O Engano Provocado - Tentativa de Continuação

Era sábado e, finalmente, tinha chegado o fim de semana para estar com a filha. Como ele gostava de estar com ela. Mesmo assim,  acabou por chegar atrasado. Tinha perdido a noção do tempo. Ao menos ser director de um teatro, encenador e actor permitiu-lhe esquecer. Esquecer o que fez e a rapidez com que se pode destruir aquilo que dava como garantido. Era preciso voltar a aprender a viver. E ele estava a começar a fazê-lo. 

Acabou por chegar a casa de Maria, quando começava a anoitecer. A porta do prédio estava aberta e, quase a correr, subiu as escadas até ao terceiro andar. Tocou à campainha e, em si, estava um misto de sentimentos: medo, excitação, expectativa e aflição. Ficava sempre assim cada vez que ia buscar a pequena filha de cinco anos. Durante o ano que passara, estas eram as únicas oportunidades que tinha para ver Maria, exceptuando nos trabalhos que fizera. Voltou a tocar à campainha. Encostou-se à ombreira da porta. Passou a mão pelo seu cabelo castanho-escuro, meio sem saber o que fazer quando ela lhe falasse. Ouviu o abrir da fechadura e ficou petrificado. "Como é que ela estará?", pensou. 

Alexandre tinha a cabeça meio caída e assim que a  porta se abriu, ele foi levantando a cabeça, até encontrar os olhos de Maria. Eram tantas as expressões que tinha para aquele momento, que acabou por ficar apático. Os olhos verdes de Maria brilhavam, tinha o seu farto cabelo louro apanhado, o que lhe realçava, ainda mais, as suas belas feições. 
- Finalmente. - disse, Maria, num tom meio aborrecido, ao mesmo tempo que Alexandre se desencostava da porta e tentava encontrar um equilíbrio. Maria estava com um vestido preto, comprido, que parecia ter sido feito para ela. "Sim. É um vestido de noite", pensou ele. 
- Porque é que estás a olhar assim para mim?- perguntou, Maria.

Bastou a Alexandre rodar um pouco a cabeça para perceber o que se passava. Lá dentro, estava um homem atento a eles. Rapidamente, o reconheceu. Era Carlos. Claro, apenas podia ser ele. De repente, um imenso sentimento de tristeza o invadiu. Já não havia confusões.
- Desculpa... hã... Estou atrasado, eu sei.
- Ao menos chegaste a tempo. Entra. A Emília está à tua espera, para variar.
- Desculpa, mas fiquei preso no teatro.
- Claro... De certeza que não foi noutro sítio qualquer? Ou com alguém...
Alexandre esboçou um leve sorriso. Maria continuava a mesma pessoa. Sempre com a ironia bem afiada. 

Carlos aproximou-se.
- Boa noite. - estendeu a mão. Alexandre cumpriu as boas maneiras e retribuiu o cumprimento.
- Bem, se calhar é melhor ir andando. Onde está a Emília?
Maria chamou a filha, que entrou a correr na sala, cumprimentando o pai com um abraço, entre risos e beijos. Era isto que consolava Alexandre. Estar com a filha nos seus braços. Ela que era fruto dos momentos mais felizes que tinha tido na sua vida. Sem mais demoras, Alexandre quis sair dali. Fechar a porta e esquecer que alguma vez tinha visto a mulher que antes o olhava com um carinho imenso, e, que, agora apenas tinha desprezo para lhe dar.

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- Estavas à espera de quê? De que ela ficasse eternamente à tua espera?
Isabel sabia sempre as perguntas mais pertinentes, na altura, em que ninguém as queria ouvir. Mas ela fazia-as, não fosse ela advogada. 
- Não é isso. Mas não é fácil. - Respondeu-lhe Alexandre meio sem saber o que dizer.
- Já era de conhecimento público há algum tempo. Deves esquecer isso. É o melhor que tens a fazer, acredita. Não vale a pena pensares no que podia ter sido. 
- Fui eu que tomei essa decisão... - disse Alexandre, pensativo. Levantou-se do seu sofá e foi até à sua janela. Tinha que deixar de pensar naquela imagem. O som do seu telemóvel a tocar preencheu o silêncio que tinha caído na sala. Alexandre atendeu o telefone. Assim que ouviu a voz do outro lado, a sua expressão mudou. O seu rosto era o sinónimo de preocupação.
- Vou já para aí! - Alexandre desligou o telemóvel e pegava nas chaves do carro.
Isabel percebeu que alguma coisa de grave tinha acontecido.
- O que é que se passa?
- O teatro está a arder! 
- O quê??
- Foram eles... Foram eles! Sacanas!
- Eles quem? o que é que estás a dizer? Alexandre! - gritou Isabel, enquanto o seu amigo descia as escadas e entrava no carro a correr. Sem saber o que fazer Isabel, ficou sem perceber o que se tinha passado. Quem é que poderia ter posto fogo ao teatro? Como é que ele sabia quem tinha sido?


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PRIMEIRA PARTE DA HISTÓRIA EM: http://umolharpessoal.blogspot.pt/2012/07/o-engano-provocado.html

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