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Vulnerável VII

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- Não sei se deva ficar contente por estares a trabalhar - ele beija-me o pescoço - Antes era mais divertido... Vinhas mais vezes. Ele aperta-me no seu abraço e eu sinto a sua mão na minha barriga. - Venho sempre que posso... praticamente já me mudei para aqui. E, digamos, que não estamos em tempos- - Já imaginaste como seria um filho nosso? A pergunta dele ecoa pelo quarto. Por vezes, não sei como é capaz de me dizer estas coisas, com uma facilidade que me desarma. - Sabes que não penso nisso... - acabo por lhe dizer. Sinto o seu rosto junto ao meu e o seu cheiro deixa-me inebriada. - Seria forte... Uma força da natureza. - Irascível como tu. Ele sorri. - Mas doce como a mãe. Beijo-lhe a face - Teria os teus olhos? - Não... teria os teus grandes e bonitos olhos. - Não... não me digas que iria herdar de ti o mau feitio. Ele solta uma gargalhada. - Mas...ouvir-te-ia.  Nunca pensei em ter filhos. E, apesar de o amar, nunca pensei nessa possibilidade. Permanecemos juntos como se tudo ...

Vulnerável VI

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Em Novembro não se encontra muita gente na praia. O Estoril apresenta-se estranhamente calmo, com poucas pessoas. O céu está cinzento, mas não parece que vá chover. O vento é capaz de gelar as orelhas, mesmo assim, arriscamo-nos a ir para a areia. Esta é uma das raras vezes em que ele usa uma roupa de civil.  Deixou-me surpresa quando me acordou a meio da manhã e disse que era bom sairmos de casa. Ainda mais surpreendida fiquei quando vi as horas, passava das onze da manhã e vi-o descontraído. Afinal, era verdade, pelo menos o telefone não tinha tocado, ele estava mesmo fora da unidade hoje. Ainda pensei que isso mudasse até sairmos de casa e o toque de telefone desse o sinal de que teríamos de adiar o que quer que fôssemos fazer. Mas, ao contrário de todas as expectativas, o telefone não tocou. O seu blusão castanho quase que o faz passar despercebido, no entanto, aos meus olhos, ele mantém uma feição inconfundível. Fixado no mar, o seu olhar está perdido e pergunto-me no que esta...

Vulnerável V

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A sua respiração junto ao meu corpo faz-me ganhar alguma consciência. Levo a minha mão ao seu cabelo e por aí passeio os meus dedos. O seus lábios junto à minha pele deixam alguns beijos, o que me acorda do meu torpor. - É melhor vestires-te. Não vá alguém entrar. Ele acena ao de leve. - Não devíamos ter feito isto aqui - a sua voz baixa desperta-me ainda mais os sentidos. Ele tem toda a razão. - Pois não... Ele ergue-se e veste as calças, procurando depois pelo seu casaco. Ganho forças para me sentar na mesa e descer à procura da minha roupa no chão. Vestimo-nos em silêncio. Enquanto me volto a sentar na beira da secretária, vejo-o a pegar nos papéis que tinha trazido. Ele coloca-os junto a mim. Olhamo-nos por um momento e abraço-o. Ele corresponde, deixando-me segura daquilo que tínhamos feito. - Apenas tive os pesadelos contigo. Nem quando estou sozinho, eu os tenho - fecho os meus olhos - isso deixou-me um bocado maluco e não soube... não sei bem lidar com isto. - Não os tens com o...

Vulnerável IV

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- Tens de ir, não há mais ninguém. Esta é a tua oportunidade. - Mas que raio vou pra lá fazer?! - quando fico nervosa tenho o péssimo defeito de explodir por tudo e por nada... Ainda mais se me querem pressionar a fazer algo que não desejo. E estar perto daquela unidade é mesmo aquilo que eu não quero... de todo. - É uma ordem. Não há aqui mais ninguém e só quero que vás perceber porque razão as pessoas se juntaram ali à volta da unidade. Merda. Porque é que me estão a colocar nesta situação? Há já algum tempo que eu queria sair daquele jornal e fazer outras coisas. Mas, vai-se lá saber porquê fui ficando... Mesmo a tempo de me colocarem nesta trapalhada. Suspiro e aceno. Olho para os papéis que estão na secretária de um outro jornalista que segue as ações do exército e leio o cabeçalho: "A Unidade Bombista". Congelo. Leio as primeiras linhas do rascunho e sei que o jornal vai publicar aquilo... Mesmo que só tenha ouvido um lado da história. Em menos de nada, estou onde o jor...

