No fim do Dia

Percorro as ruas de Lisboa.
O final de tarde já chegou e as pessoas apressam-se para chegar a casa. Uns com os filhos pela mão, outros com os/as namorados/as e outros sozinhos.
Admiro as pessoas que estão na sua normalidade.
Admiro aquelas que não se importam com o que os outros pensam.
Admiro ainda aquelas que fazem o que for preciso para serem felizes, para estarem bem consigo mesmas. Essas pessoas têm muito valor e às vezes são aquelas que a hipócrita sociedade mais recrimina: pela sua maneira de falar, ou de vestir ou de agir.
De repente, sinto um desejo enorme de ser como eles. De ter a coragem suficiente para fazer o que quer que seja que me apeteça. Desligar daquilo a que o mundo me obriga. Desligar daquilo que os outros dizem.

Páro na rua.
Fecho os olhos e penso em ti.
Começo a ver todos os traços da tua face. A cor dos teus olhos, o teu sorriso, os teus gestos, a tua alegria.
Só quero estar assim. Com esta imagem...

Deixem-me estar assim...
Só mais um momento...
Só mais um segundo.

Sim, agora estou a ver-te por completo. Calma. Fazes-me bem.
Sinto o sossego. Há tanto tempo que não te sentia. Esta calma... 

Esperem! Não me puxem!

Deixem-me sentir isto só mais um bocadinho. Talvez assim consiga manter este bem estar quando vocês me romperem a mente e o corpo. Diz-me que vais ficar sempre aqui, sim? Talvez o que venha aí não me custe tanto. Também sentes a minha falta?

Abanões.
Encontrões.
Gritos.

Abro os olhos. Desapareceste.
Onde foste? Espera! Consigo sentir-te. Ainda. Onde é que ela está? A calma...
Ah! Essa calma que me trouxeste, ainda a tenho comigo.

Mais gritos.
Mais exigências.
Mais erros.

Serei uma farsa? Não valho nada? Não. Isso é mentira. Foste tu que vieste ter comigo.
Deve ser porque gostas de mim e de estar ao meu lado.
Procuro a tua calma. Ah! Afinal, ainda trago um pouco do bem que me deste.

De repente, uma chapada.
Um murro.
Uma rasteira.
Caio sobre os espinhos.


Estou na realidade. Percebo tudo.
Engaste-te a meu respeito... Não sou o que pensas.
Deverias ter conhecido alguém melhor. Alguém que seja como tu. Que tenha a coragem de pôr tudo em causa, desatar-se das amarras que nos prendem e gritar ao mundo.
Fui um erro, não sou? Desculpa. Mas prometo nunca mais te chamar.

Uma paulada na cabeça.
Cospem da minha cara.
Um tiro no peito.

Agora todas as coisas boas que vivi me vêm à memória.
Noto que foste o melhor que tive. Sei que para ti não tenho valor. Tiveste outro interesse em mim. Temos interesses diferentes. Mas acabei de te eleger como a maior dádiva que tive.

Fecho os olhos.
Páro de pensar.
Adormeço na tentativa de amanhã acordar.
E aí voltar a ser uma pessoa igual a todos os infelizes.
Continuarei presa ao que me faz sofrer. Mas com a certeza de que por uma vez eu te encontrei.

Vageio pelas ruas na ânsia de te encontrar.

Imagino o acaso, mas a realidade não se vai tranformar.
Ergo-te no meu intimo, para em ti me louvar
Tapo os olhos na multidão, para por ti chorar.

Comentários

  1. A beleza e o ódio das palavras, confundem-se com o fio da navalha que tantas vezes queremos separar. Um olhar cuidado que nos transporta para um mundo, infelizmente bem real. Apesar da rudeza de algumas palavras, a inocencia do teu olhar, traz-nos uma nova esperança que podemos sempre fazer sorrir alguem mesmo que esse alguem não nos faça sorrir... E isso é a vida a dar-nos uma lição.

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