Gostava Tanto de Te Ver...

Às vezes queria ver-te... Assim, ao de longe. Noutras ocasiões, só o meu mero pensamento de te poder ver, agonia-me. Encho-me de medo da cabeça aos pés. Mas, hoje não. Hoje é um dos dias em que gostava de te ver, assim... ao de longe... quase em segredo, como se eu fosse invisível.

Deus sabe como eu gostaria de ser invisível! Agora, poderia estar no mesmo sítio que tu e estaria a admirar-te. Concerteza, que te estaria a admirar, tu no teu mundo e na tua vida, os quais só a ti te dizem respeito. Poderia ver a tua expressão concentrada, ou o teu ar mais descontraído a ouvir os teus a falar. E a sorrir. Sim, hoje gostava de poder ver o teu sorriso. Será que se mantém igual ao último que eu vi? Sim, manter-se-á. Sempre to pedi. É verdade que a memória é poderosa. Mas, a nossa vontade também. Por isso, sei bem que já nem te lembras de mim. Por consequência, não te lembrarás também desse meu pedido: que nunca te esqueças do que é sorrir e de como é belo o teu sorriso. Basta-me acreditar que um outro alguém, muito mais especial do que eu, to tenha dito e que o leves em conta.

Gostava tanto de te ver hoje. Não sei bem porquê... Talvez não importa saber qual a razão. Não será esta
vontade, também, um exemplo daquilo que acontece sem razão? Porque há coisas que acontecem sem nenhum propósito aparente. São coincidências. Tu mostraste-me isso: as coincidências existem, assim como os acontecimentos sem razão. Sim. Tudo isso se justifica dessa maneira. Acontecem porque sim.

Antes pensava que tudo o que poderia acontecer ao ser humano seria por um propósito, como se a vida estivesse desenhada e fosse necessário parar em certos locais para que conseguíssemos chegar ao sítio onde era suposto. Contigo aprendi que não. Aprendi que há coisas que acontecem por um acaso. É um terrível problema quando estamos internamente à procura de justificações para aquilo que de bom e de mau nos acontece. Quando procuramos incessantemente a razão da nossa dor. Porque temos que sofrer por isto, ou por aquilo? A verdade é que se sofre, também, sem justificação. Porque sim. É meio estranho dar-se conta disso... Pensar que na vida não há razão para tudo. Sim. E não há. Aceitar a dor que temos com a certeza de que nada nos ensina também é estranho. Leva mais tempo a... Demora muito mais tempo a essa dor assentar para que possamos viver minimamente, sem vontade de fazer disparates.

Mesmo tudo tendo sido uma triste e dolorosa coincidência, hoje gostava de te ver à mesma. E se te pudesse ouvir, seria ainda melhor. No meu canto, ao fundo da sala, sem ninguém me ver. Como foi sempre, aliás. Sempre assim com as mãos sobre o peito, a fazer o menor barulho possível, quietinha, apenas a escutar, a ver tudo o que acontece... A absorver cada gesto teu, a decorá-lo para me possa sempre recordar de ti, assim, sem me encontrares.

Também gostava de saber se estás bem. Gostava mesmo de ter a certeza disso, vê-lo de alguma forma, ao fundo da sala. Há algo dentro de mim que sempre me diz que sim. Cada vez que essa pergunta me assola a mente, há sempre algo em mim que me diz que estás bem e tranquilo. Há algo dentro de mim que me acalma e me diz que és livre, sentes-te leve e estás rodeado de amor. Porém, e não sei porquê, mesmo assim, hoje, gostava de o ver, nem que fosse ao de longe.

Pensando bem... Se bem que... Imagino que já não te lembras de mim. Porventura, até seríamos capazes de estar os dois no mesmo local e tu não me verias. Isso poderia ser a solução para esta minha vontade de te ver. Tu já não me reconhecerias, por isso, talvez até fosse possível eu chegar-me um pouco mais perto e ouvir-te falar. Ouvir de novo esse teu tom de voz meio rouco. Confesso, tu não me reconheceres, seria um presente. Gostava tanto que isso fosse possível: ver-te, ao de longe, sendo eu uma completa desconhecida para ti. E aí poderia estar a ver o teu melhor eu.

Sim. Tenho a certeza de que já te esqueceste de mim, que já apagaste tudo aquilo que alguma vez nos ligou. Por isso, como já não sabes quem eu sou, talvez eu pudesse dar mais alguns passos e chegar-me mais perto de ti... E conseguir perscrutar os teus olhos...

Gostava muito de saber se te manténs com esses olhos. Os olhos mais bonitos que alguma vez vi. Os olhos que tantas coisas me disseram. Ou, melhor, que eu julguei que me disseram. Li-te tão mal. Pela primeira vez, não consegui decifrar o significado verdadeiro de um olhar. É verdade que todos nós erramos. Eu erro. Eu errei. E tinha logo que ser contigo e naquela situação. Que triste coincidência.

Apesar disso, de ter a certeza de que tudo não passou de uma triste coincidência, com marcas profundas e ainda desconhecidas, hoje... Hoje, hoje é um dos dias em que gostaria de te ver... Assim... ao...


NOTA: Autor da Pintura: Dan Gerhartz

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