Vulnerável III

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As notícias foram circulando em catadupa. As pessoas protestavam, faziam patrulhas, o jornal estava em polvorosa... Fui percebendo que as coisas se tinham precipitado através dos meus colegas. Eu, agarrada à estúpida secção internacional, não conseguia acompanhar no terreno o que acontecia no país. Uma coisa era certa: tínhamos estado à beira de um outro golpe, mas alguém o teria evitado. Alguns dias depois, não podia crer naquilo que ouvia. Tinha sido ele. Tinha saído com os seus homens e, vai-se lá saber como, tinha conseguido resolver a situação. A preocupação que eu sentia por ele cresceu em demasia e fiquei pregada ao chão. Consegui dissimular junto dos meus colegas que julgavam que éramos amigos de longa data.  Na realidade, talvez isso fosse o mais oportuno dizer sobre nós: conheci-o antes da guerra, já no exército enquanto estudava. O seu porte chamava a atenção das raparigas. Todas as que o conheciam ficavam maravilhadas com a sua forma de estar: era gracioso, idealista e,...

Vulnerável II

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Voltei a presenciá-los por algumas vezes... os pesadelos... não aconteceram todos os dias em que estive com ele, mas aconteceram. E, quando assim é, eles são violentos... Trazem a mesma violência do primeiro a que assisti. A reação dele é sempre igual: silêncio. Eu respeito-o. Entendo que não queira falar comigo, mas, mesmo assim, sinto uma urgência de o tentar amparar que não consigo evitar. Não sei se o vou encontrar em sua casa. Como tudo isto anda, acredito que não lhe seja fácil sair da unidade. De qualquer forma, levo comigo umas cervejas. São boas para desbloquear. A noite já caiu e a rua está sossegada. É uma zona residencial, por aqui o único café aberto tem duas pessoas ao balcão. Quando estou a chegar à porta do seu prédio, ouço uma voz familiar. - A senhorita está perdida? Ele, sempre com a sua graça habitual. É o que o torna tão requerido pelas mulheres. Digo-lhe sempre. - O Capitão será que pode ajudar? - O Capitão não sei, o Major talvez. - Isso... Peço-lhe desculpa, mas...

Vulnerável I - Pesadelo

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A temperatura elevada não me faz querer cobrir o corpo. O verão traz as noites quentes e apesar de já estarmos em Setembro parece que continuamos em pleno mês de Agosto. Estou cansada e mole. A satisfação do início da noite deu-me o que era preciso para adormecer rapidamente, mas dormi poucas horas. Oiço o seu corpo que se mexe. É de madrugada, não preciso de abrir os olhos para o saber. Despertei, mas deixo-me ficar de olhos fechados na esperança de que o sono tome outra vez conta de mim. A sua respiração está diferente. Abro os olhos a custo. A sua cabeça vira de um lado para o outro. Abro os olhos completamente. Não sei se o acorde. É mais do que certo que sonha.  Fico atenta. Agora, já todo ele se move, o lençol enrola-se por baixo do seu corpo nu. Endireito-me um pouco e ajeito a camisola de alças que vesti antes de adormecer. Som. Ele diz algo, mas no meio dos movimentos erráticos não lhe sai qualquer palavra percetível. Sinto um nó na garganta. Quero ajudá-lo, mas não sei o ...

Louco Insubordinado

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Sinto que tenho de escrever sobre ti. Há qualquer coisa que me impele a dirigir-te algumas palavras... Mas, como poderei querer explicar o que sinto sobre ti através das palavras? Nem eu sei como explicar todo este fascínio, a vontade soberba de te conhecer, de te perceber, de te ouvir, de te ver... Ainda que sejas de outro tempo, tão longínquo, tenho essa... essa curiosidade imensa em te descortinar, em estar onde estiveste, em ouvir outros falar sobre ti. Como gostaria de te conhecer entrando na tua cabeça, ouvindo todos os teus pensamentos, quem sabe fazer parte dos teus pensamentos!, sentindo cada uma das batidas do teu coração, descobrindo ao tocar-te todas as saliências dos teus bonitos olhos azuis de cor indecifrável, a curva dos teus lábios, as saliências das tuas mãos treinadas para viver, amar, lutar e matar. Creio, sobretudo, que é a tua coragem... Sim, é a tua coragem que eu quero conhecer. Terás, aliás, alguma outra característica que me faça conhecer-te na tua plenitude, ...

Sono Perturbado

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Fecho os olhos e tento dormir. Espero que o cansaço tome conta do meu cérebro e me permita adormecê-lo. Já me habituei a não dormir uma noite inteira, mas, a pior parte passou de acordar várias vezes de noite para o meu primeiro adormecimento.  Espero, já com alguma ansiedade, que o sono me permita desligar o estado consciente. Quero, definitivamente, descansar um pouco, não ter de pensar sobre mais nada e não permitir que pensamentos que não pedi se instalem e eu tenha de lidar com o seu peso. Espero, já ansiosa, para que o adormecimento chegue. Quero dormir, quero esvaziar por umas horas o meu coração. Quero, acima de tudo, não sentir esta dor que está instalada. A dormir, não sinto. É isso: quero dormir para não sentir. Fica zangada por não conseguir dormir. Se fico zangada, não fico descansada. Se não fico descansada, não fico relaxada. Se não fico relaxada, não consigo desligar os pensamentos. Se não consigo desligar os pensamentos, não me consigo tornar imune à dor que provoc...