A Nobreza do Acaso
A vida é feita de pequenos acasos. É uma frase que todos nós já nos cansámos de ouvir. Mas essa é a verdade. E, por vezes, são esses simples acasos que nos fazem seguir em frente, na esperança de que esses momentos continuem a ser uma realidade. Porque só assim tudo nos parece fazer sentido.
Aquele momento inesperado, que nos faz sair da normalidade, por mais curto que ele seja, é ele que nos dá alento para olharmos em frente e encararmos tudo de modo diferente, nem que seja por uma hora. Até pode ser simples, mas remete-nos para sensações e experiências nunca antes provadas. Por mais escassos e passageiros que sejam esses momentos, rapidamente ficamos com um sorriso na cara, com a cabeça mais leve e tudo parece que vai ficar melhor.
O mesmo acontece com encontros inesperados. Aqueles que nos fazem parar na rua e falar com uma pessoa por tempo indeterminado. É como "expulsar os demónios que nos consomem a mente e o espírito" e meia hora fosse suficiente para os deixar sair de nós próprios. Depositamos no outro que nos ouve pensamentos e sentimentos que não contamos a mais ninguém, por mais confiança que tenhamos. Mostramos as nossas fragilidades sem medos nem vergonhas e verbalizamos aquilo que mantemos diariamente connosco próprios por conotá-los como incorrectos. Mas, subitamente, quando vemos alguém que nos faz sentir seguros, conversamos e "deitamos cá para fora". Quase como uma terapia. E, no fundo, o outro comporta-se da mesma forma connosco. E, quando assim é, eu gosto disso. É uma partilha verdadeira, espontânea, que não obedece a restrições, a lamentos e a exigências. É a partilha no seu sentido mais puro e honesto.
São estes momentos e estes encontros inesperados, mas dos quais necessitamos desesperadamente, que nos fazem crer que não estamos sozinhos. Que, de uma forma, ou de outra, temos sempre alguém ao nosso lado. E isso revela-se com a nobreza de um acaso.
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