O Fatalismo das Decisões

A vida é feita de decisões. Passamos o tempo a fazer escolhas: em virar à esquerda ou à direita; se
vamos em frente ou recuamos; se falamos ou calamos as palavras; se entramos em qualquer lado ou ficamos cá fora... Um sem fim de decisões grandes ou pequenas que temos de tomar todos os dias. É cansativo. Pode não parecer, mas, por vezes, chega a ser maçador. Posso dizer com toda a certeza de que estou cansada de tomar essas decisões. Mais do que isso. Estou cansada de pensar. Sim, porque para decidir por alguma coisa devemos pensar. Eu, pelo menos, farto-me de pensar antes de escolher a minha próxima acção. 

Em diferentes ocasiões já ouvi as famosas frases: "pensar em demasia dá mau resultado"ou "devemos fazer aquilo que nos vem à cabeça". Confesso que me custa admitir isto, mas começo a acreditar que não há pensamentos mais correctos do que estes. Pensamentos ou formas de estar na vida, como lhe quiserem chamar. 

Quantos de nós não temos aquele amigo que classificamos como sendo um "ganda maluco" porque faz as coisas sem pensar, acabando sempre por lhe acharmos uma "certa piada". Eu não consigo ser assim, porém cada vez acho mais graça a estas pessoas. Se reflectirmos bem são eles que levam de bem esta vida porque estão sempre a fazer aquilo que todos nós gostávamos fazer: o que lhes dá na real gana.

E isso é libertador. Eu acredito que essa maneira de levar a vida é libertadora. A necessidade de escolher e de decidir está sempre lá. Quanto a isso não nos podemos iludir. As decisões são um fatalismo da nossa vida. Tal como nascemos e sabemos que vamos morrer a terceira certeza de que temos enquanto seres humanos é que as decisões fazem parte de nós. Portanto, se perante uma situação fizermos aquilo que nos é dito pelo nosso primeiro impulso isso não deixa de ser uma escolha. No entanto, a grande diferença em relação a uma decisão, devidamente ou excessivamente ponderada, é que essa é tão livre de tudo o que nos preocupa.

Acredito que o cansaço de decidir não se abate sobre os impulsivos. Porque são esses que realmente fazem aquilo que sentem. Se pensarmos em demasia sobre algo deixamos de sentir esse algo. Não estou a dizer que o pensamento é inimigo do sentimento, mas que na maioria das vezes ele se sobrepõe àquilo que realmente sentimos, disso, não tenho qualquer dúvida.

Estar, constantemente, a esmagar os nossos verdadeiros sentimentos arrasa qualquer um. Ficamos em verdadeiros frangalhos. E o que é ainda mais triste é o facto de nos habituarmos a isso. De nos habituarmos a ser esses frangalhos e a não esperar mais nada da vida. Quase que deixamos de sentir. É óbvio que sabemos o que é dor, o que é sofrimento, o que é a tristeza, mas também somos capazes de recordar o que é o amor, a amizade, a felicidade. E vive-se assim.

A razão de como chegamos a este estado é fácil de entender: o pior acontece. Ou seja, apesar de pensarmos bem nas nossas decisões o tempo acaba por nos mostrar que estas foram erradas, mesmo achando que tinha sido o melhor que tínhamos feito. É como se a própria vida nos tirasse o tapete do chão e nos deixasse cair. Assim, sem mais nem menos. E aí ficamos prostrados. A fazer de tudo para recuperarmos. E recuperamos. Mas, depois, fazemos uma outra escolha a pensar que "agora é que vai dar certo". No início até parece que sim. Ganhamos nova esperança, mas, novamente, e sem ser anunciado, somos atirados ao chão. Batemos com a cabeça, perdemos os sentidos. Eventualmente, acabamos por acordar e sabemos que temos de nos reerguer. Decidimos fazê-lo. Mas, voltamos a "pôr a pata na poça". E assim sucessivamente.

Até que chegamos a um certo ponto e paramos. Ficamos suspensos num fio muito fino e mantê-mo-nos aí. Sem darmos um passo em frente ou atrás. Porque sabemos que vamos cair. E isso também é um fatalismo da vida de alguns.

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