Prostrados Perante a Vida

Passamos a vida a tentar.
A tentar ter sucesso.
A tentar atingir um objectivo.
A tentar amar.
A tentar ser amados.
A tentar ser felizes.

Passamos a maior parte da nossa existência em busca de algo que nos faça sentir plenos... Como se não fosse preciso mais nada para sorrirmos, meio estupidamente, apenas e só porque existimos e porque estamos bem. Porque estamos bem assim e não queremos estar de outra forma. Porque estamos em paz, no sítio onde deveríamos estar, junto de quem nos faz sentir completo.

E se tentamos toda a vida e não conseguimos chegar aí? Chegar aí, a essa ponto de plenitude, onde a tristeza não tem lugar, onde a frustração não existe, onde a solidão é apenas um mau sonho...

E se não conseguirmos aí estar? Estar nesse lugar sereno onde sentimos que nada mais temos de procurar para nos sentirmos assim, a levitar... Constantemente.

E se chegamos ao fim sem nada? Sem uma experiência que nos faça sentir humanos, sem nos sentirmos amados, sem sentir que amamos verdadeiramente?

Se chegamos ao fim sem nada, de que vale, então, viver? Apenas pelos outros? Como se vive apenas pelos outros e não por nós? Vivemos os sonhos dos outros? Tentamos alcançar o objectivo dos outros? Amamos os outros sem que eles o saibam? Isso é, também, viver?

Não tenho medo da morte. 
Nunca tive. Sempre encarei isso como um processo natural. Mas tenho medo, sim, de nunca mais acordar sem ter vivido em pleno. Disso tenho medo: de passar a vida a tentar ser feliz e de nunca o ser. 

Talvez seja isso a verdadeira morte em vida: tentar ser feliz e não conseguir. Porque nos cortaram as pernas, porque não nos dotaram de ferramentas para que pudéssemos ir atrás dessa felicidade, porque a própria vida se encarregou de matar todos os sonhos, ou, simplesmente, porque não fomos bafejados com esse condão de ser felizes. É claro que essa realidade é consequência do nosso próprio comportamento, do facto de nunca termos tido a capacidade de ultrapassar os medos, as inseguranças. De nunca termos tido a hombridade e coragem necessárias de dizer que Não! Não nos subjugaremos mais! E, a partir daí, a vida encarrega-se de nos dar uma importante lição: se a tua voz não se levantar na altura certa, nunca mais terás essa oportunidade.

E aí ficamos prostrados perante a vida. Não mais a tentar em sermos felizes, mas sim, só e, apenas, a ver a vida passar e, agora, a tentar imaginar como seria, se tudo fosse diferente...

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