A Perda do Sentir

Um dia olhamos para trás e vemos o que nos levou aonde estamos agora.
Ficamos tristes ou felizes, dependendo daquilo que temos. Daquilo que conseguimos, ou não, alcançar. É nessa reflexão que ganhamos consciência do que somos. E podemos ou não gostar disso. 

Essa consciência pode-nos dizer para mudar. 
Ou não.
Quando tomamos a decisão consciente de não mudar arcamos com as consequências. Pode  parecer contraditório... Se não gostamos daquilo que somos e somos uns frustrados porque raio de razão não fazemos um esforço para mudar? Fazendo esse repto a nós mesmos as coisas podem correr bem e saímos do abismo onde estamos.
Ou não.
E se já tivéssemos feito esse esforço e nada aconteceu? 
Então é porque a vida levou-nos, inevitavelmente, a onde estamos. 
Com esforço ou sem esforço. 
A gostar ou não. 

É assim.
E isso existe.
Não apenas a ideia de que somos capazes de mudar tudo aquilo que quisermos.
Isso é mentira.
Existem mudanças que não acontecem. 
E ponto final.
Há que aceitar isso e voltar a recolher-nos na nossa concha.

Essa aceitação não é fácil.
Porque raio não podemos ter aquilo que os outros têm?
Porque raio temos de ser constantemente ultrapassados?
Porque raio temos de ser continuamente pisados?
Porque raio temos de estar sempre presos?
Porque raio ficamos sem sentimentos?

Quando procuramos demasiado pelas respostas a estas perguntas, somos frios. Deixamos de chorar com os filmes, deixamos de sentir o que é o calor de um abraço, deixamos de nos alegrar com o outro, deixamos, para sempre, de saber sentir. 
De sentir algo. 
Amor ou ódio.
Tristeza ou Alegria.
Frustração ou realização.
Apatia. E é, exactamente aqui, em que passamos a sobreviver.

É as experiências que adquirimos ao longo da nossa vida que nos podem levar, ou não, a este ponto. No entanto, parece-me injusto culpar o passado pela nossa incapacidade de ser diferentes... Por não sermos fortes o suficiente para continuarmos a sentir. 

Mesmo que o façamos sozinhos.
Não sei como se pode continuar a ter a capacidade  de sentir se está só. Talvez não perdendo a noção de que os próprios sentimentos existem, muito embora, não cheguemos a experiência-los. Todos sabemos que não é pelo facto de não experimentarmos algo que isso deixe de ser uma realidade. Por exemplo, posso nunca ir ao Hawai, mas sei que  esse estado norte-americano existe.

Não é fácil ter esta clareza de espírito que nos permite ser tão racionais. Porém, talvez seja a única forma de estarmos vivos. Conseguir esboçar um sorriso quando vemos um casal apaixonado, sermos capazes de nos rirmos de uma piada que ouvimos na rua, ou de nos sentirmos livres em cada nota daquela canção que tanto amamos.

É duro. 
Mas é a única forma para quem está encurralado na própria vida de combater a apatia e de continuar a ter a capacidade de sentir.



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