A Cristalização do Tempo
Existem momentos na vida que desejamos repetir. Pela felicidade que sentimos nesses momentos, por nos sentirmos em harmonia, por estarmos bem dispostos, por termos paz. Talvez seja por essas ocasiões serem raras que as tornam especiais, é verdade.
Mas quando vivemos momentos que nos enchem de uma alegria que muitas vezes não conseguimos expressar, queremos, inevitavelmente, viver novas situações que nos transmitam o mesmo sentimento. Ou melhor ainda: situações que as superem... Que sejam ainda melhores. Que nos encham ainda mais de boas memórias. Que nos preencham dia após dia, mês após mês, ano após ano.
Ter uma vida plena de boas histórias para contar... E estas vão reinventadas a uma velocidade constante. Por vezes, aqueles que têm essa sorte, a sorte de poder ter experiências ricas que lhes permitem encarar o dia a dia de outra forma, nem dão conta daquilo que tem. Para eles é tão normal estar com quem querem, beber um café quando quiserem, passar um fim de semana fora com a companhia que escolhem. Seja em que situação for, é aí que esses bons momentos são construídos e a partir do quais se prossegue com o quotidiano. Estas pessoas sabem que estão sempre a tempo de os repetir e de voltar a sentir aquilo que os faz felizes.
No entanto, como disse antes, existem aqueles que não têm essa sorte. Quando vivem esses momentos que lhes mostram que a verdadeira alegria, a despreocupação, o amor e a amizade existem, muito dificilmente existe algo para além deles. Ou seja, situações que lhes voltem a transmitir todos esses sentimentos não acontecem quando eles mais esperam, quando eles mais desejam... Até porque não será fácil que estas experiências possam acontecer com a mesa intensidade.
São acontecimentos que ficam ali. Como que cristalizados no tempo. Eles acontecem numa certa hora, num certo dia, num certo ano e ficam lá. É claro que a memória volta a ir buscá-los, mas quando mais se quer e se sonha que seja possível sentir a tal harmonia, novamente, é quando tudo funciona para que seja precisamente o contrário.
Não quer dizer que essa fatalidade do tempo, chamemos-lhe assim, seja provocada de propósito. É verdade que as pessoas mudam, vivem outras situações, desejam novas coisas para a sua vida, mas não quer dizer que eles próprias, conscientemente, não queiram viver esses momentos novamente. Querem, mas talvez de uma forma diferente, enquanto que outros querem vivê-los de uma outra forma. Aí podem acontecer os desencontros que trazem frustração e desilusão. Não para com as pessoas, mas para com as próprias situações da vida, as suas vicissitudes e aquelas partidas que ela nos prega sem estarmos preparados para lidar com elas.
A cristalização daquilo que nos fez felizes pode, também, ser um "aditivo" para a nossa vida, é claro. Porque ela é feita de memórias. A grande diferença é que passamos a vida a desejar que ela volte atrás e nos permita viver de novo essas ocasiões, para experimentarmos essa felicidade, novamente. Para as restantes pessoas, elas não anseiam, sistematicamente, que o tempo volte atrás, porque estão consecutivamente, a criar boas memórias. Vivem uma vida onde, felizmente, não têm que estar constantemente a viver da nostalgia, sempre com a certeza de que nada volta a acontecer da mesma forma.
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