Os Valores são a nossa base, ou, pelo menos, deveriam ser...

Espanta-me cada vez mais a falta de consciência das pessoas em relação às possíveis consequências dos seus actos. Infelizmente, talvez por pensar que as coisas não são assim tão más, continuo a surpreender-me com este tipo de situações.

O engano é algo que me assusta. E quando me engano ninguém pode imaginar o efeito que isso causa dentro de mim. É certo que o engano faz parte de nós, do nosso dia-a-dia, da nossa vivência. No entanto, sempre me coloquei face ao engano da mesma maneira que me coloco em frente a um campo de silvas: faço de tudo para o evitar. Como o ser humano não é perfeito, é certo que se engana. É certo que nos enganamos. É certo que eu me engano. E perante essa situação posso ter três posturas: analisar o erro, corrigi-lo e, se possível, fazer de tudo para que numa próxima situação isso não aconteça; por outro lado, posso, simplesmente, ignorar e seguir em frente; posso ainda admitir o engano, ignorar as suas consequências e seguir com a minha "vidinha".

Sempre acreditei que é possível realizar uma obra com seriedade. Que é possível realizarmos os nosso sonhos com base em princípios e valores. Aquilo com que me deparei há muito tempo, e para minha tristeza, que quem quiser alcançar algo com base em princípios tem o seu caminho muito mais difícil. Começa logo pelo facto de termos consciência, porque, na minha opinião, só uma pessoa com consciência tem valores (isso são duas coisas indissociáveis). Isso vai permitir com que não passemos por cima de ninguém e, mais do que isso, vai fazer com que nos coloquemos sempre no lugar do outro que podemos influenciar com as nossas acções. Se pensarmos numa simples frase, que tantas vezes me foi dita em criança, "não faças aos outros aquilo que não gostas que te façam a ti", conseguiremos perceber um pouco o alcance que as nossas atitudes podem ter. E isso reflecte-se na nossa forma de viver, na nossa forma de trabalhar, na nossa maneira de amar. Essa é uma "regra" que se pode seguir em tudo aquilo que fazemos. 

É muitas vezes nessa frase, que pode parecer a muitos infantil e fora de tempo, pela qual me oriento no meu trabalho. Imaginemos, por exemplo, que amanhã escrevo um artigo em que afirmo com toda a certeza, recorrendo a fontes sérias, que o "Zé António" foge aos impostos e que tem uma conta nas ilhas Caimão. Essa noticia é chamada de capa, o meu jornal farta-se de vender. No entanto, dois dias depois, o Zé António exerce o direito de resposta e prova que o artigo é uma mentira. Aquilo que faço é também escrever uma nota a informar que, de facto, nada daquilo que escrevi no artigo era verdade e que lamento pelo Zé António. E pronto já está. Menti, pus em causa o bom nome de uma pessoa e safo-me com uma simples nota. A empresa fica contente à mesma: a publicação reconhece o erro, mas o valor que conseguiu arrecadar com a venda dos jornais dois dias antes já ninguém lho tira. Para mim, a pergunta que se impõe é a seguinte: se a notícia em vez de ser sobre o Zé António fosse sobre mim eu teria gostado? Teria sido óptimo perceber que estão a mentir sobre mim, a minha conduta pessoal, em praça pública?

A pressão, a vontade de vender e vencer, o impulso em sermos reconhecidos não podem ser mais fortes do que nos colocarmos na pele do outro e questionar-mo-nos: gostaria que fizessem o mesmo comigo? Seria tão bom que, pelo menos, a maioria de nós fizesse esse simples exercício. Teríamos, concerteza, uma sociedade mais digna. Uma sociedade mais instruída, uma juventude que se importa com aquilo que realmente é importante, uma comunidade que luta pelo seu bem estar com bom senso. Teríamos um mercado de trabalho competitivo e transparente e não o que temos agora: um mundo sujo e onde a mentira reina. Teríamos uma sociedade verdadeira e que faria o possível para, também ela, fugir ao engano, porque sabe que isso é pior que um campo de silvas.

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