A Solidez ou a Fraqueza Dos Alicerces do Homem

A vida pode nunca ser aquilo que vamos esperando dela. Até que desistimos de esperar e apenas andamos ao sabor da maré. Sem nada esperar ou a esperar pelo fim. A impressão que tenho é que quando chegamos a esse fim há a tentação de olhar para trás e ver o que fizemos, mas também aquilo que foi feito connosco.

Não sei dizer se no final temos aquilo que merecemos. Vejo pessoas a sofrer até ao fim, sem terem feito nada de mal. Vejo pessoas que não conhecem esse sofrimento entranhado na pele, mas que ao longo do seu percurso se revelaram pessoas mesquinhas, más e sem escrúpulos. Afinal, teremos mesmo aquilo para o qual trabalhamos?

Para mim será sempre um desafio olhar por quem sempre tentou e fez o bem... E se o desafio for maior e tenha que cuidar a quem nem sempre foi bom? Esta é uma questão que, por vezes, não me sai da cabeça.

A bondade não é relativa. Ou se é verdadeiramente bom ou não se é. O mesmo se aplica ao que é mau: ou se é ou não é. Contudo, quem é mau não pode ter bons sentimentos? Penso que sim. A grande diferença está naquilo que sentimos para a nossa capacidade de demonstrar esses mesmo sentimentos. Ou seja, uma coisa é sentir, outra coisa é agir de acordo com isso.

Nalgumas conversas que tenho, com diferentes pessoas, finalmente entendo quem acredita que nenhum ser humano nasce mau. Não consigo dizer que concordo com isto totalmente, até porque não conheço todas as pessoas no mundo... Mas, agora, consigo entender porque é que algumas pessoas olham o outro desta forma. 

Se conhecemos alguém que actua de um modo que nos aflige, que nos incomoda ou que
nos faz mal, com atitudes que não conseguimos entender, talvez isso aconteça porque são pessoas que sofrem ou sofreram. Aliás, sempre sofreram. Desde crianças podem nunca ter conhecido aquilo a que chamamos carinho ou amor. Mesmo que com o envelhecer se possa aprender o que são esses sentimentos existe uma parte da nossa história (e, talvez, a mais importante) que foi feita sem os mais puros sentimentos. É a mesma coisa que a construção de uma casa: se as bases não forem sólidas, podemos construir, mas, mais tarde ou mais cedo, ela vai acabar por ruir. Assim é o ser humano. Se desde que tem memória, só sabe que sofreu, como pode crescer e tornar-se num adulto bem estruturado? Não pode.

Aquilo que pode, eventualmente, acontecer é encontrar alguém que lhe mostre o que são esses sentimentos. Mas, essa falha, fica sempre. Posso parecer fatalista, mas é aquilo que vejo. É aquilo que sinto quando vejo pessoas que ficam desestruturadas, algumas vezes sem conta. Creio que o sofrimento não impede que sejamos bons. O sofrimento impede, sim, que sejamos seres humanos completamente bem formados emocionalmente.

Dessas pessoas, algumas tentam seguir em frente, fazem as coisas de modo diferente, e, mesmo com as quedas, voltam a erguer-se, sabendo que vão voltar a cair. E, assim, andam ao sabor da maré.

Depois, existem aquelas que se deixam ir ainda mais a baixo. Caem uma vez e nunca mais se levantam.

No fim, há aquelas, que são raras, na minha opinião, que caem e levantam-se; tornam a cair e alguém lhes dá a mão e as ajuda; voltam a cair, mas, desta vez, caem com alguém, esse alguém vai ajudá-los a reerguer e  vai continuar a ampará-los para o resto da vida. E assim, se salva, verdadeiramente, alguém. Desta forma, se salva alguém de uma vida vazia de sentido, de amargura e de desespero. Por isso, sempre digo a estes últimos: nunca desdenhem aquele que têm convosco. Esse alguém é uma bênção e só têm que estar gratos por o ter.

A todos os outros... A todos os outros, não sei o que dizer... O sofrimento é injusto, principalmente quando não o provocamos... Ele apenas está lá, à nossa espera, para nos prender. E nunca mais largar.

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NOTA: Este texto é uma reflexão, não é desculpabilizante de quaisquer acções tomadas pelo Homem.

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