A Ditadura da Monotonia do Tempo

É tudo tão cansativo.
É tudo tão cansativo e extenuante. E tudo piora quando não conseguimos, sequer, fechar os olhos... Fechar os olhos e ignorar tudo o que está à nossa volta, mas, também em nós mesmos, e deixar-mo-nos ir para o sono. Esse sono que, mesmo não sendo descansado, dá-nos a possibilidade de parar de pensar durante umas horas...

Eu só queria deixar de pensar... De pensar em tudo, de pensar nada, de pensar em todos e mais alguns... Na verdade, eu queria deixar de pensar em ti.

Mas, é tudo tão ofegante, tão esmagador, tão exigente, que não nos dá tempo de
recuperar. O tempo não nos dá tempo para parar e deixar de pensar. O tempo apenas nos pressiona para andar mais rápido, para não olharmos para trás, para seguirmos as nossas acções como autómatos, para tomarmos decisões com base naquilo que queremos, com base no nosso ego. O tempo apenas nos pressiona para seguir, independentemente daquilo que sentimos. Independentemente, de nos sentirmos capazes, de nos sentirmos completos, de nos sentirmos humanos. 

Seguimos a correr como se deixássemos de existir no segundo que se segue. Seguimos a correr porque somos obrigados, não só pela ditadura do tempo, como já aqui foi dito, mas também pela acção dos outros. Seguimos a correr, porque queremos ser como os outros, queremos seguir as modas, queremos seguir o modo de vida fácil, queremos ser uma fotocópia de quem está ao nosso lado. Tudo para que sintamos que pertencemos a qualquer lado, mesmo que não tenhamos tempo para aí estar, para conhecer, verdadeiramente, o outro. Apenas queremos seguir a correr para sermos iguais, sermos frívolos, sermos vazios.

E não será isso o melhor? Ser vazio? Para que raio queremos ter conteúdo se, depois, não sabemos o que fazer com ele? Porque razão queremos ter conteúdo se, depois, o tempo encarrega-se de nos tirar a possibilidade de usufruir desse conteúdo? De mostrar esse conteúdo ao outro? 

Ter a oportunidade de te mostrar, sim, a ti, esse meu eu. O eu que trago tão guardado mas, o qual, queria tanto que tu conhecesses...

O tempo tira-nos a vida, mas há algo que ele não consegue tirar: a capacidade de ter saudades.

Sim, porque eu tenho saudades tuas.

E sabes do que é que eu tenho mais saudades? De te ver, de te ouvir, de te admirar... Sinto tanto a tua falta... Sinto tantas saudades de te ver à minha frente e gravar na minha memória os teus gestos, as tuas expressões, em silêncio ou quando falas, o teu olhar... Tal como agora, que escrevo este texto, te consigo ver à minha frente. Como daquela última vez... Lembras-te?

É isso, também, que me retira a possibilidade de descansar. Mais vale voltar para o lugar de onde vim. A culpa foi tua. Eu estava quieta a aproveitar a monotonia da correria do tempo. Para quê isto tudo se, depois, nada posso fazer com isso?

Tenho vontade de encostar a cabeça na cadeira e fechar os olhos... Mas, espera. Não posso. Ainda tenho que seguir por outro lado. 

É tudo tão cansativo.
É tudo tão extenuante...

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