Exigências

Há vários tipos de exigências. Há aquelas às quais não conseguimos fugir. Porque elas estão lá, criadas pela nossa profissão, por exemplo, à espera que nós as consigamos cumprir. Se não conseguirmos dar conta do recado há consequências. No caso do trabalho, podemos ser ultrapassamos e simplesmente dispensados. Se formos os nossos próprios patrões o mais provável é vermos o nosso negócio a desaparecer, porque não fomos capazes de responder às exigências de mercado, da economia, enfim... de tantas outras matérias.

Depois há aquelas exigências que nos dão um certo gozo. Elas estão lá, a clamar pela nossa atenção e, por vezes, tornam-se em vozes a gritar por nós. Mas nós gostamos daquilo. Gostamos de sentir o desafio e isso faz com que nos desafiemos a nós próprios para conseguir corresponder a essas exigências. Esforça-mo- nos, gastamos horas focados nelas, construímos artimanhas para lá chegar, porque o nosso objectivo é, precisamente, responder a essas exigências e, quem sabe, sermos melhor do que aquilo a que elas nos obrigam.

Mas existem outro tipo de exigências que nos cansam e fatigam. Caímos por terra, por nunca conseguirmos responder da melhor forma a essas mesmas exigências. E, é aqui, onde podemos encontrar situações complexas, porque, de tanto nos exigirem, ficamos exaustos. 

Ao início, tentamos corresponder e, por vezes, até conseguimos. Mas o pior é quando essas exigências são contínuas, todos os meses, todas as semanas, todos os dias, todas as horas, todos os minutos, todos os segundos. Tanto que, muitas das vezes, até nos conseguimos habituar a essas exigências. Quase que adivinhamos quando nos vão cobrar alguma coisa, porque, afinal de contas, elas são assim. Até pomos isso na cabeça. No caso das pessoas que se tornam nessas mesmas exigências, pensamos que elas são assim, é o seu feitio e que apenas temos de lidar com ele. Conseguimos manter essa ideia fixa durante um certo período de tempo, sem essas pessoas terem sequer a noção de que estamos a fazer isso por elas.

Chego, finalmente, à conclusão, de que o ser humano é imprevisível. No sentido em que as consequências dessa nossa "aceitação" virão sempre ao de cima, mais cedo ou mais tarde. A verdade, é que nunca pensamos que isso vai acontecer.

Sempre a tentar correr para chegar às exigências de terceiros, com o passar do tempo, começamos a questionar-nos. O problema é que nos sentimos mal connosco próprios. Pensamos que estamos a ser egoístas. Temos de passar por cima do nosso cansaço para corresponder a esses "pedidos" dos outros. Eles não têm culpa de estarmos exaustos. Temos de ser mais compreensivos.

No entanto, isto muda. Olhamos para o lado e vemos as coisas a acontecerem e a vontade em corresponder a exigências perde-se. E a questão: "Servimos para quê?" aparece. E, nunca mais se desvanece, como tantas vezes desejamos. Sabemos que as coisas não estão bem, mas as exigêncas pouco querem  saber. Apenas querem continuar a marcar presença e, é nesse preciso instante, que a exaustão se apodera de nós e nos esquecemos de quem é outro que faz essas exigências. E desistimos. DESISTIMOS. Estamos fartos. 

Fartos dessas exigências que não desaparecem; da falta de compreensão; da falta de uma mão que nos suporte o pensamento rude e vão contra aquilo que não conseguimos mudar. Estamos fartos do espaço mental que essas exigências necessitam. Fartos, cansados e desiludidos, porque essas exigências não desistem. Estão sempre a morder-nos o pé, como um cão rafeiro que nos quer rasgar as calças e deixar-nos nus, no meio da estrada, porque apenas quer satisfazer a sua rebeldia. 

É o que acontece com estas exigências: apenas querem ver-se satisfeitas e deixar-nos ao frio, no meio da noite, a tentar sobreviver durante horas a fio até alguém nos estender a mão e, finalmente, nos cobrir a alma. Nem que seja pelo simples modo de nos deixar apoiar as nossas palavras de revolta e tristeza. Alguém que fique e que, mesmo não estando sempre ao nosso lado, permaneça connosco e nos ajude a manter de pé e a encontrar o caminho de volta para casa.


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