Viver a Fazer o que Não se Quer

Depois de um dia longo há uma questão que me assola e da qual não me consigo distanciar.

Será que somos capazes de passar pela vida a fazer aquilo que não queremos? É estranha a sensação que se tem quando a maioria das pessoas nos dizem para fazer algo. E acabamos por fazer, nem que seja para que os outros nos deixem de aborrecer.

Ainda existem aqueles que tomam como dado adquirido que vamos fazer algo e nem perguntam se o queremos fazer. Assumem que é isso que queremos, por isso não pensam sequer que é possível que estejamos a pensar o oposto. Que não queiramos fazer algo... Esse tipo de reacção não me parece incompreensível. Eu consigo racionalizar que isso aconteça... Que as pessoas não conseguem conceber essa hipótese. Como se costuma dizer: não estão nem para aí viradas. Passa-lhes ao lado e eu não condeno isso. Quantas e quantas coisas nos passam ao lado diariamente? Imensas.

Aquilo que me pode incomodar é o facto de essas pessoas nos incitarem a fazer algo que não queremos. Ou seja, não sabendo elas que não queremos fazer isso que elas assumem que nós queremos, automaticamente, nos querem fazer crer que nos vamos sair bem nessa acção. E é, precisamente, aí que surge a questão “será que somos capazes de passar pela vida a fazer aquilo que não queremos?”

Porque se somos capazes de mascarar tão bem o nosso desprezo por algo que fazemos que os outros nem se apercebem, então é porque também somos capazes de ficar presos a algo que não queremos durante um período de tempo.

Agora, será que esse período de tempo se pode prolongar por toda a nossa existência? 

O homem é um animal de hábitos, mesmo que os nossos hábitos  sejam não ter hábitos. Mas o ser humano consegue adaptar-se. Portanto, se falamos em habituação e adaptação isso leva-me a crer que talvez isso seja mesmo possível. Talvez quem decida viver assim seja uma pessoal miserável. Não tenha nada, quem sabe, nem amor próprio. Mas também  não deixa de ser uma pessoa. Carrega em si as características de um ser humano e por isso deve ser respeitado. Talvez não idolatrado nem tido em grande conta. Afinal de contas, quem se deixa passar pela vida não merece ter grande coisa. Mas nunca se deve perder o respeito pelo ser humano.

Ainda não estou convencida de que seja possível viver sempre a fazer aquilo que não queremos. Mas só sei que devo perguntar mais vezes se as pessoas querem fazer determinada coisa. Mesmo que pense que as pessoas estão felizes, elas podem estar a mascarar os seus verdadeiros sentimentos. E isso também deve ser duro. Pode ser estúpido e sem sentido (porque se queremos mudar porque não fazê-lo?), mas é duro.


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