A Pedra Pequenina

Ela sente-se tão pequenina. Tão pequenina como uma formiga que anda tão rápido para se esconder... Pensando melhor. Não. Ela não se sente como uma formiguinha, até porque ela não foge. Ela não se mexe. Ela apenas fica ali, no seu canto, à espera que alguém lhe dê um pontapé que a faça rebolar para a beira da estrada. Sim. É isso. Ela sente-se como uma pedrinha. Pequenina, redondinha, daquelas que passam despercebidas. É assim que ela se sente ao pé de todas as outras pedras imponentes. Daquelas que são impossíveis de não se fazerem notar. 

Ela apenas está ali, naquele canto a admirar tudo. A admirar as pessoas que passam, os sorrisos de quem é feliz, o beijo de quem está apaixonado, o abraço apertada de quem se ama. É sempre tudo tão arrebatador que, por um momento, ela esquece-se da sua condição de ser pequenina e sonha... Imagina... Imagina, como seria se fosse ela? Se fosse ela a andar na rua a rir, se fosse ela a andar de mão dada, se fosse ela a evidenciar-se no meio dos outros.

Ela sorri com nostalgia, sabendo, ao mesmo tempo que isso é impossível. Porém, mesmo assim, ela puxa um pouco mais pela sua imaginação e continua a ver-se numa realidade completamente diferente... 

Como é que seria se uma pedra pequenina como ela, fosse a mais brilhante de todas as pedras? Como seria se ela, mesmo com a sua quase insignificância, conseguisse arrancar a atenção para si, para que, finalmente, as outras olhassem para ela, vendo que, apesar de pequenina, ela tem uma personalidade e beleza próprias. 
Como? 
Como seria se olhassem para ela até com um pouco de inveja? 
Mas, mais importante do que isso, como seria se olhassem para ela com respeito?

Ela fecha os olhos e abana a cabeça ao de leve. Ela tem, de facto, uma imaginação muito viva. Isso seria arrebatador, nem que fosse por uma vez, ela tem a certeza. E de repente, vindo do nada, a realidade abate-se sobre ela. Aquele sorriso nostálgico é substituído pelo sorriso triste e pela lágrima que teima em escorrer no seu rosto, apesar do seu esforço para a disfarçar. É como se a pedra pequenina fosse chutada para o lado, de modo violento e sem aviso, mandando-a para um outro canto. Assim. Sem mais nem menos. Assim, como se aquele que a chutou, não se tivesse dado conta de que o tinha feito.

Aí, nesse canto, ela volta a encolher-se. Volta a encostar-se o mais que pode à parede, para continuar a passar despercebida. E ela descobre que até tem jeito para isso. Tem jeito para se tornar despercebida. É, talvez, a única coisa que sabe fazer, por isso ela dá o seu melhor para continuar assim, quase como que transparente. Pelo menos, dessa forma, ela pode estar triste sozinha, sem transpôr esse fardo para alguém. Ela sabe que não tem o direito de incomodar quem quer que seja com isso. Afinal, ela continua a ser uma pedra pequenina, a qual ninguém vê... Da qual ninguém sabe o que quer que seja... Da qual ninguém sabe o que é que ela sente.

Ela é uma pedra pequenina, com um espírito pequenino, mas com uma imaginação tão grande, que se torna, por vezes, dolorosa, por não caber no seu ser minúsculo.

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