A Permeabilidade da Mudança
A mudança é inerente ao ser humano. Isto é um facto. Talvez por ser uma verdade irreversível isso faça com esta seja objecto contínuo de reflexão. Pelo menos da minha parte, pois creio que já não é a primeira vez que escrevo acerca disso no blog.
Todos mudamos: seja para pior ou para melhor. É impossível ficarmos com o mesmo feitio e maneira de encarar aquilo que é posto no nosso caminho, desde que formamos a nossa personalidade até morrermos.
Quando nos vão sendo colocados novos desafios, aprendemos sempre algo para que os possamos ultrapassar. E, muitas vezes, é essa aprendizagem que também nos faz mudar. Concerteza que iremos abordar qualquer questão com mais conhecimento. Com mas subterfúgios que nos fazem sobreviver e seguir em frente.
Confesso que uma das coisas que mais me deixa intrigada não é o facto da capacidade que o ser humano tem em mudar, mas sim, como é que as mudanças daqueles que fazem parte de nós – amigos, família – também nos consegue influenciar. Se um amigo nosso adopta uma outra postura perante a vida e essa nova forma de agir também nos afecta nós somos permeáveis a essa mudança. Pode não ser naquele exacto momento, pode levar algum tempo até que essa mudança seja efectiva. No entanto, eventualmente, ela vai acabar por acontecer.
Se amamos alguém e se esse alguém muda nós também o iremos fazer. Poderemos responder-lhe de uma forma que não o faríamos antes. Ficamos, por vezes, mais individualistas. A necessidade de perceber as razões que levam à mudança do outro ficam em segundo plano. Encontrar a justificação para algo passa a não ser essencial. O que se torna prioritário é que nos escudemos do outro que mudou para que este não nos magoe mais.
Sim. Porque, muitas vezes, essas mudanças magoam. E aí depende de como gerimos a situação. Ou conseguimos impor-nos ao outro e tentamos proteger-mo-nos, o que podemos fazer de diferentes maneiras: somos mais duros, inflexíveis, mas também somos capazes de lhes dizer o que pensamos e deitamos as cartas na mesa. Ou, por outro lado, construímos uma fortaleza à nossa volta e aí ficamos, encolhidos à espera de que a tempestade passe e que o nosso sofrimento fique menor. Na verdade, fica claro que a mudança ocorre dentro de nós, independentemente da forma como lidamos com os comportamentos do outro.
Acredito piamente que o que é determinante para o que nos transformamos ao longo dos anos seja a capacidade que cada um de nós tem de encarar a mudança e a forma como a trabalhamos. Na minha opinião, essa capacidade vai sendo moldada ao longo do tempo, pela nossa infância, os nossos modelos, o meio onde crescemos... Enfim...Pela forma como a nossa identidade vai sendo construída.
Se, com o passar do tempo, tivermos o discernimento necessário para percebermos que precisamos de alterar a nossa capacidade de lidar com as mudanças à nossa volta para uma forma mais saudável e se, de facto, realizarmos essa tentativa, talvez consigamos fugir ao fatalismo daquilo que somos. Mas, como em tantas coisas nesta vida, creio que esse é um bem a que só alguns têm acesso.
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