Quando Somos Menos Um

São demasiadas as vezes em que nos cresce o ego. Por pensarmos que não valemos nada, caímos no erro de pensar que somos melhor do que os outros... Como se a certeza de que somos uma nulidade nos desse automaticamente a certeza de que somos melhores do que os outros, tendo comportamentos diferentes e distintos. Mas não é assim.

Podemos ser um zero, mas não nos podemos esquecer que nos podemos tornar num menos um. É claro que o que também nos define é a forma como lidamos com o facto de tomarmos uma atitude de menos um. Ficamos a pensar nisso? Esquecemo-nos? Não lhe damos importância?

Se tomarmos uma atitude de menos um e não pararmos para refletir, algo está mal. Se, por outro lado, sentimos remorsos, não conseguimos esquecer e nem sequer nos sentirmos dignos das boas coisas que nos acontecem... Então talvez não estejamos perdidos.

É aquele confronto com a realidade de que naquele momento ou naquela hora nos tornámos iguais àqueles que na nossa cabeça são os porcos, feios e maus, que nos revolta. Nem que seja por um segundo, tornámo-nos iguais a eles... E o conhecimento disso é aterrador. Não podemos apontar o dedo, mesmo que o façamos quando estamos connosco próprios. Não podemos. Mais cedo ou mais tarde, mostramos a nós próprios que podemos ser iguais. 

É claro que de nada serve pensarmos na estupidez que fizemos se, num próximo momento, tomarmos a opção errada de voltarmos a ser menos um. Isso já faz de nós obtusos, daquelas pessoas que já não mudam.

Reflectindo bem sobre aquilo que fazemos todos os dias, a certeza de que não somos muitas vezes aquilo que professamos é uma realidade. Somos hipócritas. Em algum ponto da nossa existência já fomos hipócritas ou até continuamos a ser hipócritas. E isso é tão triste. 

Mais do que pensar que temos o coração no sítio certo, essa certeza tem de ser expressa nessas pequenas ações, nesses pequenos gestos do dia a dia. Pelo menos nesses tem de estar presente. Se não está nesses, como poderá estar no resto? Ela não existirá, não passando apenas de uma fantasia da nossa imaginação que dizemos a nós próprios vezes sem conta, arranjando provas de que temos um coração grande. Mas a nossa imaginação, as justificações criadas por nós, não são reais. É a nossa ação no quotidiano que as torna reais.

Além de toda a minha certeza de que hoje fui menos um, também sei que não somos os nossos erros. Somos mais do que isso. Numa outra situação, hoje li que alguém perguntava: onde é o nosso lugar? O nosso lugar é estar abaixo do zero porque fomos menos um? Ou será que nos podemos manter no zero, coleccionando momentos de menos um? Como encontramos o nosso lugar? Como somos capazes de encontrar o nosso lugar e ficar, ou não, satisfeitos com ele? Não sei. Temo que alguns de nós nunca cheguem a encontrar o seu lugar, vivendo num limbo permanente de dúvida, de angústia, de dor, de medo de falhar, acima de tudo, connosco próprios. Ou será este próprio limbo um lugar?

Se o limbo for um lugar como se vive? Como se vive assim, na incerteza do que seremos? Na incerteza daquilo que somos hoje, ou do que seremos amanhã? Ontem fui um um, hoje sou um menos um, amanhã serei um zero.

Às vezes penso como seria bom se não pudéssemos pensar. Assim, num ápice, nem que fosse por um minuto, fazer tudo sem pensar, sem ponderar, sem questionar o depois. O que poderia fazer se tivesse essa oportunidade? Não sei, mas, uma coisa é certa: poderia descansar muito melhor. 


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