Contradição

Nunca somos capazes de sentir uma só coisa. 
Temos sempre tendência de nos colocarmos perante uma situação e termos vários sentimentos, e, por muitas vezes, contraditórios. 

Invejamos aquilo que não temos, mas que também nunca quisemos.
Esperamos toda a vida por algo que nunca esperamos ter.
Renegamos aquilo que melhor nos faz.
Amamos aquilo que odiamos.
Odiamos aquilo que amamos,
Estamos frustrados mesmo sabendo que somos impotentes para chegar a algo.

Queremos fazer algo, quando não podemos fazer mais nada.
Queremos parar ao mesmo tempo que queremos continuar.
Queremos ter o tempo que desejamos perder.
Temos medo daquilo que não queremos conhecer.
Queremos esquecer aquilo que nunca somos capazes de apagar da memória. 
Porém, não queremos apagar da memória aquilo que nos faz sofrer, porque seríamos diferentes.

E, no fundo, nós não queremos ser diferentes,
Não queremos, porque não somos capazes. Não somos capazes, porque não tentamos. Não tentamos porque desistimos. Desistimos porque já não temos força depois de tanto tentar.

Morremos por um abraço. No entanto, não deixamos ninguém se aproximar.
Estamos sem sentido. Não fazemos nexo. Será que alguma vez faremos? Será que queremos fazer sentido?
Estamos estragados. 
Estamos baralhados. 
Não sabemos o que somos. 
Apenas temos a certeza de que respiramos. E é isso que nos faz manter vivos. Isso e o coração a bater.

Não queremos saber de nada, ainda que queiramos saber de tudo.
Não queremos falar com ninguém, mas não conseguimos ficar calados.
Não queremos errar, mas, na primeira ocasião, somos os primeiros a cometer esse erro.
Não queremos mentir, mas passamos os dias a fingir ser aquilo que não somos.
Não queremos chorar, mas todos os dias as lágrimas preenchem o nosso rosto. Preenchem a nossa alma.

Queremos ser pedras para que nada nos afecte, mas continuamos a sentir as pancadas.
Queremos parar de sofrer, mas essa é a única forma de sentirmos que somos alguma coisa... Que estamos vivos.

Queremos dizer "Tenho saudades tuas" ao invés dizemos "Não me fazes falta".
Queremos dizer a alguém "fica", mas exigimos que esse alguém saia... Que se vá embora. 
Queremos amar, mas não o sabemos fazer. 

E não o queremos aprender.
Não deixamos que ninguém nos ensine o que isso é.
Porque estamos habituados à dor.
A dor é a nossa única companhia. 
É aquilo que está dentro de nós. 
É aquilo que nós somos.

Mesmo que queiramos voltar a ser livres.
Voltar a sorrir.
Voltar a ser felizes.

Mas como podemos voltar a ser algo se nunca o fomos, sem ser na nossa imaginação?

E essa imaginação...
Quantas vezes queremos deixar de imaginar, sabendo que ela é uma das poucas coisas que nos faz continuar neste mundo? E os anos passam, mesmo que os queiramos fazer parar.

Que contradição é essa que faz parte dos seres humanos?
Não de todos.
Apenas de uma minoria.

Mas eles existem. Esses que estão num sofrimento latente onde, mais cedo ou mais tarde, os vai sugar, sem deixar nada para trás. 

E aí tudo acaba. 
É só uma questão de tempo até tudo isto chegar ao fim.

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