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Qualquer Dia Alguém a Levará Daqui

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Ela abre os olhos. Tal como faz todas as manhãs. "Mais uma...", pensa ela. Mais uma manhã em que ela está viva, apenas ciente desse facto pelo coração que continua a bater. Pisca os olhos uma... Duas... Três vezes. Um outro dia que começa, que apenas segue a sequência ditada pelo planeta e pelo calendário. Ela esfrega os olhos. O barulho que ouve fá-la perceber que são horas. Olha para o relógio na mesinha de cabeceira e, de facto, são horas de se levantar. Ela não precisa de muito tempo para se arranjar. Tudo está onde tem de estar e quase que os seus movimentos são automáticos. Em pouco tempo está arranjada. Sai de casa. Seja o calor do Verão ou o frio do Inverno, como é o caso, além do coração que continua a bater, são duas das coisas que fazem com que ela se aperceba de que está viva. Hoje está realmente frio e ela sente-o. Parece que se entranha nos seus ossos e, por instantes, aqueles que levam a que o corpo se habitue, ela treme. É desconfort...

O Natal dos Sós

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O Natal é uma época em que todos ouvimos o mesmo: “Desejo muita paz e saúde!” “Tudo de bom para a família” “Divirtam-se” E muito mais. Depois existem os anúncios publicitários, o consumismo, a maluquice das pessoas e a falta de respeito, os acidentes na estrada... E ainda é aquela época em que tudo serve como pretexto para estar com as pessoas, mesmo aquelas que nunca vemos durante o ano, nem fazemos o mínimo esforço para tal acontecer. Amor, ódio, solidariedade, egoísmo, bondade, maldade, a generosidade, o aproveitamento, a alegria e a tristeza. De tudo isto e muito mais se faz o Natal. De aspectos positivos e negativos, como em tudo na vida. Mas, o Natal também é feito de solidão. Não apenas aqueles que não têm ninguém, mas também aqueles que, mesmo com pessoas ao seu redor, se sentem sozinhas... Daqueles que não sabem o que é sentir o calor humano, por vontade própria ou por vontade alheia... O meu pensamento está, também com eles, neste pequeno texto. Quanta mágoa será preciso sent...

A Perda do Sentir

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Um dia olhamos para trás e vemos o que nos levou aonde estamos agora. Ficamos tristes ou felizes, dependendo daquilo que temos. Daquilo que conseguimos, ou não, alcançar. É nessa reflexão que ganhamos consciência do que somos. E podemos ou não gostar disso.  Essa consciência pode-nos dizer para mudar.  Ou não. Quando tomamos a decisão consciente de não mudar arcamos com as consequências. Pode  parecer contraditório... Se não gostamos daquilo que somos e somos uns frustrados porque raio de razão não fazemos um esforço para mudar? Fazendo esse repto a nós mesmos as coisas podem correr bem e saímos do abismo onde estamos. Ou não. E se já tivéssemos feito esse esforço e nada aconteceu?  Então é porque a vida levou-nos, inevitavelmente, a onde estamos.  Com esforço ou sem esforço.  A gostar ou não.  É assim. E isso existe. Não apenas a ideia de que somos capazes de mudar tudo aquilo que quisermos. Isso é mentira. Existem mudanças que não acontecem.  E ...

A Prisão do Ponto Sem Retorno

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Quando chegamos a um ponto sem retorno é o mesmo que nos sentirmos presos. A nossa liberdade termina quando deixamos de ter a oportunidade de voltar atrás. Voltar ao ponto de viragem... De viragem porque tem subjacente duas escolhas: a de seguir em frente ou a de recuar. Se ficamos sem essa possiblidade, a de recuar, então só podemos andar para o que está a seguir.  E, às vezes, nem sempre o que vem a seguir é aquilo que queremos. Por isso mesmo estamos presos.  Como reagir perante essa realidade? É impossível que o consigamos fazer sem ressentimento, sem  frustração, sem irritação, sem tristeza. Porque nunca ficamos imunes a esses sentimentos se vamos fazer algo que nunca quisémos. Como se continua a viver se tudo aquilo que se perspectiva nos faz querer parar e recuar? É tal e qual como quando paramos num sinal STOP. Sem dúvida de que se estamos perante este sinal temos de parar. Para depois seguir em frente. Não podemos recuar, apenas seguir em frente. E se não quiserm...

Viver a Fazer o que Não se Quer

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Depois de um dia longo há uma questão que me assola e da qual não me consigo distanciar. Será que somos capazes de passar pela vida a fazer aquilo que não queremos? É estranha a sensação que se tem quando a maioria das pessoas nos dizem para fazer algo. E acabamos por fazer, nem que seja para que os outros nos deixem de aborrecer. Ainda existem aqueles que tomam como dado adquirido que vamos fazer algo e nem perguntam se o queremos fazer. Assumem que é isso que queremos, por isso não pensam sequer que é possível que estejamos a pensar o oposto. Que não queiramos fazer algo... Esse tipo de reacção não me parece incompreensível. Eu consigo racionalizar que isso aconteça... Que as pessoas não conseguem conceber essa hipótese. Como se costuma dizer: não estão nem para aí viradas. Passa-lhes ao lado e eu não condeno isso. Quantas e quantas coisas nos passam ao lado diariamente? Imensas. Aquilo que me pode incomodar é o facto de essas pessoas nos incitarem a fazer algo que não queremos. Ou s...

Contradição

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Nunca somos capazes de sentir uma só coisa.  Temos sempre tendência de nos colocarmos perante uma situação e termos vários sentimentos, e, por muitas vezes, contraditórios.  Invejamos aquilo que não temos, mas que também nunca quisemos. Esperamos toda a vida por algo que nunca esperamos ter. Renegamos aquilo que melhor nos faz. Amamos aquilo que odiamos. Odiamos aquilo que amamos, Estamos frustrados mesmo sabendo que somos impotentes para chegar a algo. Queremos fazer algo, quando não podemos fazer mais nada. Queremos parar ao mesmo tempo que queremos continuar. Queremos ter o tempo que desejamos perder. Temos medo daquilo que não queremos conhecer. Queremos esquecer aquilo que nunca somos capazes de apagar da memória.  Porém, não queremos apagar da memória aquilo que nos faz sofrer, porque seríamos diferentes. E, no fundo, nós não queremos ser diferentes, Não queremos, porque não somos capazes. Não somos capazes, porque não tentamos....

A Arte de Gerir Egos

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Gerir egos não é fácil.  Talvez até pudesse ser uma profissão: “Qual é a sua profissão, senhor?”  O outro responde:  “Sou gestor de egos”.  Parece-me um bom ofício... Mais do que um ofício é, de facto, uma arte. Têm de fazer determinada coisa para agradar a A. Não podem tomar outro caminho, senão B fica zangado. Deve-se elogiar C, porque precisa de se sentir o melhor do mundo. E assim ficam. A pôr paninhos quentes em tudo o que fazem sempre em prol dos caprichos do outro.   Podem tomar essas opções de vida se dependerem, por alguma razão, desse outro. E têm de aguentar. Pena é que, por vezes, esses “gestores de egos” sejam tratados como animais de estimação.  Pensa o supra-sumo: “Ah! O menino D tratou-me bem. Merece uma recompensa. Vou dar-lhe uma  festinha.” Ou então: “Ah! Como eu gosto desses elogios, menino E. Acho que merece um biscoito!” E assim se estabelecem relações. É certo que este tipo de relações apenas existem por culpa de ambos os lados. ...