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A história da rapariga sentada no Café

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Na mesa de um café, outros falam, ela finge que ouve. Só pensa: "Espero que acabe... Vou contar os meses, os dias, as horas. Quando terminas? Conhecer as pessoas torna a minha essência triste. Quero voltar a ser ignorante. Não conhecer aquilo que me rodeia, aqueles que estão ao meu lado. Tornei-me igual a eles. Sou fraca. É complicado ter consciência. Ser vazia e sorrir. Quero ser assim. Não pensar, não ponderar, não reflectir, nem sentir. Um autómato a sorrir. Sim! Quero ser isso. Estar programada para qualquer conversa e ser telecomandada. Não ter vontade própria e não conhecer os enganos, as jogadas maliciosas, o egoísmo. Mas também não quero saber o que são princípios, a ética, a honestidade, ideais. Quero ser um boneco. Sim... Um boneco manipulado por outros, mas que não sabe o que faz porque não tem cérebro. Não! Afinal é mesmo isso: não quero ter cérebro. Não quero ser consciente. Nem quero sonhar, nem imaginar. Quero ser vazia, sem sentimentos. Não conhecer...

Conversas com um hipotético Psicólogo

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Pensa um psicólogo, ou pelo menos um que se acha como tal: "O erro é complicado. Podem pensar que esta é uma frase simples, repetível por todos, que nada tem de original. Quem sou eu para dizer que ísso é mentira? Ninguém. Nem sei porque tenho de ser invetivo. De arranjar frases bonitas e poéticas para dizer aquilo que todos nós sabemos: o erro é complicado. Não quer dizer que com ele não venham coisas positivas. Posso dizer, outra vez, o que toda a gente sabe: a melhor consequência que o erro pode ter é o facto de para a próxima não o repetirmos e aí fazer o correcto. Desta vez, não quero pensar nisso. O erro pode trazer coisas positivas, como momentos de felicidade. Sim. É verdade. Dadas a certas decisões que tomamos e que na altura nos parecem mais acertadas, vivemos com elas e somos felizes. Agora que vejo a enormidade do meu erro, sinto que isso é verdade. Mesmo com a má decisão que tomei, fui feliz. Talvez tivesso mesmo que errar, para que nesse mesmo erro sentisse a...

O que acontece quando os PunkSinatra vão ao Bairro Alto

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22h.  Combina-se um quarto de hora antes, mesmo tendo a certeza de que nada acontece no tempo em que está previsto, tenho esperança de que vai ser diferente. É claro que não foi.  Atraso e atraso, mas nada que não se resolva. "Estamos atrás de ti", é o que me dizem. Eu não vejo ninguém.  "Será que se enganaram?" Não. Eles é que me enganaram a mim. Afinal de contas eles é que já estavam mais à frente e no final apercebo-me que estávamos todos à espera uns dos outros.  Não há crise. Hoje não é noite para preocupações. Assim que chegamos ao local combinado, que não tínhamos bem a certeza onde era, já passava meia hora da hora marcada. Estava com esperança de que as coisas estivessem prestes a acontecer. Só depois me apercebo de que a noite não era para ser previsível, por isso, o início da música ainda demorava. Cumprimento o vocalista, mas ainda não tinham chegado todos. E se fôssemos dar uma voltinha pelo Bairro?  Lá fomos nós, como se nunca tivéssemos andado ...

