Ele não está só

A noite tinha caído por completo. Apenas a luz do quarto dava conta da vida que ainda existia naquele quarto. Perto da janela, por entre os cortinados, ele olhava para a rua. Um completo silêncio preenchia o tempo, as folhas das árvores remexiam ao sabor do vento.

Fechou os olhos. Que saudades. Que imensas saudades ele sentia. Estava completamente preenchido por este sentimento, que o fez sorrir. Quase que o fez acreditar que ela ali estava. À sua frente, no seu estilo descontraído e a esboçar um sincero sorriso ao vê-lo ali encostado. Tal como já tinha acontecido vezes sem conta. Essa imagem acalmou-o. Foi como se soubesse que ela continuava com ele. Mesmo estando longe, essa era a realidade. Para sempre, ela estava consigo, fazia parte de si, do seu pensamento e de todo o seu corpo. Esse era o seu alento: ele sabia que nunca estava sozinho. E naquele momento, essa era a certeza que a imensa saudade lhe deixava.

Abriu os olhos e deixou que o seu olhar azul caísse sobre o seu quarto. Por esta hora, Ana estaria com alguém que ama. Sentiria que nunca estaria sozinha. Talvez como ele nunca a tinha feito sentir. Mas toda a sua vida ele queria ter dito que estaria sempre com ela, mas nunca encontrou a forma certa de o dizer. 

De repente, algo caiu. Um barulho suave, mas que parecia um estrondo àquela hora da noite, no tempo do descanso dos ouvidos. Sem esperar muito corre para perceber o que tinha acontecido: um livro caído. A pequena Emília não conseguia dormir. Jorge chegou perto dela, aconchegou-a e sussurrou uma pequena canção. Emília sorriu. Ai! Como ela tinha um sorriso igual ao da mãe. Passou a mão pelo seu rosto e continuou a trautear a canção que só eles os dois conheciam.

Sentiu que Emília era o seu maior tesouro. Algo que nunca poderia deixar para trás. Ela era a certeza de que estaria sempre com Ana. Sempre que olhava para a filha tinha a certeza de que tudo tinha valido a pena. Tudo valia a pena para lhes poder dar paz. Tanto a Emília como a Ana. 

Anos antes, Jorge não acreditava que a felicidade era possível longe daqueles que nos completam. Mas agora percebia que sim. Era um sentimento diferente, é certo. Mas saber que as pessoas que mais ama estão bem também lhe proporcionava a calma e serenidade. Porque se elas fazem parte do seu ser e se estão em paz, como é que ele não poderia estar?

O seu amor está guardado em si e em segredo. E para sempre assim vai continuar. Porque tendo-o tão entranhado em si, essa é a certeza de que permanece vivo.

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