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Boa Sorte, Menina

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O cansaço das pernas fazia-me andar mais devagar do que devia. Mas, naquela altura do percurso fico sempre cansada e as pernas pesam-me, o que me faz não querer saber se levo mais dez minutos a chegar a casa.  Vejo, no meio da rua, um homem que cambaleia. Bem sei o que é. É fim de tarde, por aquelas ruas há alguns cafés e é mais do que comum que alguns comecem a cambalear pela rua inebriados pelo álcool. Alguns falam alto, outros não dizem nada. Hoje, a rua só o tinha a ele. Parece-me velho, o cabelo é branco, magro e veste um fato, já com a gravata meio solta. Este tipo de coisa já não me surpreende ou amedronta. Assim que me aproximo oiço-o a fazer um barulho estranho, como se estivesse a chamar alguém, mas não era bem um nome, parecia um autêntico grunho. Não liguei nenhuma. Assim que passo por este homem oiço "Boa Sorte, Menina" e outra vez aquele grunho. Nem sequer virei a cara na sua direção. É verdade. Poderia ter-lhe agradecido ou ter feito um simples gesto com a mão...

Tenho Saudades Tuas

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Tenho saudades tuas. Das tuas palavras cruas. Das tuas mãos nuas. Tenho saudades de te ouvir. De te cobrir. De te sorrir. Tenho saudades de te falar. De te fazer suspirar. De me fazeres levitar. Tenho saudades da tua voz. Da tua teimosia atroz. Da tua paixão feroz. Tenho saudades de te tocar. Da tua face acariciar. Do teu cheiro me impregnar. Tenho saudades da tua doçura. Da tua frescura. Da tua loucura. Tenho saudades de te fazer rir. De te descobrir. Da tua luz me cobrir. Tenho saudades de te sentir. De me iludir. De me confundir. Tenho saudades da tua leveza. Da tua fraqueza. Da tua ímpar subtileza.  Tenho saudades de te amparar. De na tua mão agarrar. De a ti me dar. Pintura: "Missing Her Beloved" de Abbey Altson

"A Paixão Pode Aumentar Com o Tempo"

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A pergunta que tinha saído nas cartas era simples: já se apaixonou? Como foi? Era claro que o propósito era refletir sobre paixão. Um tema que considerei curioso, principalmente porque acompanhava uma sessão de trabalho com seniores. Estavam todos reunidos, em roda, a realizar esta dinâmica.  "A paixão pode aumentar com o tempo". Foi esta a resposta de um dos participantes, com mais de 70 anos, creio. Concerteza que esta foi uma das coisas mais bonitas que ouvi dizer nos últimos meses. No meio desta declaração alguns dos presentes mostraram surpresa no rosto e, pareceu-me, outros quiseram contrapor esta ideia. Mas, o dito senhor explicou. "Quanto mais velhos somos, vamos dando mais atenção a outras coisas e a paixão inicial pode aumentar". Fiquei embevecida a olhar para o senhor. Tive vontade de o puxar para o meu lado e de ficarmos ali os dois para que eu pudesse perceber como é que alguém vê a paixão desta forma tão pura e honesta. E, diria até, idílica.  É mais d...

Falta de Ti

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Tenho uma falta de ti que me corrompe  e no meu coração irrompe. Tenho uma falta de ti, Não a consigo descrever Não encontro as palavras para a escrever. Tenho uma falta de ti, uma tristeza profunda o meu corpo inunda. Tenho uma falta de ti Que não consigo compreender Muito menos esquecer. Sinto uma falta de ti Que não consigo conceber Nem encobrir ou esconder. Sinto uma falta de ti que me abalroa, destrói e na cabeça ecoa. Sinto uma falta de ti, de cabeça atordoada de alma magoada. Sinto uma falta de ti Aos outros inexplicável para mim inimaginável. Sinto uma falta de ti que ao meu ser afaga e que devagar me esmaga. a dor de não te ter e a mágoa de não te ver ressoam no meu ser no meu canto o corpo a encolher como se do mundo me quisesse proteger perdida, a descer por um muro que não me deixa vencer, cansada de tanto fazer para a falta de ti deixar de ter. -- Imagem:  "La Scapigliata" de Leonardo da Vinci

Carta a Ti

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Tenho pensado muito em ti. Não te consigo dizer porquê, mas a tua imagem tem estado muito presente. Não é que não o esteja noutras alturas. Mas, ultimamente, é como se teimasses em aparecer sistematicamente. Às vezes é inesperado outras vezes nem tanto. Principalmente, quando, por mero acaso, toca aquela canção... Ou quando te fazem referência sem eu perguntar, sabes?  Oh, como poderás sabes, tu já nem sabes que eu existo. E ainda bem. Convivo bem com isso. Tenho muita pena de mim mesma por não me conseguir despegar assim de ti, para mim foi sempre mais profundo, mesmo sem eu própria me dar conta disso. Também estás na minha imaginação, sabes? Para mim, a imaginação sempre foi o meu refúgio. É tão bom poder fechar os olhos e criar a nossa realidade, onde se é feliz. É mesmo bom, sabias? Mesmo que seja por um pouquinho de tempo, por vezes, é um descanso... Diria mesmo que é um alívio. Se pudesse vivia a imaginar. É uma tolice, mas a minha imaginação é tão mais bela e cheia de vida d...

A Menina à Janela

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Tinha acabado de chover quando passei pela mesma rua que me faz recordar-te e pela qual ando tantas vezes. Num dos prédios cinzentos, no rés do chão estava uma menina, encostada ao parapeito da janela, que olhava em frente. Talvez estivesse a contemplar os montes de folhas caídas junto aos carros ou as inúmeras poças de água que se formaram naquela estrada de alcatrão esburacado. Não sei o que a menina estava a ver, mas, automaticamente, fiquei com a sua imagem na cabeça. Antes, quando via crianças não pensava em nada de especial, apenas que a sua ingenuidade era engraçada e que era preciso dar-lhes educação e conhecimento. Hoje, penso sempre "Deus queira que seja feliz". A felicidade é subjetiva, bem sei. O que a mim me pode fazer feliz não é o mesmo para o outro. No entanto, eu sei que há um sentimento que é capaz de ser transversal a todos no que toca à felicidade. O amor.  Quando eu era uma menina ouvia sempre em casa os mais velhos a dizerem uns aos outros: "o impor...

Numa Outra Vida

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São muitas as vezes em que penso como seria maravilhoso se, realmente, tivéssemos vivido outras vidas noutros tempos. É um pouco apaziguador imaginar-se isso: como seria a nossa vida passada? Eu gosto de imaginar que numa das minhas vidas eu estive rodeada de arte. Talvez tenha crescido numa pequena vila onde as casas são coloridas, dividida por um rio, com monumentos antigos e com os quais aprendi a conviver. Sempre curiosa para saber a sua história, a sua origem, a razão de existirem. O ar é inundado de cheiros doces no inverno e frescos no verão como se a própria gastronomia se adaptasse à mudança do tempo. Concerteza que vivi uma época com conturbações sociais. Tenho a certeza disso assim como tenho a certeza de que fui capaz de defender aquilo em que acreditava: uma maior justiça no mundo, mais empatia, mais igualdade de oportunidades, mais solidariedade. Deus... Tenho mesmo a certeza que na minha outra vida fui capaz de defender a minha, a nossa, liberdade. Não sei bem de que for...