada porque... Conseguimos explicá-la? Conseguimos justificar porque temos empatia com certa pessoa e com outra não? Se me perguntarem porque é que criei empatia com alguém eu não consigo explicar. É algo que se sente e pronto. É a tal sensação de conforto que se instala. Não sei se é por pensarmos que o outro é interessante ou se é por partilharmos os mesmos interesses, por exemplo. Porém, isso não me faz grande sentido, porque, na realidade, partilho...

Animais Com Diploma

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Muito se tem falado sobre o "tal vídeo" que o Correio da Manhã divulgou de uma rapariga a ser abusada num autocarro cheio de jovens que aplaudem o acontecimento. Como devem calcular, não vou conspurcar o meu blog com links do Correio da Manhã nem com vídeos deste tipo, por isso se não souberem do que falo procurem no Google. Posto isto, apraz-me tecer algumas considerações sobre este assunto. Primeiro, na minha opinião, é no mínimo desprezível aquilo que aconteceu. Desde o acto do rapaz a todo o "achincalho" dos outros estúpidos que estavam à volta.  Segundo, surpreendentemente, aquilo que gerou mais confusão nas redes socais, pelo menos daquilo que me apercebi, foi o facto de o Correio da Manhã publicar o vídeo. Correm por aí muitas opiniões sobre o facto de ser ou não legítimo por parte do órgão de comunicação social publicar tais "notícias". Vi poucas considerações acerca daquilo que está realmente a acontecer no vídeo: não de dis...

A Pedra Pequenina

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Ela sente-se tão pequenina. Tão pequenina como uma formiga que anda tão rápido para se esconder... Pensando melhor. Não. Ela não se sente como uma formiguinha, até porque ela não foge. Ela não se mexe. Ela apenas fica ali, no seu canto, à espera que alguém lhe dê um pontapé que a faça rebolar para a beira da estrada. Sim. É isso. Ela sente-se como uma pedrinha. Pequenina, redondinha, daquelas que passam despercebidas.  É assim que ela se sente ao pé de todas as outras pedras imponentes. Daquelas que são impossíveis de não se fazerem notar.  Ela apenas está ali, naquele canto a admirar tudo. A admirar as pessoas que passam, os sorrisos de quem é feliz, o beijo de quem está apaixonado, o abraço apertada de quem se ama. É sempre tudo tão arrebatador que, por um momento, ela esquece-se da sua condição de ser pequenina e sonha... Imagina... Imagina, como seria se fosse ela? Se fosse ela a andar na rua a rir, se fosse ela a andar de mão dada, se fosse ela a evidenciar-se no ...

Hoje Portugal Está Diferente

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São raras as ocasiões em que tanta coisa acontece no mesmo dia.  Portugal hoje acordou diferente. As pessoas estão diferentes. Basta sair à rua para ver que algo mudou. Há mais sorrisos, mais, mais gargalhadas, mais brincadeiras. Há contentamento em cada canto, olhos que brilham porque, afinal, hoje acordamos com o sentimento de que somos bons e que isso é reconhecido. Para mim é especial. É muito especial porque não foi apenas um acontecimento que me deixou contente. Não. Foram os três. Sou uma mulher que hoje tem três grandes motivos para continuar a celebrar. Primeiro. O Papa Francisco esteve em Portugal, mais concretamente na celebração daquilo a que os católicos se referem como os 100 anos da aparição da Nossa Senhora, em Fátima. Porém, para mim, aquilo que me deixou o coração a brotar de orgulho foi a forma sincera, honesta e desinibida (à imagem daquilo a que ele já nos habituou) com que o Papa Francisco se dirigiu a todos. Nas suas palavras, Maria não pode ser...