O Cair da Máscara

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Tento escrever, não consigo. Máscara... Onde andas tu? Preciso de ti desesperadamente para continuar a sobreviver. Para não falar com ninguém, para mentir, omitir, esquecer. Como te queria esquecer. Fechar os olhos e adormecer... num todo eterno. Não ter de tomar decisões, rir-me sempre. Ai! Como tenho saudades de me rir. De me juntar convosco. De parvoices. Como sinto falta das futilidades. De não pensar... Só quero isso: acordar e nada me lembrar. Sem tretas. Desconhecer preocupações, acreditar em ilusões. Não criar expectativas, sem nada programar. Voltar a ser criança. Ver os desenhos animados a manhã inteira, fazer um ditado e correr no recreio. Ir a casa da amiga, fazer os trabalhos de casa e brincar... brincar... brincar. Sem futuro e sem esperança. De que é que sou feita? De raiva daqueles que se autoproclamam. Dos que prometem e nada dão. Daqueles que comem da mão de quem trabalha todos os dias. Dos tristes que pedem, dos que nada fazem, dos mentirosos e ...

Por Breves Instantes

Por breves instantes damos um abraço, um beijo, uma lágrima, um aperto. Enquanto se bebe um copo, uma criança morre, uma criança nasce, um homem melhora e um homem piora. Por pequenos instantes somos felizes, e somos também infelizes. Sorrimos por pouco, choramos por muito. Queremos seguir em frente, fartos da nossa rotina. Mas também sentimos saudades, nostalgia dos bons momentos que vivemos nela. Por breves momentos sofremos, traímos, rejubilamos. O ser humano rege-se por planos. Planeamos o futuro com uma agenda, cada coisa em cada hora. Em breves segundos alteramos encontros, desmarcamos trabalho. Sabemos o que está certo ou depressa descobrimos que afinal errámos. Em breves instantes o que conhecemos, o que planeamos, o que sonhamos deixa de fazer sentido. Arrepende-mo-nos das nossas decisões, desejando voltar atrás no tempo. Por breves minutos conhecemos alguém, mas deixamos de conhecer aqueles que já conhecíamos. Por breves instantes temos, mas também deixamos de ...

Entrevista a um hipotético jornalista

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Há pouco tempo decidi entrevistar um jornalista. Chama-se Luís e já tem vinte e cinco anos de profissão. Trabalhou em diversos jornais e conseguiu enveredar pelo jornalismo televisivo. Nunca se tinha visto a trabalhar atrás das câmaras, mas decidiu arriscar. Não é aquilo de que mais gosta de fazer e vive com o desejo de regressar aos tempos do jornais. Aos tempos em que existiam mais do que três jornais culturais e os suplementos sobre arte e música multiplicavam-se nos diários e semanários.  - Nos anos 80 e início dos anos 90 foram prósperos em publicações jornalísticas. Sente falta desses tempos? Desejo todos os dias que o tempo volte atrás. Regressar à época da imprensa escrita e poder escolher em qual jornal gostava de trabalhar era o que mais gostava de fazer agora. Estar em televisão faz-nos conhecer pessoas estranhas. Para além disso, adorava voltar ao jornalismo cultural, aquele que não estava entregue a uma elite. - Mas acredita que actualmente o jornalismo cul...

A ignorância é sagrada

Os cínicos, os hipócritas e os mentirosos enchem este mundo. Sai daqui, sarna nojenta que não me largas o pé. Esse teu nojo cobre-me dos pés à cabeça e eu não consigo afastar a minha repulsa daqueles que me comem os princípios. Aqueles que deitam a baixo aquela coisa à qual damos o nome de moral . Tenho nojo de todos vocês! Vomito. Inundo o chão daquilo que sou. São como lama que se agarra à minha roupa. Sinto o vosso odor na minha pele. Esse cheiro fétido que me preenche e do qual não me consigo livrar. A culpa é tua e só tua. Por tudo aquilo em que me fizeste acreditar. Por me teres manipulado tão subitamente, tão suavemente, tão carinhosamente. A ilusão e a mentira. Quero-as de volta. A ignorância é sagrada. É aquilo que nos faz sorrir. Desprezo. Tristeza. Horror. Medo. Saiam! Saiam daqui, seus porcos imundos que me perseguem! O que querem de mim? Que seja como vós... um animal amestrado. Uma máquina. Uma simples escrava dos vossos desejos. Não sinto nada. O que é...