Momentos que Não se Perdem

É raro o quarto que não está desarrumado. Tudo fora do sítio: as roupas espalhadas, a mala no chão, papéis amontoados... Mas existem certas coisas que permanecem no mesmo local, desde a primeira vez que aí foram colocadas. Certos objectos pelos quais passamos todos os dias e para os quais nem olhamos. O engraçado é que continuamos a saber que eles estão lá e sempre que quisermos vê-los, eles estão no mesmo sítio.

Todos os dias, passo por esses mesmos objectos. Como exemplo, a moldura pendurada na parede do meu quarto. Levo meses sem lhe prestar qualquer atenção. Os dias passam; os acontecimentos, uns importantes outros nem por isso, são muitos; as nossas atitudes mantêm-se, outras mudam; uns amigos permanecem, outros partem. O tempo passa. Tão depressa que nem damos conta. Por isso a metáfora da "areia que escorre pelos dedos" é tão correcta: o tempo é mesmo isso. Passa pelas nossas mãos, sem nos apercebermos da sua real importância e da quantidade de coisas boas que nos deixa.

Hoje descobri que uma pessoa com a qual não falo há muito tempo é feliz, conseguiu alcançar uma das suas metas. Não nos vemos há meses. Sei que não são anos, mas para mim, agora que penso nisso, parece que não o vejo há séculos. Neste momento, olhando para a fotografia que está na moldura, pendurada na parede do meu quarto, sorrio. 


Essa fotografia conta uma história e representa uma das melhores fases da minha vida. Era de noite e eu e os meus amigos estávamos eufóricos. Ele é um desses amigos e, neste pequeno vestígio, ele com um sorriso enorme, assim como todos nós. Como eu estava feliz naquela noite. E, por incrível que pareça, já naquela altura eu sabia que a vida era fugaz, por isso queria que aquela noite nunca acabasse. Mas,  como todas as noites da nossa vida, a verdade, é que esta também chegou ao fim. 


Passados alguns anos, os nossos encontros tornaram-se mais esporádicos, devido ao trabalho, à vida pessoal e por tantos outros motivos, sempre válidos. Mas é tão raro estarmos juntos, que já não os vejo há tanto tempo.

Olhando para esta fotografia sinto tantas saudades... Saudades de como tudo parecia simples. De como era fácil estarmos juntos. De como era "normal" sermos felizes.

Agora que escrevo isto, tenho outra certeza: na realidade aquela noite não acabou. Pelo menos, para mim, não acabou. Continuo a recordá-la e isso, para mim, é mais do que suficiente para perceber que aqueles que nos tornam especiais na amizade, fazem com que os bons momentos nunca terminem. Porque recordar é isso mesmo: é tornar vivos, para toda a vida, momentos que pensávamos perdidos e acabados. Hoje, voltei a estar nessa noite de amigos. Pelo menos hoje.

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