O Cansaço de Estar Cansada
O próprio cansaço é extenuante. Sei que é uma repetição, uma redundância, mas não será isso, também, o que é o cansaço? Aquela sensação do peso constante do mesmo? O peso constante da repetição da rotina. Não será o cansaço o mesmo que a redundância. Ele próprio é redundante. É algo que anda à volta de si mesmo. Não sai dali. É por isso que o cansaço cansa.
Sim, o próprio cansaço cansa. Estou cansada deste cansaço. O cansaço é aborrecido e incómodo. E não desaparece. Parece que está sempre, ali, bem escondido na nossa mente, no nosso corpo. Ele está bem instalado em todo o meu ser. Tão bem instalado que não me consigo ver livre dele.
Pior. Não me consigo ver livre e pior, parece que ele cresce. Às vezes penso e sinto que já não há mais espaço para o cansaço. Ele já ocupa tudo em mim, mas, surpreendentemente ele consegue encontrar ainda mais um espaço para aí se instalar, como se fosse dono e senhor de mim.
É exactamente isso que é o cansaço para mim: ele é o meu dono e o meu senhor. No fundo, faz de mim o que quer. Eu, por vezes, bem não o quer o ouvir nem obedecer, mas ele teima em fazer valer a sua ordem. Ele ordena-me para ficar aí, parada. Conscientemente, eu sei que não devo. Devo combater essa ordem, mas porra! O cansaço é sempre mais forte. A ordem do cansaço é imperiosa e acaba por ceder àquilo que me diz, sem opinião, como se fosse um autómato.
Sou comandada por ele. Sou comandada pelo cansaço. É a ele que oiço, consciente e inconscientemente. É nele que penso, mesmo quando não estou a formular qualquer pensamento, é ele que eu sinto, mesmo quando ele não se faz sentir.
Fará algum sentido este sentimento de cansaço? Deste cansaço exaustivo que me deixa sem opção, sem vontade de fazer diferente, sem esperança no futuro. Conseguem compreender o que é este cansaço dominante? Que manda em qualquer ação, em qualquer gesto que tenha, que me retira o sorriso ou as lágrimas. Conseguem sentir este cansaço que me tem por terra, mesmo quando tento fingir que não o conheço?
Ai!
Como estou cansada de saber o que vai ser o amanhã, mas também estou tão farta da incerteza que faz parte desse mesmo amanhã.
Estou, deveras, cansada deste cansaço que me come viva. Estou, de facto, cansada deste cansaço extenuante.
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