Ser Invisível ou não, eis a Questão
Há uns tempos atrás tive uma conversa que nunca mais esqueci. Falávamos sobre aquele tipo de pessoas que parecem ser invisíveis. Aqueles homens e mulheres que estão sempre presentes e passam sempre despercebidos. "Ser assim deve ser extraordinário!", pensei na altura. Com um sorriso na face e a acreditar absolutamente naquilo cheguei até a dizer em voz alta que isso podia ser bom. Surpreendentemente, a pessoa com quem falava ficou muito séria a olhar para mim e, depois, simplesmente disse: "olha que às vezes não é nada bom". Terminámos a conversa por ali, mas aquela última frase sempre ficou na minha cabeça. Hoje, sem encontrar uma justificação minimamente coerente, as palavras dessa pessoa ecoaram na minha cabeça.
Primeiro, importa pensar nas pessoas que têm essa característica. Ou seja, as que são invisíveis. Não são pessoas meramente tímidas. Alguém pode ser tímido, mas isso não significa que não sejam visíveis. Essas são diferentes. Podem comparar-se àqueles objectos pelos quais passamos todos os dias e nem olhamos para eles. Aqueles objectos pelos quais não damos falta, mas um dia olhamos, por acaso, e reparamos que não está lá. Passou-nos ao lado. Sim... É isso. As pessoas invisíveis passam-nos ao lado. Servimo-nos delas quando nos dãor jeito e depois voltamos a deixá-las. Pode ser uma forma dura de as classificar, mas penso que, algumas delas se podem sentir assim. Podem revoltar-se com isso, tornar-se psicóticos e serem autores de crimes que nos podem parecer horrendos. E aí podemos questionar a nossa acção. Será que se tivessem alguém que realmente os visse eles seriam assim?
Tudo pode partir, também, do feitio das pessoas. Vejamos, nem todos aqueles que são invisíveis se tornam psicóticos. Podem aceitar essa condição. Podem aceitar viver dessa forma. Despojar-se de desejos pessoais e viver eternamente a sonhar. Serem aqueles que estão presentes sempre que necessário. Nunca dizem não. Tentam dar o seu melhor e não conseguem deixar de ajudar. Quando estão tristes, estas sofrem em silêncio e sorriem para todos os outros. Ninguém se vai preocupar com elas. Poucos vão olhar no fundo dos seus olhos e dar-se conta desse sofrimento. Essas pessoas invisíveis são completamente independentes. Elas não se sentem no direito de pedir ajuda. São elas que ajudam, não o contrário. Nunca mostram as suas fraquezas e mesmo que o façam, ninguém se vai dar conta. Agem como se vivessem num ciclo vicioso: não mostram a sua essência, porque não suscitam interesse nos outros. Senão suscitam interesse nos outros, então vão estar sempre a guardar para si aquilo que são.
Acredito que estas pessoas são especiais. Afinal, o que seriam dos outros se nao as tivessem? Talvez essa seja a forma de pensar que os fazem seguir e continuar a sua existência invisível. Ninguém os vê, a solidão está sempre com eles. Não sabem o que é encostar a cabeça no ombro de alguém. São diferentes de todos os outros, mas, pelo menos, podem ajudar.
Agora, pensando novamente, na resposta daquela pessoa, há tanto tempo atrás, é verdade. Ser invisível pode, por vezes, tornar-se devastador.
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