Hoje Portugal Está Diferente

São raras as ocasiões em que tanta coisa acontece no mesmo dia. 
Portugal hoje acordou diferente.
As pessoas estão diferentes. Basta sair à rua para ver que algo mudou. Há mais sorrisos, mais, mais gargalhadas, mais brincadeiras. Há contentamento em cada canto, olhos que brilham porque, afinal, hoje acordamos com o sentimento de que somos bons e que isso é reconhecido.

Para mim é especial. É muito especial porque não foi apenas um acontecimento que me deixou contente. Não. Foram os três. Sou uma mulher que hoje tem três grandes motivos para continuar a celebrar.

Primeiro.
O Papa Francisco esteve em Portugal, mais concretamente na celebração daquilo a que os católicos se referem como os 100 anos da aparição da Nossa Senhora, em Fátima. Porém, para mim, aquilo que me deixou o coração a brotar de orgulho foi a forma sincera, honesta e desinibida (à imagem daquilo a que ele já nos habituou) com que o Papa Francisco se dirigiu a todos. Nas suas palavras, Maria não pode ser vista como uma "santinha a quem se recorre para obter favores a baixo preço". Haveria palavras mais correctas para dizer naquele espaço? Não. Na minha opinião, não podemos olhar para Deus, Cristo ou Maria como entidades a quem pedimos favores, com os quais pagamos com algo a que nos propomos a cumprir. O amor que Deus nos dá é livre. É livre de promessas e é desinteressado. Por isso mesmo, acredito que é o amor mais puro que alguma vez poderemos sentir. Rezar e "pedir" são duas coisas tão diferentes... Pena que no mundo actual ainda se continue a perpetuar esta confusão entre duas coisas que nunca poderia ser confundidas...

Ainda hoje vi que ontem o Papa Francisco voltou a pôr o dedo na ferida que está no seio da própria Igreja, no regresso a Roma: "(...) digo aos sacerdotes que fujam do clericalismo porque o clericalismo afasta as pessoas e até acrescento é uma peste na Igreja". A Igreja é criada por aqueles que acreditam em Cristo e o querem professar e dar a conhecer. Acreditar em Cristo não é ser radical. Não é sermos burros com duas palas nos olhos. Acreditar em Cristo é ser tolerante, respeitar o outro, olhar para o próximo com generosidade. Se cada um de nós conseguisse entender isso, não seria tudo mais fácil? Existem pessoas que nos podem guiar, mas devemos ter sempre presente aquilo que Cristo nos deixou e que é o essencial de tudo isto, deixando de lado dogmas e leis escritas pelo homem: Acreditar em Cristo é amar, verdadeiramente, deixando de lado o egoísmo, proclamando os valores do humanismo.

Segundo.
A vitória de ontem de Salvador Sobral foi imbatível. A canção "Amar Pelos Dois" foi a que obteve mais pontos tanto do júri como do público. O que se passou? A Europa acordou para aquilo que é a verdadeira música? Os europeus lembraram-se que estão fartas de luzes e de sons electrizantes? Finalmente, olharam para aquilo que a música tem mais de belo: fazer com que sintamos algo. A emoção... Sempre a emoção. E foi por ela que vencemos, só pode! Fomos dos poucos que levamos uma canção na língua mãe. Um cantor com um perfil meio desajeitado e desajustado para aquilo que é quase como uma "norma" para estar na Eurovisão. Um arranjo musical simples, sem grandes efeitos, que nos remete para uma pureza que é tão rara hoje em dia.

E foi assim.
De forma simples, emocionada e única que arrecadamos o primeiro lugar, num festival que, há muito, para mim, estava perdido.
Quem me conhece, sabe que não sou fã da música, nem da interpretação de Salvador Sobral. Mas, porra! Não sou surda, nem acordei agora para a música. A qualidade do tema é inegável e sempre disse que era muito superior a qualquer uma que os outros países apresentaram. É poética. É pura. É emocionante. É única. E, mais importante que tudo: é nossa. É portuguesa.

Tiro também o chapéu ao Salvador Sobral por aquilo que disse quando recebeu o prémio: "Vivemos num mundo de música descartável, de música fast food sem qualquer conteúdo. Música não é fogo de artifício, são sentimentos. Vamos tentar mudar isto e trazer a música de volta, que é o que realmente importa". Há declarações mais verdadeiras do que esta? A mim, não me parece. Finalmente, alguém chama a atenção para a música que a maioria consome hoje em dia! A música não é o mesmo conjunto de acordes tocados sempre da mesma maneira, em que apenas muda o arranjo electrónico e onde a letra e a voz não interessam para nada. Não. A música é muito mais do que isso: a música é aquilo que nos faz sonhar. É aquilo que nos faz rir. É aquilo que nos faz chorar. Porra! A música é aquilo que nos emociona. Às vezes, sem sabermos bem porquê. Mas é ela que nos dá sentido para aquilo que passamos, vivemos ou fazemos. Está na hora de dar à música mais reconhecimento por aquilo que significa. Está na hora de olharmos para a música com conteúdo e deixá-la fazer-nos sentir. Porque é isso que nos falta: sentir.
Já pensaram que quem votou em nós, votou em sem perceber o que é que o Salvador cantou? Votou pela emoção que esta música simples os fez sentir.

Terceiro.
Deixo para último, talvez por saber que muitos dos que possam estar a ler este texto não partilhem este terceiro motivo que faz com que hoje seja um dia diferente. Mas, para
mim, é um orgulho poder dizer que sou tetracampeã.

Sim! Sou tetracampeã e isso me envaidece.
Ser tetracampeã como adepta do Sport Lisboa e Benfica isso é fazer história. Estou a assistir a um momento histórico do meu clube.

Foram impressionantes as imagens no Marquês de Pombal, sem dúvida. Mas, ontem quando via aquelas imagens, apenas me perguntava: e como estarão a festejar todos os outros benfiquistas? Imaginem a festa, noutras cidades, noutros países, mas também na casa de cada adepto. Quantos não festejaram de alegria por ver o Benfica campeão?
Estamos cá. Permanecemos em primeiro, o lugar dedicado a quem é melhor. E o Sport Lisboa e Benfica continua a provar que é o melhor. 

Estou a viver um momento que nenhum adepto do Benfica viveu até aqui, em 113 anos de história. Como é que não poderia estar com o coração aos pulos? É impossível.

O que também é impossível, é conseguir explicar a alegria que sinto (o que explica as poucas palavras que aqui deixo para falar do meu Benfica). O orgulho que tenho no meu Benfica. O orgulho que tenho em todos aqueles que nos levaram até aqui.

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