Viver & Sobreviver

É estranho o sentimento de estarmos no limbo. Somos como aqueles automobilistas que gostam de ir no meio das duas faixas sem saber se querem ir para a direita ou para a esquerda. Esta comparação pode parecer demasiado estúpida, mas é verdade. 
Estamos sem reagir. 
No fundo nós queremos reagir. 
Mas não sabemos como.

Parecemos completos zombies sem saber o que fazer daquilo que somos. Sem sabermos aquilo que
realmente queremos. O medo, a incerteza, a falta de coragem, as nossas fraquezas deixam-nos para trás. Na nossa cabeça nós sabemos que não pode ser assim. Nós queremos reagir. evoluir, crescer, mas não somos capazes. Talvez seja o nosso coração que não está em sintonia com a nossa cabeça. Se a nossa cabeça nos diz para seguir em frente, nós temos a certeza disso, então porque é que não o conseguimos fazer? É como se uma força nos mantivesse presos no mesmo lugar. Será essa força o nosso coração? Como comandamos o nosso coração? Será apenas o tão aclamado tempo que o pode fazer? Será isso? Se assim for, quanto tempo temos então de esperar para que deixemos de estar no limbo? No meio do nada, sem qualquer motivo que nos faça dar o passo em frente.

Como costumo dizer existem duas coisas muito diferentes: há o viver e o sobreviver. Quando vivemos realmente o principal objectivo é fazer de tudo para sermos felizes. Fazer o que nos apetece, aquilo que nos faz sentir confortáveis. Sem amarras. Realizar sonhos, ter a coragem e a força necessárias para as adversidades, estarmos com as pessoas que nos amam e seguir em frente. Passo a passo conseguimos chegar ao que queremos.

Aqueles que estão nesse limbo apenas sobrevivem. Por aquilo que vejo, o assustador é que existem pessoas que passam a vida inteira a sobreviver. Ou seja, passam ao lado daquilo que pode ser a vida: não encontram o amor, perdem amizades, não conseguem encontrar o seu talento, aquilo em que podem ser os melhores e sofrem. Uns em silêncio, outros não, mas passam uma vida de sofrimento. E, pior do que isso, é que a passam sozinha. Penso muitas vezes nisso: há pessoas que sofrem tanto sozinhas. Sem ninguém para poder falar, partilhar quem são, sem um abraço. Que raio de vida é esta se têm tudo e mais alguma coisa, mas não conseguem ter alguém que os apoiem nesta jornada? Custa-me perceber como é que estas pessoas conseguem sobreviver e passar, desta forma, os seus anos. Durante muito tempo pensei que as pessoas conseguiriam passar assim a sua vida sem grande esforço, mas isso é um completa mentira. Não faço ideia de quanto elas se esforçam para se levantarem todos os dias, para cumprir com as suas obrigações, sem esperar mais nem menos do futuro. Não esperam nada. Sem vontade, sem perspectivas, apenas a sobreviver na sua rotina. Acredito que depois de algum tempo, as pessoas possam habituar-se a sobreviver, no entanto, a dureza desta forma de vida não deixa de existir. Muito pelo contrário.

Tanto para quem vive como para aqueles que simplesmente sobrevivem, na maioria dos casos, as pessoas adoptam esta forma de estar na vida por tudo aquilo que as precede. Ou seja, pelas suas referências, pelo seu passado, pelas coisas boas e más que foram acontecendo, pelas vicissitudes da própria vida, aqueles momentos que não podemos controlar. Talvez aí resida a tal "pontinha de sorte" de que tantos falam. Se tivermos sorte, aquilo que não podemos controlar na vida pode, de facto, dar-nos novas oportunidades, e isso é óptimo. Se apenas forem acontecimentos que nos deitem abaixo consecutivamente, aí tudo se torna mais difícil. E é aí que o sofrimento começa a ser construído, com as desilusões, as amizades que terminam, o afastamento das pessoas, a falta de objectivos, aqueles que nos vão destruindo ao longo do tempo... Depois disso apenas ficam destroços. 

Sim. As pessoas que "sobrevivem" são destroços. Estão lá, mas nada lhes vai acontecer. Até que alguém acabe definitivamente com eles. É duro. Só posso dizer que é duro saber que tudo isto é real. E o que é que podemos fazer?

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