Privação do Sono
Horas sem dormir.
Os olhos abertos, ouvidos atentos. Como única paisagem o tecto em branco. Parece que estou a ouvir alguém lá fora. Quem está na rua a esta hora? Sou eu?
Ou serão eles?
Eles estão à minha espera para que eu saia e, enfim, me possam levar.
"Venham" Venham!"
Remexo. Esbracejo. Não quero sair. Não quero que me levem. Começo a dar pontapés no vazio.
"Demónios, saiam! Fiquem a arder no inferno!!!"
Grito, desespero. Eles já não estão lá fora, mas acabaram de entrar em minha casa. Fecho os olhos com força... Eu não quero ir. Não quero ir. Quero ficar.
Agarro-me com força à minha cama. Antes que as suas mãos me puxem. Eu vou resistir. Eu não vou deixar que me levem.
NÃO!
Estou a começar a ouvi-los. Quero fugir. Quero saltar, quero correr e desaparecer. O medo consome-me. De tal maneira que não consigo sair da cama. Estou presa a ela. Não consigo.... Os músculos estão presos e não obedecem ao meu cérebro. Estou presa dentro do meu próprio corpo.
Choro e grito. Eles estão a chegar. Consigo sentir o seu cheiro imundo. Começo a ouvir os seus passos na minha direcção e eu não me mexo. Estou prostrada.
Tento desfazer todas estas amarras. Mas elas são mais fortes do que eu.
Desespero.
Imploro para que me deixem em paz. Para que me deixem.
Choro.
Grito.
Mas eu começo a sentir o toque das suas mãos nas minhas pernas. Afasto estes seres, mas eles apertam-me. E começam a puxar-me numa força desmedida. Tento afastá-los, mas eles ganham uma outra forma. São cada vez maiores. E com a sua força atormentam-me. Arrastam-me.
Grito.
E vou desaparecendo.
Torno-me, simplesmente, em pó.
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Acordo.
Em dias consegui dormir uma hora seguida. Mas os sonhos acompanham-me.
Sinto-me verdadeiramente cansada. Mais cansada do que estar sem dormir. Respiro fundo. Viro-me e tento adormecer. Porém, por mais que tente, já não consigo pregar olho.
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