O Natal dos Sós
O Natal é uma época em que todos ouvimos o mesmo:
“Desejo muita paz e saúde!”
“Tudo de bom para a família”
“Divirtam-se”
E muito mais.
Depois existem os anúncios publicitários, o consumismo, a maluquice das pessoas e a falta de respeito, os acidentes na estrada...
E ainda é aquela época em que tudo serve como pretexto para estar com as pessoas, mesmo aquelas que nunca vemos durante o ano, nem fazemos o mínimo esforço para tal acontecer.
Amor, ódio, solidariedade, egoísmo, bondade, maldade, a generosidade, o aproveitamento, a alegria e a tristeza. De tudo isto e muito mais se faz o Natal. De aspectos positivos e negativos, como em tudo na vida.
Mas, o Natal também é feito de solidão. Não apenas aqueles que não têm ninguém, mas também aqueles que, mesmo com pessoas ao seu redor, se sentem sozinhas... Daqueles que não sabem o que é sentir o calor humano, por vontade própria ou por vontade alheia... O meu pensamento está, também com eles, neste pequeno texto.
Quanta mágoa será preciso sentir dentro de nós para nos fecharmos aos outros? Quanto ressentimento é necessário transportar-mos dentro de nós para não conseguirmos esquecer a dor que se torna cada vez mais permanente? Quanta tristeza é preciso chorar, para que não consigamos parar o sofrimento que nos consome por dentro?
So posso pensar que, é preciso muito. É preciso mesmo muito para que, nem como numa época como esta, não se sinta qualquer tipo de diferença. Nem que fosse pelo simples facto de gostarmos da forma como as ruas estão decoradas e iluminadas. Nem que fosse pela alegria que vemos estampada nos rostos das crianças, mesmo que seja pela influência do consumismo. É preciso muito para que a dor e o desalento estejam entranhados em nós de uma maneira tal que nos leva a estarmos incapacitados de sentir algo de diferente.
É certo que existem pessoas que não criaram essa tradição de celebrar o Natal e é também certo que não é pelo facto de não o fazerem que significa que estejam sós. Mas aqueles que sempre a celebraram e que, por várias razões, já não o fazem... É doloroso.
Por isso, nesta altura, vale também a pena pensar naqueles que estão sozinhos ou que se sentem sós. Para eles deve, também, ser duro... Sentir que nada têm quando tudo aquilo que está à volta deles, fá-los acreditar que o mundo não é para quem está sozinho.
Não esquecendo, como já referi, aqueles que podem ter uma família ao seu lado, mas que continuam profundamente sós. Passar o Natal com alguém e, mesmo assim, sentir que estão sozinhos, deverá ser como se lhes faltasse uma parte de si. E depois entra aqui a culpa: como é que aqueles que têm alguém se sentem o direito de se sentirem sozinhos? E aqueles que estão, efectivamente, sozinho? Não será pior? Gerir a culpa auto-imposta torna tudo ainda mais complicado...
Àqueles que estão, verdadeiramente, submersos na solidão, aqueles que se martirizam, que encontrem neste Natal algo de bom, algo de que gostem, genuinamente... Mesmo que encontrem esse algo a sós... O que importa é que o encontrem.
A todos os outros, um Santo Natal.
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