O Engano do Acto de Culpar
Bate de chapa na nossa cara.
Não fomos dotados.
A culpa não é de ninguém. Nem é de nós próprios.
Simplesmente, mão fomos moldados para isso. Por mais que tentemos...
Mas o Ser Humano é curioso.
Quando nos damos conta de que não fomos dotados para alguma coisa, a primeira tentação é culpar alguém: "A culpa de isto me estar a acontecer é de fulano tal" ou "fulano tal está a tramar-me! Ele é um sacana!".
Conseguimos culpar esse "fulano tal" vezes sem conta. Falando claramente do contexto profissional, pode acontecer que, por coincidência, estejamos rodeados por pessoas que não sejam de confiança, complicadas e desonestas. No entanto, como não fomos dotados para tal função, quando essas pessoas deixam de afectar o nosso trabalho, essa falta de talento persiste. No início, podemos não dar conta, mas a verdade, é que isso acontece. Talvez por nos sentirmos mais livres, por sentirmos que não estamos sobre tanta pressão, olhamos para o nosso ofício como algo que gostamos. Aliás, tudo parece correr melhor. Aquele "calhorda" que nos consumia já não limita a nossa liberdade mental e de movimentos.
Então, o tempo passa.
Vai passando.
Temos tudo para nos levantarmos de manhã, com a certeza de que o dia vai correr bem. Que podemos fazer a diferença. Podemos ser criativos.
Porém, ao fim de algum tempo dessa liberdade damos conta de que isso não acontece. Não há motivação, não há gosto, não há curiosidade. É aí que reprimimos todos esses pensamentos, os sentimentos e a sensação de falhanço com que ficamos. Não queremos acreditar que estamos, novamente, a pensar nisso. A sentir-mo-nos um ser completamente inútil.
Continuamos com a nossa vida, com as nossas actividades.
Mas, por mais que recalquemos esses pensamentos e sensações, mais cedo, ou mais tarde, eles sobressaem. Vêm ao de cima, vêm à tona. À tona desse mar que é o nosso ser.
Quando nos apercebemos que não somos capazes de recalcar isso, a nossa primeira reacção é olhar para o lado e culpar alguém. Incutir no outro isso. Tristemente, já não temos ninguém que sirva de bode expiatório.
E é aí.
Nesse preciso momento.
Bate de chapa a certeza de que não somos dotados para fazer alguma coisa. Admitir isso é difícil. Jogamos com essa certeza, tentando fugir dela. Mas essa certeza acompanha-nos sempre, porque está no nosso íntimo e faz parte de nós.
A quem lê este texto, peço que me permita a ousadia de apenas deixar um simples conselho: quem tem alternativa, um outro objectivo de vida para o qual pensa que pode ser dotado, tente. Tente atingi-lo. Tente a sua sorte com todo o seu ânimo e força, sem esquecer tudo o que aprendeu com esta experiência, para o qual não era dotado.
Quem não tem objectivos que se agarre. Que se agarre a algo que tenha sido permanente e que nunca o tenha deixado para trás... Essa é a única forma de sobreviver.
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