Perderam-se Um no Outro

Os seus dedos passam de novo por ela, percorrendo a forma do seu corpo, como que a recordar, novamente, o caminho que as suas mãos fizeram há algumas horas atrás. Tanto um como o outro não se querem perder daquele lugar. Daquele lugar só deles, que acabaram de construir.

Lá fora a chuva cai sem parar, porém, ali naquele quarto, é como se estivesse o dia com o sol mais bonito, onde o tempo não passa e a música de fundo apenas dá vontade de fechar os olhos e de a cantarolar baixinho, bebendo naquela melodia única que nos diz que a perfeição neste mundo pode existir.

Ela suspira contra o seu peito e acaba por imitá-lo, passando a palma da sua mão pelo seu tronco, sentido e percorrendo as marcas do seu corpo... O relevo da sua pele. Ela sorri. Simplesmente, sorri, como se mais nada quisesse do mundo. Nada mais era necessário para que ela descobrisse onde pertenceria. Ela já o sabia. Ela pertencia, ali, àquele lugar, àqueles braços.

Ele tem os olhos fechados, sabendo que apenas precisa do seu toque para ter na sua mente a figura daquela mulher. Nada mais era necessário, para que ele nunca mais a esquecesse. Aqueles olhos grandes, castanhos, e cheios de vida que lhe podiam dar tudo aquilo que ele mais ansiava mas que, ao mesmo tempo, lhe podiam tirar toda a vontade própria. Finalmente, ele decide abrir os olhos para voltar a admirar a imagem daquela mulher. Ele beija-a na face, bebendo da textura daquele cabelo castanho que mais parece seda.

"Perdemo-nos um no outro, uh?"
Ele é o primeiro a falar. Ele não sabe bem porquê, apenas que quer ouvir aquela voz... Aquela voz que o trouxe até ali. No entanto, ela não lhe responde com palavras. Apenas acena no seu peito. Ele volta a fechar os seus olhos e aperta o seu abraço.

"Mas ao mesmo tempo encontrámo-nos" 
Ela diz calmamente, quase num suspiro. Ele abre os olhos e sorri. Ele conseguiu. Ele conseguiu fazer com que ela falasse, ouvindo, assim, de novo o seu tom de voz.

"Sim... Isso é certo. Tão certo como te sentir nos meus braços, agora... 
O que é isto?"
Ele não quer parecer um otário por lhe estar a fazer essa pergunta agora. Mas ele quer saber... Ele pelo menos quer tentar saber o que é isto que ele está a sentir. Este sentimento de plenitude, como se estivesse num outro mundo onde mais nada interessa... Só importa estar tão perto daquela mulher.

Ela sabe o que ele gostaria que ela lhe dissesse. Mas ela não pode. Ela não pode fazê-lo assim, deliberadamente, como se não se importasse com mais nada. A consciência... Essa que se calou no momento em que se perderam um no outro, porém ela acaba de voltar. 

Ela volta sempre e, agora, ela quer sair do seu abraço. Porém, com uma força que desconhecia que tinha, ela consegue combater a consciência e deixa-se estar mais um pouco.

Ele sente a mudança repentina dela e sabe que a sua questão a fez pensar.
"Desculpa"
"Não tens de pedir desculpa... As coisas são como são"
Ele suspira e diz:
"Sim... Só temos de continuar a lidar com elas..."
Ela volta a acenar contra o seu peito ao mesmo tempo que já não consegue voltar a calar a tal consciência. Ela deixa um beijo na pele dele e move-se para a beira da cama, levantando-se. Ele admira, mais uma vez, aquele corpo nu que ainda há pouco tempo tinha sido seu. 

Mas agora já não era.

Ele volta a suspirar e também se levanta.
Está na hora de sair e voltar ao mundo de onde fugiram. Eles vestem-se e em pouco tempo estão prontos para regressar lá fora. Olham um para o outro ao mesmo tempo que dizem.
"Vemo-nos numa outra vida..."
"Vemo-nos numa outra vida..."

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